Depois do FC Porto, o Inter. Benfica em agonia na Champions

Os “encarnados” podem agradecer ao seu guarda-redes não irem a Milão com um resultado ainda pior. E não ficou provado que o Benfica seja a mais forte das duas equipas.

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Benfica e Inter em duelo em Lisboa Reuters/PEDRO NUNES

Jornalistas italianos, comentadores portugueses, Carlo Ancelotti, Arrigo Sacchi e até mesmo casas de apostas apontavam ao Benfica o favoritismo para duelo com o Inter de Milão, dos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Nesta terça-feira, no momento de colocar tudo isso em campo, esteve longe de ficar provado que os “encarnados” são a equipa mais forte destas duas.

O Inter bateu o Benfica por 0-2, resultado que deixa os italianos em vantagem para o segundo jogo, em Milão, na próxima quarta-feira. Este desfecho só não é pior para os portugueses porque os golos marcados fora de casa já não são, actualmente, factor de decisão em cenários de empate na eliminatória.

Depois de cair na Liga frente ao FC Porto, bem pode o Benfica agradecer a Vlachodimos, que impediu que na Champions houvesse um resultado mais desequilibrado frente a um Inter que mostrou ser uma equipa pouco exuberante, mas muito adulta e competente na ocupação dos espaços.

O Benfica, por outro lado, foi tecnicamente incapaz de criar futebol e fisicamente incapaz de ocupar os espaços e igualar o adversário nos duelos. É certo que poderia ter havido 2-1 no último minuto, por Ramos, mas nem isso apagaria o desempenho cinzento.

3x5x2 difícil de desmontar

Segundo dados do Who Scored, o Inter é das equipas que mais tempo passa no seu terço do campo e das que menos bolas recuperam no terço adversário. Em suma, “oferece” a primeira fase de construção às equipas que defronta e, frente ao Benfica, não foi diferente. Os portugueses puderam construir com relativa tranquilidade e, ao contrário do que aconteceu frente ao FC Porto, tinham os centrais com tempo e espaço para ligarem o jogo.

O problema é que o 3x5x2 que o Inter utiliza é, defensivamente, dos sistemas mais equilibrados que existem no futebol, porque tem uma ocupação dos espaços bastante vasta – muita densidade no meio, mas também protecção dos corredores.

Nessa medida, o Benfica teve muita dificuldade para activar os criativos, que, como habitualmente, pediram a bola quase sempre na zona central, onde havia muitas pernas italianas, e Rafa raramente conseguiu pedir entre linhas, arrastado um dos pesados centrais adversários. Pareceu faltar também alguma qualidade técnica diferenciadora em espaços curtos – forma complexa de dizer David Neres.

Do lado contrário, os “encarnados”, que contra dois avançados precisavam de especial atenção de Florentino e/ou do lateral ao lado oposto da bola, deixavam muitas vezes Morato e António Silva em dois contra dois, algo que só a má definição do Inter em quatro ocasiões impediu a equipa italiana de criar real perigo.

Esse risco do Benfica ainda tinha uma camada adicional, que era a menor ajuda defensiva de Aursnes do que é habitual, deixando Chiquinho e Florentino algo expostos quando Brozovic progredia alguns metros.

Ainda assim, nenhuma destas dinâmicas, de um lado ou do outro, criou especial perigo e o jogo estava a ser globalmente desinteressante até ao intervalo, com muitas bolas batidas na frente sem critério (e Benfica e Inter são também das equipas que mais bolas longas utilizam na Champions).

Défice físico ainda maior

Na segunda parte, os primeiros minutos mostraram Rafa um pouco mais móvel, mas, antes de podermos ver efeitos dessa dinâmica, o Inter marcou numa jogada claramente provocada pelos italianos aos 51’.

A equipa atraiu a pressão do Benfica ao lado direito, rodou rapidamente e o central Bastoni teve espaço para subir em condução. O Benfica, que tinha saído a pressionar no lado oposto, foi apanhado no tal jogo de pares não corrigido ao intervalo.

Houve três contra três na área, com a subida de Barella, que finalizou ao segundo poste, perante um Grimaldo já habitualmente incapaz a defender o espaço interior, sobretudo pelo ar.

Em rigor, nem foi três contra três, mas sim três contra dois, porque António Silva, focado no cruzamento e alheado das marcações na área, nem contava como defensor activo – postura que, para ser possível, precisaria, no lado oposto, de uma ajuda adicional a Grimaldo e Morato.

Aos 55’, o Benfica esteve perto do golo, numa jogada confusa na área, mas a partida entrou num perfil “morno”, que nem desagradava ao Inter.

Parecia haver também algum défice físico nos jogadores “encarnados”, algo que se vê quando começam a chegar frequentemente atrasados às divididas e a falhar passes fáceis. O Inter esteve perto do 2-0 aos 66’, numa transição definida por Mkhitaryan e salva por Vlachodimos.

Incapaz física e tecnicamente de criar desequilíbrios, o Benfica pouco desconforto criou no bloco do Inter, com o 3x5x2 imutável e sempre equilibrado.

Aos 78’, o Inter voltou a ficar perto do golo, novamente num momento de desequilíbrio do Benfica no controlo do segundo poste – rematou Dumfries para nova defesa de Vlachodimos – e aos 81’ houve penálti de João Mário, por mão na bola, descortinado pelo VAR.

Lukaku marcou o 0-2 e o Benfica, já quase morto, morto ficou.

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