Strange Way of Life de Pedro Almodóvar vai ter estreia em Cannes
O título da curta, um western com Ethan Hawke e Pedro Pascal, é inspirado no fado de Amália Estranha forma de vida: quando viramos as costas ao desejo.
Strange Way of Life, o western rodado no sul de Espanha que é a segunda experiência de Pedro Almodóvar em língua inglesa, depois de A Voz Humana, vai ser apresentado em estreia mundial durante a 76ª edição do Festival de Cannes (de 16 a 27 de Maio). Almodóvar e os dois intérpretes principais, Ethan Hawke e Pedro Pascal, disponibilizam-se para um encontro com o público a seguir à projecção da curta-metragem. Cujo título é inspirado no fado de Amália Estranha Forma de Vida, uma filiação que o cineasta espanhol explica assim no comunicado de imprensa tornado público pelo festival: "A estranha forma de vida a que faz referência o título é uma alusão ao célebre fado de Amália cuja letra sugere que não há existência mais estranha do que aquela que se vive quando se vira as costas aos próprios desejos".
Para se compreender essa afirmação, deve dizer-se que há outra linhagem presente em Strange Way of Life: o filme Brockeback Mountain, a história de amor entre dois cowboys. Almodóvar teria sido contactado para o realizar, convite que declinou (foi parar a Ang Lee) por temer que não o deixariam fazer o que ele queria. Assim a história entre Ethan Hawke e Pedro Pascal, "mais carnal", pode ser entendida como a sua resposta. As duas personagens, um xerife e um capanga, retomam 25 anos depois a sua história...
José Condessa, actor português de 25 anos, é outro dos intérpretes da curta. Ao Ípsilon ele confirmava: "É um western e vem muito da inspiração e da necessidade de Almodóvar de responder a O Segredo de Brokeback Mountain, que foi convidado para fazer e não teve oportunidade. Ele falou connosco sobre isso, mas disse-nos para não ficarmos presos a uma imagem [do filme de Ang Lee]. É mais o tema. 'Tantos anos depois continuo com esta ideia, é porque preciso de fazer alguma coisa'.”
Embora nunca tenha recebido a Palma de Ouro de Cannes, o currículo de Pedro Almodóvar no festival é dos mais distintos: logo à primeira selecção em competição recebeu o Prémio de Realização por Tudo Sobre a Minha Mãe, 1999 (ano em que o prémio máximo foi para Rosetta, dos irmãos Dardenne); em 2004, A Má Educação foi o filme de abertura, uma primeira vez para um filme espanhol; em 2006, o prémio de argumento foi parar a Volver; em 2019, o prémio de interpretação masculina distinguiu Antonio Banderas em Dor e Glória. Presidente do Júri em 2017, Almodóvar entregou a Palma de Ouro nesse ano a The Square, de Ruben Östlund. Que é o presidente do júri da competição de 2023, ele que entretanto, com a consagração de Triângulo da Tristeza em 2022, já integrou o grupo dos 9: conjunto de cineastas que já foram duas vezes premiados com a Palma de Ouro.
O festival anuncia a programação oficial no dia 13. Mas tem dado a espreitar as suas propostas: o filme de abertura será, em competição, Jeanne Du Barry, de Maiwenn, com Johnny Depp como Luís XV. Killers of the Flower Moon, de Scorsese, e Indiana Jones and the Dial of Destiny, de James Mangold, estrear-se-ão na Croisette. Assim como a, já polémica, série de Sam Levinson para a HBO, The Idol, com Lily-Rose Depp (filha de Johnny Depp) e Abel "The Weeknd" Tesfaye.
A secção Quinzena dos Cineastas homenageia Vale Abraão, de Manoel de Oliveira, 30 anos depois da estreia do filme nessa secção com uma recepção que é já parte da mitologia de Cannes.