“No vinho, o desafio é descobrir uma ligação emocional com quem nos identificamos”

Decidi escolher dois vinhos brancos de dois produtores que adoro: Álvaro de Castro e Mário Sérgio. Projetos cujo percurso, tal como o meu, foi influenciado pelo Amor à Terra...

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Mário Sérgio, da Bairrada, é um dos produtores que a também produtora e enóloga Sandra Távares da Silva destaca na rubrica "O Vinho dos Outros" Nelson Garrido

Escolher apenas dois vinhos que nos impressionaram nos últimos tempos não é fácil, pois o setor dos vinhos é tão dinâmico, com tantos novos produtores e vinhos fantásticos, que estão sempre a surpreender!

Mas decidi concentrar-me em legados de Família, isto é, em projetos cujo percurso, tal como o meu, foi influenciado pelo Amor à Terra... é um sentimento um pouco inexplicável, mas quando crescemos, plantamos, acompanhamos e sonhamos com um pedaço de Terra, criamos raízes muito fortes, que não conseguimos desligar mesmo em situações difíceis e com muitos desafios inimagináveis..., mas tudo vale a pena!

Daí ter decidido escolher dois vinhos brancos de dois produtores que adoro: Álvaro de Castro e Mário Sérgio.

Álvaro de Castro é uma pessoa incrível e fascinante, engenheiro civil de formação, mas nunca exerceu a profissão. Decidiu tomar conta das propriedades de Família, que de outra forma teriam sido vendidas. Assim, Álvaro assumiu a Quinta da Pellada no Dão em 1980 sempre com o fascínio de criar vinhos que representassem a identidade da sua Quinta com expressão própria. Situada a cerca de 500 metros de altitude, com solos graníticos, envolvida por três maciços montanhosos e cercada por florestas, é um lugar especial com características únicas para criar vinhos fantásticos.

A minha escolha recaiu no Quinta da Pellada Primus 2021, um vinho lançado recentemente, feito a partir de vinhas com cerca de 70 anos e mais de 19 castas misturadas, Encruzado, Cercial, Bical, Verdelho, Malvasia, Terrantez, etc... Fermentado em barrica, estagiou em ovo de cimento com as borras finas e é um vinho muito elegante, sofisticado, com uma presença vibrante de mineralidade, textura e acidez. Tem um PVP de 41 euros.

Mário Sérgio é especial, sempre disponível para ajudar, generoso e genuíno. O seu sonho de criar vinhos por métodos tradicionais, com enorme identidade das suas vinhas, tem sido um exemplo de que vale a pena lutarmos pelo nosso legado. São quatro gerações a criar uvas e vinhos com enorme expressão do Terroir da Bairrada. Vinhos com intervenção mínima, com enorme carácter e longevidade.

Escolhi o Pai Abel 2020, pois é um vinho ao qual não ficamos indiferentes, tal é a sua enorme personalidade. Produzido a partir de Bical e Maria Gomes, é aromático e elegante, mas também intenso, com excelente textura, volume e uma acidez fina.

É vinificado de bica aberta e colocado em pequenos decantadores de 1 metro cúbico, onde permanece entre 24 e 36 horas para efectuar uma decantação natural. A fermentação ocorre em barricas usadas de carvalho francês. Tem um PVP de 38 euros.

São dois vinhos especiais que refletem bem os valores, sentimentos e respeito pela origem e vinhas! Muitas histórias, paixões, missões e legados estão por detrás de cada garrafa de vinho... o desafio é descobrir e criar uma ligação emocional com quem mais nos identificamos! Um Mundo fascinante a explorar!

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico. Este artigo é publicado no âmbito de um desafio lançado pelo Terroir a vários enólogos para escreverem sobre O Vinho dos Outros

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