Um pássaro na cabeça
A estranha manhã em que um pássaro pousou na cabeça de um menino e ali ficou todo o dia.
Um rapaz já ia atrasado para a escola quando um pássaro resolveu instalar-se sobre a sua cabeça. Tentou sacudi-lo, mas não resultou; tentou convencê-lo a ir descansar noutro lugar, mas nada.
Última tentativa: “À porta da escola, agarrei no pássaro com as duas mãos e puxei-o para o tirar da cabeça. Só que ele agarrou-se bem e, se eu continuasse a puxar, ia acabar por arrancar o meu próprio cabelo.”
O menino resolveu entrar na sala de aula assim mesmo. Claro que todos os colegas olharam para ele com espanto e “alguns taparam a boca para que não se percebesse que estavam a rir”.
A professora perguntou-lhe porque trazia um pássaro na cabeça. “Eu dei a única resposta de que me lembrei: ‘Não é um pássaro. É o meu chapéu novo.’ Ela olhou-me, desconfiada, e exclamou: ‘Parece mesmo um pássaro’.”
Lá foi para o seu lugar com a indicação da professora de que o seu “chapéu” tinha de estar quieto e calado.
No recreio, tudo piorou, excepto no momento em que conversou com a Maria. Mas antes o menino dá-nos conta do seu sentimento por ela. “Eu gosto da Maria, ela abana a cabeça devagarinho quando está contente, sabe contar até mil quinhentos e trinta e seis e meio e corre mais depressa do que qualquer rapaz ou rapariga na escola. Eu não queria falar com ela com um pássaro na cabeça.”
A arder de vergonha, o menino não esperava escutar o que ela lhe disse: “Gosto muito do teu chapéu.”
Uma história engraçada e terna que remete para o embaraço e humilhação que qualquer diferença pode suscitar na vida de uma criança.
E tem um final divertido e inesperado.
Parece Um Pássaro foi editado inicialmente pela Associação para a Promoção Cultural da Criança, em 2014. Agora, tem nova edição, da Editorial Caminho.
David Machado é autor de mais de uma dezena de livros para crianças. Nesta editora publicou O Alfabeto Nojento (ilustração de David Pintor), Viagem ao Centro do Escuro (Alex Gozblau), O Meu Cavalo Indomável — Rimas Desgovernadas para Crianças Animadas (Ricardo Ladeira) e os romances juvenis Não Te Afastes e Os Reis do Mar (Alex Gozblau). Na Alfaguara, publicou Eu Acredito.
Reeditou também O Tubarão na Banheira (ilustração de Paulo Galindro), livro de grande êxito junto dos leitores mais jovens e que conta já com 13 edições. Recebeu o Prémio Branquinho da Fonseca e o Prémio Autores SPA/RTP.
As ilustrações de Gonçalo Viana são garridas e bem-humoradas. No seu site, conta que estudou Arquitectura e trabalhou alguns anos em Londres. No entanto, a ilustração foi o seu “primeiro amor”. Daí ter-se tornado ilustrador freelancer quando regressou a Portugal. No título Troca-Tintas assina texto e imagem.
“A geometria encontrou uma maneira de se infiltrar, fornecendo estrutura para os meus conceitos, cores fortes e texturas”, descreve. Diz ainda: “Gosto de traduzir ideias complexas em imagens simples e envolventes. Tenho mais de 18 anos de experiência em ilustração editorial e publicitária.” E conclui: “Também gosto de ilustrar livros infantis.” Ainda bem.
(Neste domingo, porque se assinala o aniversário do nascimento do escritor Hans Christian Andersen, é Dia do Livro Infantil. Leia e dê a ler.)