Estaremos todos a fazer casting para o Velocidade Furiosa?
O Zé Tuga não conduz bem e acha que é o Vin Diesel da película Velocidade Furiosa. Será que foi por esse motivo que o realizador escolheu um cenário luso para gravar o 10º tomo da saga?
“Sai da frente, ó ...”, escutei há dias, numa fila de trânsito, que não atava nem desatava. Um bicho colocou a cabeça fora da viatura, dirigindo-se a um senhor, que demorava em iniciar a marcha face à mudança do sinal vermelho para verde. E lá foi ele, o bicho, a 140km/h, numa estrada nacional.
Excesso de velocidade, velocidade excessiva, falta de civismo, falta de educação, incumprimento das regras vigentes, desrespeito pelos sinais de trânsito e até pelas forças policiais, é o que vemos nas estradas portuguesas. Assim é difícil. O Zé Tuga não conduz bem e acha que é o Vin Diesel da película Velocidade Furiosa. Será que foi por esse motivo, percebendo a realidade dos portugueses, que o realizador escolheu Vouzela e outras localidades lusas para cenário de gravação do Velocidade Furiosa 10?
“O que está a acontecer nas estradas portuguesas?”, alerta a mais recente campanha da ANSR – Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, num spot televisivo que indica que, “a este ritmo, 600 pessoas vão perder a vida até ao fim do ano: a próxima será um filho, um amigo, uma pessoa que amamos”. E por isso apela: “viaje sem pressa, sem álcool, sem telemóvel; dê prioridade à vida”.
Em média, na última década, 650 pessoas perderam a vida por ano e mais de 2000 ficaram gravemente feridas. Na operação Páscoa deste ano, a GNR sinalizou 15 mortes e a PSP três. O que se passa nas estradas portuguesas é grave. E, se em alguns casos podemos culpar as estradas (o IP3 é o exemplo mais flagrante e explosivo), na maioria dos desastres trágicos, a incúria humana é fator primordial.
Não se respeitam as distâncias entre veículos, não se ‘calculam’ as ultrapassagens. Fala-se ao telemóvel, escreve-se mensagens, acelera-se em estradas nacionais como se se estivesse na autoestrada. Portugal é um território, onde os turistas oriundos de países como a Suíça ou a Holanda não se sentem seguros em conduzir. “You, portuguese people, drive like maniac!”
Estarão os métodos de aprendizagem ultrapassados? Será que o problema é de raiz, quando se entra numa escola de condução? Será que estamos a ser pouco exigentes com a formação? Certo é que há qualquer coisa que se transfigura no português, quando agarra o volante, conduzindo rápido demais e mal. Um país da nossa dimensão ter um número de mortes por acidente rodoviário tão elevado, exige ação. Mais radares? Maior vigilância? Multas mais elevadas?
O pé tem de ser colocado no travão, sem esquecer que muitos dos que sobrevivem na estrada são feridos graves, com sofrimentos atrozes e consequências para o resto da vida. Ninguém quer morrer na estrada, mas parece que todos se estão a borrifar.
A este propósito, dava jeito, enquanto se discute a localização de mais um aeroporto, que o Governo olhasse para os nossos acessos no interior do país, para estradas mortais como o IP3 ou a Estrada Nacional 229, no Sátão, ou ainda para a velhinha e deteriorada Nacional 17 (Estrada da Beira).
Nós, os do interior, temos há largos anos um IC6 inacabado. Com início no IP3, em Penacova, está pensado para ligar Coimbra à Covilhã, mas morreu ali, em Tábua, apesar das constantes e cínicas promessas em campanhas eleitorais. Morrem as estradas e morrem as pessoas.