BMW CE 04: uma scooter silenciosa que dá nas vistas
A nova proposta de scooter eléctrica da BMW é um exercício de estilo e tecnologia que merece ser experimentado. À venda em Portugal a partir de 13.250 euros.
Os olhares chegam de todo o lado e a conversa no semáforo vermelho é frequente: “É eléctrica?”; “Que coisa esquisita, parece uma nave espacial!”; “Isso anda bem, não?”. A resposta é afirmativa para tudo e, quando o sinal passa a verde, é vê-la desaparecer em silêncio.
Com um motor eléctrico capaz de produzir um pico de potência de 31 kW (42 cv) e 62 Nm de binário, a BMW CE 04 acelera dos 0 aos 50 km/h em pouco mais de dois segundos. A velocidade máxima é de 120 km/h e a autonomia anunciada de 130 quilómetros (norma WMTC), números que posicionam esta moto no grupo das maxi scooter citadinas — a CE 04 é uma evolução da C evolution e a referência “04” foi escolhida pela BMW para a colocar no segmento das 400cc.
Como quase sempre acontece, os números no papel não coincidem com a realidade. No nosso teste não conseguimos que o computador de bordo nos desse mais que 80 quilómetros de autonomia. E numa condução mais despachada apresentou um gasto de 15% em 10 quilómetros. O que faz disparar uma faísca no cérebro: “E se for preciso ir de repente não sei onde e a bateria não chega?”
A transição para os eléctricos exige uma reconfiguração mental que não é fácil de fazer e que é particularmente aguda no caso das motos, porque elas apenas suportam baterias pequenas e, além disso, pesadas.
Ultrapassado (ou assumido) esse obstáculo, concentremo-nos na experiência. Os 231 quilos da BMW CE 04 não se sentem em andamento, nem a estacionar, já que vem equipada com marcha-atrás. Muito equilibrada, é fácil ficar quase parado sem tirar os pés dos apoios. É também uma moto muito comprida (quase 2,3 metros) e, talvez por isso, a direcção pareceu-nos um tanto ou quanto pesada, sem nunca deixar de ser precisa. E ágil no trânsito, já que é muito estreita.
Tem quatro modos de condução (eco, chuva, estrada e dinâmico), todos feitos para a cidade. Um condutor experiente não vai encontrar diferenças substanciais e só vai optar por um ou por outro em função da economia. O modo estrada foi o que nos pareceu mais adequado, pelo equilíbrio entre aceleração e regeneração — tal como nos automóveis eléctricos, a desaceleração e a travagem devolvem energia à bateria. Os modos eco e dinâmico têm uma regeneração forte, o que faz com que seja possível (mas não totalmente aconselhável) dispensar os travões em muitas situações.
A tecnologia de regeneração, aliada ao sistema de travagem, permite que a CE 04 pare com muita rapidez. É muito confortável, como é também atributo da BMW, ultrapassando bem lombas e estradas empedradas. Contudo, a protecção aerodinâmica frontal é inexistente e o vento frio faz-se sentir bastante nas pernas. O assento do passageiro, sem o extra do apoio de costas, não será aconselhável para mais que “uma voltinha”.
O design futurista (há quem o ache ao mesmo tempo algo “retro”) bate certo com o pacote tecnológico, que inclui um grande ecrã TFT de 10,25 polegadas, no qual se acede a um conjunto muito completo de informação e, através da app da BMW, é possível transferir para o ecrã mapas de navegação, além da ligação ao capacete para controlo de chamadas e música. A CE 04 inclui uma caixa dedicada com ficha USB-C para guardar e carregar o telemóvel.
Esta scooter tem também um compartimento debaixo do banco onde é possível guardar um capacete pequeno ou um saco de compras. Ou, em bom rigor, o módulo de carregamento e mais qualquer coisa. A BMW vende como acessório uma topcase de 35 litros, mas a sua montagem inviabiliza o lugar do pendura.
O carregador com tomada doméstica convencional permite carregar a bateria de 8,5 kW em três horas e 30 minutos dos 0% aos 80%, o mesmo tempo que numa estação pública de 2,3 kW. Com o dispositivo de carregamento rápido opcional, com 6,5 kW, o tempo de carregamento é reduzido para 65 minutos.
A manutenção desta scooter eléctrica segue o calendário de uma moto moderna com motor de combustão, com intervalos de 10 mil quilómetros e valores estimados a rondar os 300 euros.
A BMW CE 04 é uma boa solução de mobilidade urbana, um concept concretizado que nem todos se podem dar ao luxo de fazer. Nem de comprar: o preço base em Portugal é de 13.250 euros, aos quais será conveniente acrescentar mais algumas centenas em opcionais. A scooter que testámos custava mais mil euros.
Seja como for, é um veículo feito para o que se propõe: uma scooter para cidade que pode bem ser uma segunda moto ou uma alternativa ao automóvel para deslocações curtas. E quanto à questão se estamos preparados para as motos eléctricas, a resposta já nos parece bastante óbvia: vamos ter de estar, embora não pareça haver pressa.
O mercado português está a comprar cada vez mais carros eléctricos, mas as motos ainda não estão a acompanhar de forma visível essa tendência. Dados da ACAP compilados pela UVE (Associação de Utilizadores de Veículos Eléctricos) mostram que no passado mês de Janeiro foram vendidas 44 motos eléctricas em representantes oficiais das marcas (e mais 40 em representantes não oficiais), um número ainda muito pequeno se comparado com os 2716 motociclos a gasolina (cerca a 1,6%) — a variação equivalente nos automóveis ligeiros é de 15,5%.
Nos primeiros dois meses do ano a BMW matriculou 363 motos, das quais apenas oito eléctricas.