Negligência em Faro: médica queixou-se directamente à PJ por haver “crime” e por não confiar nas chefias
Diana Pereira foi ouvida no Hospital de Portimão no âmbito do inquérito interno instaurado pelo Centro Hospitalar Universitário do Algarve.
A médica que denunciou alegados casos de erros e de negligência no serviço de cirurgia do Hospital de Faro explicou esta terça-feira que decidiu apresentar queixa directamente na Polícia Judiciária, sem o fazer antes às suas hierarquias directas no hospital, porque considerou estar perante um crime. “Trata-se de um crime e, como tal, deve ser investigado por quem tem essa competência”, disse depois de ter sido ouvida no âmbito do inquérito interno que lhe foi movido pela direcção clínica do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA).
Quanto às chefias hospitalares, reforçou a sua falta de confiança. “Não denunciei os casos aos superiores hierárquicos porque não tenho confiança de existir vontade de mudar”, justificou, quando questionada sobre a razão de procurar uma entidade externa para investigar o caso.
A médica Diana Pereira denunciou 11 alegados casos de negligência no Hospital de Faro e foi esta terça-feira ouvida pelo instrutor do inquérito interno, o cirurgião sénior do Hospital de Portimão, Mahomed Americano, na sequência das denúncias por alegadas más práticas médicas na cirurgia, serviço onde efectuava o internato médico. Em três desses casos, diz a médica, ter-se-ão verificado mortes. Por seu lado, a Ordem dos Médicos nomeou uma comissão de peritos para investigar as alegadas práticas de negligência.
À entrada para a unidade e quando confrontada pelos jornalistas com o anúncio de que um médico e o director do serviço de cirurgia geral do Hospital de Faro iriam avançar com um processo de difamação, a médica indicou que também os iria processar.
No final da audiência, Diana Pereira, acompanhada pelo advogado Francisco Teixeira da Mota (também advogado do PÚBLICO), disse aos jornalistas que espera que as averiguações dos casos denunciados “decorram o mais rapidamente possível, para poder continuar o internato médico”.
Diana Pereira disse não ter vontade de continuar no serviço de cirurgia do Hospital de Faro, admitindo vir a ser colocada noutra unidade de saúde do centro hospitalar algarvio. “Não tenho vontade de continuar em Faro, mas o centro hospitalar tem mais unidades e pode ser que, entretanto, fique colocada numa delas”, sublinhou.
Na opinião do causídico, o que está em questão neste processo “é o bem-estar dos doentes”, porque é uma denúncia feita “para proteger a saúde pública e a saúde das pessoas” que vão ao Hospital de Faro. “A dra. Diana Pereira corajosamente declarou perante as entidades e autoridades aquilo que entendia que estava incorrecto, correndo todos os riscos”, notou. “Esta é uma denúncia feita para proteger o bem-estar dos doentes, a saúde das pessoas que vão ao hospital de Faro.”
Diana Pereira acrescentou que na audição com o cirurgião Mohomede Americano foram abordados os 11 casos denunciados, “tendo reiterado todos os casos, com perguntas em particular para cada caso e apontando testemunhas”. A médica disse também que não foi ainda ouvida pela comissão técnica independente nomeada pela Ordem dos Médicos, pela Polícia Judiciária ou pelo Ministério Público.
A médica Diana Pereira, que se encontra de férias, pediu a suspensão do internato na unidade depois de ter apresentado queixa na Polícia Judiciária sobre 11 alegados casos de erros ou negligência ocorridos naquele serviço, entre Janeiro e Março. Com Lusa