Yamaha MT-10 SP: pura diversão de deixar saudades

A MT-10 é uma moto de pista despida e afinada para andar na estrada. É bonita, confortável q.b. e, sobretudo, muito rápida. Testámos a nova hyper naked da Yamaha, a mais equipada das Master of Torque.

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A Yamaha MT-10 SP 2022 está disponível no mercado português a partir de 18.250 euros

Menos 35cv fazem a diferença? Depende. Um condutor profissional dirá certamente que sim: numa pista de corridas, 35cv podem fazer uma vitória. Mas, fora da pista, menos pode ser mais. Com o binário do motor disponível mais cedo, a potência bruta importa menos a quem anda na estrada.

O resultado é sempre impressionante, em especial acima das 6000 rpm, rotação na qual o motor da MT-10 dá um salto que parece nunca mais acabar. Os quatro cilindros em linha são simultaneamente suaves e poderosos, a herança desportiva da R1 foi aplacada sem comprometer, em momento algum, a emoção. Este motor CP4 é puro divertimento.

A nova Yamaha MT-10 (a partir de 15.550 euros) é o que se pode chamar uma adaptação à estrada do modelo de pista. A Master of Torque (MT) partilha com a superdesportiva R1 o quadro, as ajudas electrónicas à condução e o motor de 998 cc, ao qual foram retirados os tais 35cv de potência.

Ou seja, em vez dos 200cv da R1, o motor da MT-10 foi afinado para debitar apenas 165cv. Mas não foi esta a única alteração no motor: a Yamaha aumentou o binário nas rotações mais baixas, o que permite extrair potência da MT-10 sem que seja preciso andar sempre aos gritos — nos motores de combustão interna, a potência máxima fica geralmente disponível a altas rotações; às 11.500 rpm no caso da MT-10 e às 13.500 rpm na R1; o máximo de binário (torque) é atingido às 9000 rpm na MT-10 e às 11.500 rpm na R1.

O motor CP4 é a “estrela” da MT-10
O ecrã é “importado” da R1 e merecia uma actualização no tamanho e no aspecto. Não possui conectividade Bluetooth, mas vem equipada de origem com tomada de isqueiro
A suspensão da direcção é fundamental para controlar o desempenho da MT-10 SP
As bombas de travagem da Brembo e os pistões da Nissin nos grandes discos dianteiros garantem uma travagem forte. Na versão SP a suspensão é da Öhlins
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O motor CP4 é a “estrela” da MT-10
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Estas afinações fazem parte da adaptação de motor da R1 para a MT-10 desde o primeiro modelo, de 2016. Apesar de partilharem vários componentes, o produto final tem propósitos diferentes. Ao contrário da superdesportiva, a MT-10 tem uma posição de condução confortável, apenas ligeiramente inclinada, e o consumo de combustível foi melhorado através da subtracção de um dente na roda traseira da transmissão, o que aumenta a relação da engrenagem — a média anunciada é de 6,8 l/100 km, mas no nosso teste, em percurso misto e andamento normal, gastámos 8,5 l/100 km.

A tecnologia importada da R1, entretanto distribuída por outros modelos da marca, inclui o sensor de inércia (IMU) de seis eixos para controlo de tracção e ABS em curva, controlo de derrapagem e anticavalinho (bem necessário, diga-se), bem como o ecrã TFT de 4,2 polegadas — bastante completo na informação que disponibiliza, mas tem um desenho desactualizado e merecia ser um pouco maior.

​Confortável... mas só para umas voltas (e fora da cidade)

A Yamaha MT-10 é confortável, embora não a possamos comparar com uma moto de turismo feita para fazer quilómetros — como a Tracer 9, para dar um exemplo da marca. Adequa-se mais a passeios curtos em estradas sinuosas, já que a entrega de potência na saída de curva é maravilhosa. O banco é firme e, apesar de a suspensão ser bastante competente, a posição de condução convoca o cansaço em percursos mais longos, nomeadamente em auto-estrada, também pela ausência de protecção aerodinâmica.

Já para o passageiro, devem ficar reservadas distâncias ainda mais curtas, já que o pisa pés é elevado e o banco é estreito. Dá para umas voltas breves, apenas. Além disso, é uma moto sem capacidade de carga: por baixo do banco não cabe, sequer, uma pequena garrafa de água, e colocar uma mala traseira que sirva também de encosto é quase uma heresia estética.

