Primeiro novo navio da Transtejo já chegou, mas vem com danos no casco

Baptizada como Cegonha-Branca, é única embarcação que veio com as baterias mas sofreu danos durante o transporte, devido a condições de navegabilidade. Terá agora de ser reparada.

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O catamarã Cegonha Branca encontra-se na doca do Beato Miguel Manso

O primeiro dos dez novos navios eléctricos que a Transtejo comprou a um estaleiro espanhol já chegou a Lisboa. Mas vem com danos no casco e terá de ser reparado, antes de ter início a formação das tripulações a bordo.

É a única das dez embarcações que a transportadora fluvial comprou completa, isto é, com as baterias que lhe permitem navegar. Quanto às restantes nove, os administradores da Transtejo queriam comprá-las à parte, por ajuste directo, mas o Tribunal de Contas chumbou essa opção, fazendo um relatório de tal forma demolidor sobre a aquisição que estes gestores se demitiram na passada quinta-feira.

“É como comprar um automóvel sem motor, uma moto sem rodas ou uma bicicleta sem pedais”, pode ler-se no relatório do Tribunal de Contas sobre a compra dos acumuladores à parte, que qualifica as decisões da Transtejo não só como ilegais mas também como irracionais. As dez embarcações eléctricas custaram 52,4 milhões, tendo a empresa planeado gastar mais 15,5 milhões nas nove baterias em falta, por ajuste directo. Porém, graças ao Tribunal de Contas terá agora de lançar um concurso público para as adquirir.

Ainda assim, a administração demissionária da Transtejo estimava na semana passada que o primeiro navio, baptizado como Cegonha-Branca, pudesse estar ao serviço até ao final do ano. Cada catamarã será baptizado com o nome de uma ave autóctone do estuário do Tejo, cuja imagem, uma ilustração de autor, figurará na decoração da embarcação.

A notícia dos danos no casco foi avançada esta segunda-feira pelo jornal Observador, tendo a Transtejo confirmado a informação esta manhã. A embarcação chegou a Lisboa sábado ao final do dia, mas o estaleiro Astilleros Gondán, onde foi fabricada, constataram que “apresenta danos no casco, provocados pelas más e imprevisíveis condições de navegabilidade em que o transporte ocorreu”, explica a Transtejo. Uma agitação marítima inesperada durante a viagem "produziu um movimento da carga no convés do cargueiro que transportou o navio Cegonha Branca a partir do porto de Avilés, tendo este ficado apoiado de forma irregular no seu casco de bombordo, o que resultou em estragos no casco".

Perante o sucedido, “o estaleiro irá proceder à habitual e rigorosa avaliação do navio e irá determinar a realização das reparações necessárias", bem como o tempo necessário às mesmas. Os custos serão, naturalmente, assumidos pelo fretador do navio de carga, responsável pelo transporte”, adianta a transportadora fluvial. Só depois disso ocorrerá a entrega definitiva do Cegonha-Branca à Transtejo.

Seguir-se-ão as vistorias técnicas por parte da Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos e o processo de legalização do navio, mediante emissão do certificado de navegabilidade e do registo do título de propriedade. A formação das tripulações será o passo seguinte, antes da entrada ao serviço no transporte de passageiros entre Lisboa e a margem Sul do Tejo.

A nova frota “permitirá melhorar a experiência da viagem fluvial, alcançar ganhos em eficiência energética, reduzir os actuais custos de manutenção e eliminar a emissão de dióxido de carbono”, diz a Transtejo, assegurando que também contribuirá para melhorar os ecossistemas e biodiversidade do rio, pelo desaparecimento do ruído, vibração e odores.

No acórdão em que chumbou a compra das baterias por ajuste directo, o Tribunal de Contas revela que remeteu o caso para o Ministério Público, para apuramento de eventuais responsabilidades financeiras ou mesmo criminais por parte dos administradores da Transtejo. Mas a administração negou a prática de actos ilegais na conferência de imprensa em que apresentou a sua demissão, alegando que a compra dos acumuladores à parte era a opção mais económica em 2019, altura em que não era previsível a subida de custo e a dificuldade de aquisição deste tipo de equipamento, primeiro por causa do surgimento da pandemia e depois por causa da guerra na Ucrânia.

Já em 2021, na sua página oficial no Facebook, o PSD tinha chamado a atenção para a questão de os catamarãs terem sido comprados sem baterias. Os sociais-democratas deixavam uma pergunta irónica: "O primeiro-ministro sonhou com vacas voadoras e o ministro do Ambiente trouxe-nos barcos a propulsão eléctrica sem baterias! Barcos parados e um Governo à deriva! É esta a estratégia do ministro do Ambiente para a descarbonização e para os transportes públicos?".

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