Azul
A beleza escondida dos flamingos nas salinas da ria de Aveiro
Fotografias mostram a beleza rara da ria de Aveiro. “Falar de salinas é falar de flamingos”, diz fotojornalista João Nunes da Silva.
Há mais de 30 anos que João Nunes da Silva visita a ria de Aveiro e as suas salinas para fotografar aquela paisagem e as aves que ali habitam. De há alguns anos para cá, o fotojornalista de natureza começou a observar um aumento do número de flamingos (Phoenicopterus roseus), que chegam no final do Verão para passar ali a temporada fria. João Nunes da Silva não perdeu a oportunidade de fotografar aquelas aves, conhecida pelas suas tonalidades rosas.
“Há uns anos deslocava-me a França e a Espanha para ver os flamingos e agora eles estavam aqui nas salinas”, relata ao PÚBLICO. “Era gratificante.” O trabalho está agora reunido num livro chamado Flamingos e o Sal da Ria de Aveiro, que tem fotografias tiradas entre 2019 e 2023.
A obra não só mostra várias imagens de flamingos, sozinhos, em grupo, a voar, a alimentarem-se, como apresenta paisagens da ria de Aveiro, das salinas e do próprio sal. Muitas delas obtidas a partir do céu, com a ajuda de drones.
“As salinas estão muito associadas aos flamingos, falar de salinas é falar de flamingos”, diz o fotógrafo, justificando não só a selecção das fotografias que surgem no livro, mas também o próprio título da obra. “Os flamingos em todo o mundo usam as salinas como locais de nidificação”, acrescenta. Além disso, “o sal é uma imagem de marca da ria de Aveiro”.
João Nunes da Silva mora no Porto, nasceu em Lisboa, mas Aveiro e a sua ria estiveram presentes na sua vida desde pequeno porque tinha familiares naquela cidade. “Devo muito à ria de Aveiro o facto de ser fotojornalista. Foi lá que comecei a fotografar e a fazer a exposições”, revela. “Talvez por isso, inconscientemente, esta relação emocional foi o que me fez fotografar os flamingos na ria”, acrescenta o autor, que já produziu outros quatro livros de fotografia.
Mas o livro é também uma forma de mostrar a importância da conservação dos flamingos. O fotojornalista explica que há umas décadas os flamingos em Portugal encontravam-se apenas nos estuários do Tejo, do Sado e na ria Formosa, no Algarve. Para ver flamingos em grande quantidade, João Nunes da Silva foi a outros países visitar locais como Doñana, em Espanha, e Camarga, na França.
“Desde jovem que tenho a paixão da ornitologia. O fascínio que os flamingos sempre causaram a muitas pessoas também se ficou a dever muito à raridade deles em Portugal”, defende. Hoje, o cenário é muito diferente. “A expansão dos flamingos está ligada à conservação da espécie. Como se têm expandido, vão encontrar novos lugares.”
Através das anilhas que muitos flamingos carregam é possível detectar a origem dos animais avistados na ria. Há aves que vieram de Doñana, mas outras migraram de locais mais distantes, como a Sardenha e a Turquia.
No entanto, eventos de nidificação em Portugal são raros. Na ria de Aveiro, a espécie não constrói ninhos para ter as suas crias. As salinas artesanais como a da ria de Aveiro são pequenas e esta ave necessita de grandes salinas e tranquilidade para nidificar, segundo o fotojornalista.
Mas o último capítulo do livro mostra um evento inédito ocorrido no Verão de 2021, quando nasceram 550 crias de flamingos na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António. “De modo a garantir o sucesso desta nidificação, foi assegurada uma estreita colaboração entre o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas [ICNF] e a empresa proprietária das salinas”, lê-se no texto que introduz o capítulo do livro.
O fotojornalista visitou a reserva nesse Verão. A partir das suas fotografias, é possível observar as centenas de crias cinzentas acumuladas no meio da água do sapal. “Este ano [último] já não se repetiu [a nidificação em Castro Marim]. Os flamingos continuam a ser uma espécie vulnerável à perturbação”, diz João Nunes da Silva.
A obra vai ser apresentado a 15 de Abril no ObservaRia, um evento bianual organizado pela Câmara Municipal de Estarreja para “dar a conhecer o território e valores naturais” do conselho, segundo o site do evento. Quem quiser comprar o livro, pode encomendá-lo a partir do site do fotógrafo, já que os exemplares não vão estar disponíveis nas livrarias.