A MT-10 é muito ágil e mexe-se bem entre os carros, mas não parece ser uma moto desenhada para andar na cidade. Precisa de espaço para exprimir o fulgor. É como um bicho açaimado: apesar da suavidade, o poder do motor e as relações de caixa não permitem, em percurso citadino, ir além da segunda mudança.

A nova MT-10 está equipada com suspensão da KYB, mas a versão mais desportiva recebeu a suspensão de segunda geração da empresa sueca Öhlins. Este é talvez o principal “extra” que encontramos na MT-10 SP (desde 18.250 euros) — as letras SP (Sport Production) designam as versões mais equipadas e “desportivas” da marca japonesa. Esta suspensão da Öhlins tem três modos ajustáveis electronicamente, sendo o terceiro, o mais macio, verdadeiramente eficaz na absorção dos impactos das estradas calcetadas.

A suspensão da Öhlins é controlada electronicamente
As bombas de óleo do sistema de travagem são da Brembo em ambas as rodas na versão SP
Detalhe do cilindro da Brembo
Na versão SP os tudo do óleo de travão são em malha de aço, mais resistentes às alterações de pressão e temperatura
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A suspensão da Öhlins é controlada electronicamente

À semelhança do que acontece com a tricilíndrica MT-9 (e Tracer 9), o controlo de tracção divide-se em quatro modos, que vão do mais agressivo (modo A) ao mais suave (modo D), que podemos equivaler ao “modo chuva” — ainda assim, a meter respeito.

No nosso teste, encontrámos no modo B o melhor compromisso de resposta, mas convém frisar que a MT-10 não é uma moto para iniciados. As ajudas electrónicas são essenciais; na sua ausência, cada aceleração um nadinha mais agressiva teria como resultado levantar a roda da frente. Estamos a falar de um motor com uma capacidade de aceleração fenomenal, capaz de fazer 0-200 km/h em menos de dez segundos.

O acelerador electrónico, embora preciso, exige cuidado para contrariar uma certa “vontade própria” — uma maneira leve de dizer que é demasiado fácil irmos atrás da excitação. Talvez por isso (ou a antecipar a recomendação da União Europeia), a MT-10 tem limitador de velocidade, uma opção comum nos automóveis, mas ainda pouco vista nos motociclos. Activado através de um duplo toque no botão do cruise control, o limitador de velocidade faz o que o nome indica: corta a aceleração no valor definido.

Além de toda a electrónica, a variante SP distingue-se pela combinação de cor exclusiva Icon Perfomance (cinza, azul e preto), a par de uma carenagem inferior que lhe confere uma linha estética diferente. Além disso, a SP inclui tubos de travão de malha de aço que reforçam o poderoso sistema de bomba de óleo da marca italiana Brembo. Em conjunto com os quatro pistões da Nissin sobre o disco de 320 mm, a força e precisão de travagem é tão impressionante quanto a aceleração — qualquer motociclista sabe que, mais importante do que pôr uma moto a andar, é fazê-la parar.

A MT-10 SP está disponível apenas na combinação de cor Icon Performance
O acabamento geral é bom
Detalhe da transmissão. O pneu traseiro da Bridgstone tem perfil 190/55
Escape em titânio. O som é viciante
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A MT-10 SP está disponível apenas na combinação de cor Icon Performance

Os “extras” da SP acrescentam dois quilos de peso à versão base (a MT-10 pesa 212 quilos, incluindo óleo e combustível), o que não deverá comprometer a ciclística (apenas testámos a MT-10 SP), mas o peso desses extras acrescentam 2700 euros ao preço. À parte o aspecto mais exclusivo, o upgrade valerá a pena, sem dúvida, pela suspensão electrónica da Öhlins. O motor é exactamente o mesmo e andam o mesmo e, também importante, soam de maneira igual.

O sistema de escape, em titânio, cumpre (obviamente) com a norma de emissões Euro 5 sem comprometer o magnífico som do motor de quatro cilindros. Sabemos que o futuro é eléctrico e que já começou a chegar às motos, mas o som deste CP4 é coisa para deixar saudades.

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