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O “deserto inclemente” invadiu o interior de uma casa “cheia de memórias”
A areia do deserto "flui através das janelas, das portas, enche cada recanto, cada esquina, em ondas que parecem líquidas", conta a fotógrafa equatoriana Anamaria Chediak ao P3. "Hoje existe apenas silêncio e areia."
"Eu tenho uma obsessão", admite ao P3 a fotógrafa equatoriana Anamaria Chediak, autora do projecto Memories Through the Liquid Desert Waves. "Consiste em procurar lugares onde sinto que a natureza reclamou o que um dia lhe pertenceu." Nesta casa, plantada num deserto do continente africano, "um dia houve vida, diálogos, cores", observa a fotógrafa. Hoje, existe "apenas silêncio e areia".
O deserto é "inclemente", apelida Chediak. "Não reconhece fronteiras, barreiras; é apenas uma força irreprimível. Flui através das janelas, através das portas, enche cada recanto, cada esquina, em ondas que parecem líquidas." Naquele dia em que fotografou, no deserto, recorda, "estaquei, tentando fazer sentido daquela visão fugaz de um mundo que desapareceu". Desapareceu e, ao mesmo tempo, estava diante dos seus olhos, numa visão paradoxal e invulgar.
Fixar aquele momento com recurso a uma câmara fotográfica foi um enorme desafio, conta. "Estas foram, tecnicamente, as imagens mais difíceis de criar de todas as que fiz até hoje", comenta a equatoriana, que fotografa há mais de 30 anos. "Cada imagem é composta por dezenas de fotografias. O lugar era difícil de fotografar num só disparo, já que alguns dos quartos eram bastante pequenos." Foi também necessário compensar a quantidade de luz vinda do exterior da casa, de forma a não se perderem os detalhes do interior. "Isso era importante para manter o espaço vivo nas imagens impressas", observa, lembrando que essas são expostas em grande formato (com dois metros de largura), para que o espectador possa sentir-se imerso nos espaços.
Chediak, uma confessa apaixonada pela fotografia da natureza e vida selvagem, já viajou por mais de 60 países de cinco continentes. "Tive a sorte de crescer no Equador", comenta. "Pude deambular e descobrir os lugares em meu redor. Foi assim que o gosto pela natureza se entranhou, inconscientemente, de forma mágica."
O projecto que desenvolveu ao longo de meses não está desligado das questões ligadas à preservação da natureza. "O tempo está a esgotar-se", relembra. "Vivemos uma crise ambiental sem precedentes."
Um dos objectivos de Anamaria "é frisar a responsabilidade que temos de trabalhar em conjunto no sentido de proteger da extinção a vida selvagem vulnerável, restaurar ecossistemas ameaçados, preservar comunidades e as suas tradições únicas e diversas, encarando-as como legado cultural". O projecto já esteve patente na 7ª edição da Bienal de Fotografia de Barcelona, em Outubro de 2022, e será exibido, em 2023, em Veneza.