Recado aos pais que sofrem de ansiedade por deixar os filhos sós
Procurem ajuda profissional se essa angústia de separação causar um enorme transtorno e sofrimento à própria criança.
Querida Mãe,
Enquanto saía do aeroporto, depois de ter deixado as minhas filhas de 12 anos, para partirem numa viagem com a tia, e sem mim, não senti uma migalhinha que fosse de aflição, ou preocupação. Pelo contrário, só orgulho por elas, mas acima de tudo uma vontade gigante de telefonar a todas as mães do mundo que neste momento estão sentadas numa festa de anos de crianças porque o/a filho/a não as deixou ir embora; a todas as mães que se levantaram à meia-noite para ir buscar um dos miúdos a casa de uma amiga, porque ficou subitamente com insuportáveis saudades; a todas as mães que estão a cravar as unhas na palma da mão para não chorar quando à sua volta comentam “Esse é mesmo agarradinho às saias da mãe"!
E, também, de ligar aos pais que têm filhos mais ansiosos e que acordam 20 vezes à noite só para confirmar que não estão sozinhos; pais que tinham tudo combinado para um cinema, mas que não conseguiram ir porque a angústia de um deles era tal que a própria babysitter se recusou a ficar.
A todos esses pais queria dizer:
Juro que tudo isso vai passar. Continuem a tentar, lentamente, continuem a aproveitar as oportunidades, mas não se aflijam, porque não estão a fazer nada de mal quando decidem (ou desistem) de forçar, recompensar ou castigar os vossos filhos que têm dificuldade em separar-se de vocês.
Procurem ajuda profissional se essa angústia de separação causar um enorme transtorno e sofrimento à própria criança que, muitas vezes, é a primeira a querer conseguir ultrapassar o obstáculo, mas não se culpem.
E não sucumbam ao desespero de pensar que vai ser sempre assim. Digo-lhes eu que passei anos nessas situações (e, por vezes, ainda passo), mas que agora estou a deixar as minhas filhas no aeroporto para uma viagem sem mim, sem lágrimas, nem desesperos, só com entusiasmo e alegria!
Querida Ana,
Espero que esta tua carta chegue a esses pais, porque precisam tanto de a ler.
Só confiamos nos conselhos de quem passou pelo mesmo do que nós, e já vai mais à frente no caminho. Por muito paleio que exista em redor da parentalidade, continuamos a imaginar que as crianças são todas iguais, iguais às nossas, claro. E, invariavelmente, que as nossas receitas servem a todas.
Se tivéssemos mais confiança no nosso trabalho, seriamos mais capazes de dar tempo ao tempo.
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.