Ana Obregón não foi mãe, mas avó. Bebé é filha de Aless, que morreu há três anos
A inseminação post-mortem, em Espanha, é possível até um ano após a morte do dador. Aless Lequio morreu há três anos, mas o seu sémen foi criopreservado em Nova Iorque.
A actriz e apresentadora espanhola Ana Obregón revelou que, ao contrário do que foi noticiado, não foi mãe aos 68 anos, recorrendo a uma gestação de substituição nos EUA, mas avó. De acordo com Obregón, Ana Sandra é filha biológica do seu filho, Aless Lequio, que morreu de cancro, em Maio de 2020, aos 27 anos.
“Este foi o último desejo de Aless, trazer uma criança ao mundo”, confidenciou Ana Obregón numa entrevista exclusiva à revista ¡Hola!. Ainda assim, legalmente, Ana Sandra será filha da apresentadora, que decidiu avançar com o desejo do filho no dia da morte dele. “Desde esse momento, a única coisa que me tem permitido continuar a viver todos os dias, a cada segundo, é cumprir a missão de trazer a filha de Aless ao mundo.”
A recolha de esperma, ou de óvulos no caso das mulheres, é comum antes de se iniciar um processo de quimioterapia que pode comprometer a fertilidade. No caso de Aless Lequio, a amostra foi criopreservada em Nova Iorque e, além de Ana Obregón, apenas estavam a par do processo as suas duas tias maternas, Celia e Amalia. A menina nasceu em Miami, a 20 de Março, e, para a avó biológica — e mãe na certidão de nascimento —, trata-se de “um presente do céu”, observando que não está disponível para ouvir críticas.
Em Espanha, a lei permite a inseminação post mortem, mediante o cumprimento de diversos requisitos, como ser feita até um ano após a morte do dador, mas as barrigas de aluguer não são permitidas. E a gestação de substituição de Ana Sandra foi tema na sociedade espanhola, mas também nos bastidores políticos, com a ministra da Igualdade, Irene Montero, a recordar, nos corredores do Congresso, que o processo de uma gestação de substituição é uma “forma de violência contra as mulheres”, sublinhando que se alimenta da pobreza. Já a ministra das Finanças, María Jesús Montero, expressou a sua repulsa pela “exploração dos corpos das mulheres”.
Para Ana Obregón, estas reacções pertencem ao século passado, chamando a atenção para o facto de “esta técnica de reprodução assistida” ser utilizada há muitos anos, sendo “legal em muitos países do mundo”.
O primeiro caso identificado de uma inseminação post mortem, com o esperma de um filho morto, foi reportado em 2006. Aos 19 anos, o russo Andrei Zakharov teve de se submeter a um tratamento de quimioterapia em Israel, mas, antes do procedimento, deixou espermatozóides criopreservados, sem instruções a respeito do uso desse material em caso de morte. Oito anos depois, Andrei morreu solteiro e sem filhos, e a mãe, Ekaterina Zakharova, conseguiu levar o sémen criopreservado para a Rússia, onde, em Julho de 2004, cinco meses após a morte de Andrei, deu início às tentativas de reprodução assistida post mortem com o material genético do filho, também sendo necessárias uma dadora de óvulo e uma gestante por substituição. Em Novembro de 2005, nasceu um menino saudável.
Em Portugal, o Parlamento aprovou a inseminação post-mortem, em 2021, mas, para poder aceder a esta técnica de procriação medicamente assistida, é necessário que o dador tenha deixado o seu consentimento por escrito, tendo a mulher de provar que a concepção de um filho era um projecto parental comum “claramente consentido e estabelecido”. A criança nascida através desta técnica é considerada filha do dador falecido.
O primeiro caso português conhecido é precisamente da mulher que protagonizou a batalha pela legalização da inseminação post mortem: em Fevereiro deste ano, Ângela Ferreira anunciou estar grávida do marido, Hugo, que morreu em 2019.