Uma Visita Guiada a Cabo Verde
O programa de Paula Moura Pinheiro sai pela primeira vez de Portugal. O arranque desta 13.ª temporada acontece esta segunda-feira, às 22h54, na RTP2, a sua casa de sempre.
Pela primeira vez desde que iniciou emissões em 2014, o Visita Guiada de Paula Moura Pinheiro faz algo inédito: sai das fronteiras de Portugal. O programa que serve para "conhecer o Património Cultural Português", como se apresenta, ruma até Santiago, em Cabo Verde, nos três episódios inaugurais da 13.ª temporada. A estreia é esta segunda-feira, às 22h54, na sua casa de sempre, a RTP2. Os dois primeiros capítulos foram mostrados à imprensa.
Foi nessa ilha, a maior do arquipélago, e um sítio que nos é mostrado em planos de drones e em mercados de rua, que os europeus inauguraram uma fixação abaixo do Trópico de Câncer, fundando-se lá a primeira colónia europeia na zona. A ascensão e queda da cidade-porto de Ribeira Grande, que depois é esvaziada em 1779, passando a Cidade da Praia a ser o centro político do arquipélago, são alguns dos tópicos. Para contar esta história, a autora e apresentadora conta com a ajuda de especialistas no tema. São eles o português André Teixeira, mestre em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa, que fala no primeiro episódio, e, no segundo e terceiro, o sociólogo e historiador (além de ex-ministro) cabo-verdiano António Correia e Silva.
No episódio de estreia, o foco, com André Teixeira a falar, é a forma como se chegou a Cabo Verde, uma zona que era deserta antes do século XV e foi descoberta “acidentalmente” em 1460 por navegadores que serviam o abastado Infante D. Henrique, que morreu nesse mesmo ano, e muito investiu na expansão marítima portuguesa. É sublinhado o contexto histórico em que tal aconteceu: em cem anos, entre os anos 1400 e 1500, Portugal encontrou e fixou inúmeras rotas marítimas a nível mundial, com técnicas e tecnologia de navegação desenvolvidas através do investimento do Infante D. Henrique, que patrocinou várias expedições e alguém que Teixeira descreve como um “navegador” que apenas navegou “três vezes” num “primeiro passo para se dominar” o “Oceano Atlântico”.
No segundo capítulo, António Correia e Silva ajuda a navegar a estratégia de povoamento de Cabo Verde. Na altura, além de mais longínquo, era um local árido, com um clima peculiar, e menos apelativo do que arquipélagos como a Madeira e os Açores. Vemos e aprendemos sobre a criação de cavalos, que podiam ser trocados por pessoas escravizadas. Foi evoluindo, com o estabelecimento da primeira sociedade escravocrata, que acabou por ser, também pelo carácter pioneiro, a primeira a falir. Mencionam-se ainda as plantações que recorriam a trabalho escravo. No episódio, o historiador fala da forma como se miscigenaram plantas oriundas de outros sítios, como limas, laranjas (e lembra que Charles Darwin falava do laranjal da Ribeira Grande), ou tubérculos como inhame, banana ou coco. Era um local de experiências que depois foram exportadas para outras zonas.
Segundo a sinopse, o terceiro episódio, também com António Correia e Silva, pega na forma como, no final do século XVI, aumenta a mestiçagem, quando Portugal deixa de fixar novas pessoas na ilha, tanto europeus quanto africanos. Percebe-se igualmente como a consciência e História cabo-verdiana se foi formando ao longo dos anos, até chegar à independência do país.