O ensino português — muito criticado (e com razão) e com muito por actualizar — sempre foi exímio no ensino de línguas. Desde logo no ensino primário, com a língua e a literatura portuguesa, mas também com a língua inglesa, opcional no 1.º e 2.º ano, e obrigatória a partir do 3.º até ao 9.º.
No 3.° ciclo do ensino básico, o 7.º ano oferece, para além das duas anteriores, a opção entre aprender francês, espanhol, e alemão. A primeira é a mais escolhida.
E no começo do ensino secundário, novamente uma escolha. Por esta altura, já só nos acompanha, forçosamente, a língua portuguesa, que, na verdade, nunca nos abandona. Para além dela, podemos escolher o “inglês continuação”, perfazendo sete ou nove anos de aprendizagem desta língua, mas também francês, espanhol e alemão, como “continuação” ou “iniciação”, dependendo da escolha feita no 7.º ano, e ainda línguas inovadoras (no nosso meio) como o mandarim.
Após uma exaustiva exposição de uma parte do sistema educacional português, caros leitores, e nunca esquecendo que, ser português é, precisamente, ser adaptável, podemos apenas concluir que os nossos estudantes se formam como cidadãos do mundo.
A outra forma de avaliar este sistema, que é mais tendenciosa, será por comparação aos nossos vizinhos. Em França, além da língua francesa, os alunos aprendem também inglês, ainda que não com muita exigência — os franceses são a nacionalidade com menor proficiência a inglês dentro da União Europeia. Em Espanha, por outro lado, o sistema varia. Além da língua castelhana, que abrange as escolas de todo o país, e do inglês, os estudantes espanhóis, dependendo da região onde vivem, aprendem também a língua oficial da região. Ou seja, um estudante catalão, além de castelhano e inglês, aprende (e fala, obviamente) catalão. O mesmo acontece a um estudante basco ou galego.
Neste momento, o que está em discussão em Espanha é se se deve oferecer as línguas oficiais de outras regiões a todos os estudantes, permitindo que, por exemplo, um madrileno aprenda catalão.
Claro está que são países maiores e mais influentes, que talvez não sintam tanta necessidade (ou vontade) de conhecer o mundo nas suas próprias palavras. Talvez apenas se sintam bons falantes, e por isso traduzam títulos, músicas, nomes de bandas e filmes. Ou talvez o problema esteja em nós que, cidadãos do mundo no nosso pequeno território, nos esforçamos por saber o de fora e nós esquecemos que Portugal não é só português.
A língua mirandesa, centrada em Miranda do Douro, é a segunda língua oficial do país desde 1999. Por si só tem três subdialectos, assemelha-se ao castelhano, ao português, ao galego. Deriva, tal como estas, do latim e nasce no contexto asturo-leonês. É independente, tem mecanismos geradores do seu desenvolvimento, e soberana, na medida em que, tal como qualquer outra, se regula a si mesma.
Contudo, prevê-se a sua extinção para breve. Citando um artigo da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro: “[…] A língua mirandesa é ameaçada na sua sobrevivência tanto por factores internos, em particular a desertificação da região onde se fala e o enfraquecimento do modo de transmissão familiar, como por factores externos, em particular os resultantes da pressão exercida pelos meios de comunicação social, pela escola e pelos meios considerados de sucesso económico, em particular a empregabilidade, continuando, em cúmulo, e essa é uma questão essencial, excluído como língua das instituições, em particular das instituições políticas locais.”
Confesso-vos, caros leitores, que desta (também minha, se do meu país) língua, nada sei. Mas acredito que, depois de aprender inglês, francês, espanhol, frequentar o instituto alemão, e ainda me dispor a aprender outras tantas na Internet, que também consiga aprender a língua mirandesa.
Se dentro de si não encontrar esta vontade, seja porque não vê o propósito prático, porque se assemelha demasiado ao espanhol, ou porque não o vê como lazer, faça-o para que não se perca, faça-o pelos que a falam, e faça-o por Portugal, que numa tentativa de ser visto se esquece que primeiro tem de olhar para si mesmo.
Quanto às crianças, e também respondendo ao dilema espanhol, basta apenas ensiná-la nas escolas — que é onde tudo se pode aprender.