Honda NT1100: conforto automático num “sofá com rodas”

A NT1100 segue o legado estradista da marca japonesa. Calhou-nos a sorte de testar o modelo desta moto de turismo com caixa automática — e foi uma boa surpresa.

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A nova Honda NT1100 está disponível na versão com caixa de velocidades convencional (14.675 euros) e com caixa automática (15.700 euros) Honda

A Honda tem uma história relevante de grandes estradistas. As icónicas Gold Wing e Pan-European, com grandes motores (entre os 1100 cc e os 1800 cc) e outros atributos e preços a condizer, marcaram durante anos o segmento das GT (grand touring), com a série de média gama Deauville (NT650 e NT700) num patamar mais acessível.

O fim da Pan-European e da Deauville em meados da década passada — a Gold Wing tem um novo modelo — deixou a Honda ausente das listas das desportivas de turismo nos últimos anos. Este segmento tem sofrido uma grande evolução, a par da explosão (e “febre”) das “Adventure” (ADV), motos com capacidade de utilização mista estrada/todo-o-terreno, onde se inclui a Honda Africa Twin (CRF).

Foi precisamente neste modelo que a marca encontrou a válvula de escape que lhe permitiu voltar este ano às listas das desportivas de estrada. A Honda pegou na fórmula de sucesso da Africa Twin e, usando o mesmo quadro e motor bicilíndrico de 1100 cc, afinou o conjunto para construir uma moto de turismo.

Detalhe das luzes de presença (toda a iluminação é LED). Os deflectores de plástico para os punhos parecem frágeis, mas são eficazes Honda
A Honda NT1100 está disponível apenas em três cores: cinza, preto e branco Honda
A Honda NT1100 está disponível apenas em três cores: preto, cinza e branco Honda
A Honda NT1100 está disponível apenas em três cores: branco, cinza e preto Honda
A posição de condução é direita. O ecrã tem cinco posições com grande amplitude Honda
O sistema de travagem da Nissin é potente. Os discos dianteiros têm 310 mm. A NT vem equipada com pneus Metzeler Honda
As malas laterais acompanham a cor da carroceria Honda
A mala traseira é um opcional quase obrigatório. Na imagem, o pack que inclui os bancos e o encosto para o passageiro mais confortáveis Honda
O descanso central vem equipado de série. Pareceu-nos posicionado demasiado próximo do acesso ao descanso lateral Honda,Honda
A NT com caixa automática tem travão de mão. O cruise control não nos pareceu bem colocado junto ao acelerador, pois é muito difícil de activar sem variações de velocidade Honda
O lado esquerdo tem demasiados botões — e todos mereciam ser retroiluminados DR
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Detalhe das luzes de presença (toda a iluminação é LED). Os deflectores de plástico para os punhos parecem frágeis, mas são eficazes Honda

DCT: uma boa surpresa

A caixa de mudanças automáticas já existe nas motos há muito tempo (nas scooters), mas demorou a chegar aos segmentos mais desportivos, talvez por resistência dos consumidores que acham que sabem engrenar mudanças melhor do que as máquinas. Claro que não sabem e seguramente muitos serão surpreendidos, como nós fomos, pela eficiência da caixa DCT (“dual-clutch transmission”, dupla embraiagem) da Honda.

Criada há dez anos, equipa agora meia dúzia de modelos da marca com indiscutível sucesso. Porquê? Porque é fiável, porque se adapta a todos os modos de condução (sim, desportivo também), porque sofre menos desgaste interno do que as caixas convencionais e porque faz o veículo gastar menos combustível. É mais pesada e mais cara, mas vale a pena experimentar.

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A NT1100 com caixa automática é mil euros mais cara que a convencional e dez quilos mais pesada Honda

Foi o que fizemos. A Honda cedeu-nos uma NT1100 com DCT — esperávamos o bloco normal com “quick shifter” (sistema que permite que as mudanças sejam engrenadas sem que seja necessário usar a manete da embraiagem), a solução mais adoptada no segmento das desportivas de turismo — e ainda bem que assim foi.

  • Consulte as especificações técnicas aqui.

Sim, é possível fazer uma condução desportiva com esta caixa, em parte graças aos modos de transmissão Sport (são três níveis, que diferem nas rotações a que a mudança mais alta engrena) e em dois botões junto ao punho esquerdo que permitem mudar a relação de caixa manualmente, à semelhança do que acontece, nos carros, com as patilhas atrás do volante. Os mais puristas podem ainda usar esta caixa em modo totalmente manual.

A DCT é bastante dinâmica nos modos Sport (particularmente nos modos S2 e S3). O modo S1 pareceu-nos adequado para o dia-a-dia. O base, designado AT (automático) é mais “pastelão”, mas é através dele que se conseguem os melhores consumos, com a marca a anunciar uma média de 5 L/100 km — no nosso teste, em trajecto misto, fizemos 5,2 L/100 km, sempre a utilizar os modos Sport.

A NT1100 herdou o sistema multimédia da Africa Twin. É de fácil leitura e peca apenas por ser lento no arranque Honda
A activação do sistema CarPlay (Apple) apenas pode ser feita por cabo — a NT já vem com ficha USB Honda
A activação do sistema Android Auto apenas pode ser feita por cabo — a NT já tem instalada uma ficha USB Honda
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A NT1100 herdou o sistema multimédia da Africa Twin. É de fácil leitura e peca apenas por ser lento no arranque Honda

O bloco bicilíndrico de 1084 cc é conhecido pelo elevado binário (104 Nm) e essa força aparece muito cedo e atinge o máximo às 6250 rotações — os 100 cavalos de potência estão disponíveis quase a entrar no vermelho, às 7250 rotações.

A elevada volumetria do motor faz-se sentir especialmente em baixas, com um “bater” que passa para o guiador em todas as faixas de rotações, o que se torna cansativo e constitui um ponto negativo para a condução prolongada. Isto é particularmente notório no arranque, ao ponto de fazer parecer que a moto está prestes a ir abaixo. Mas não vai, nunca vai. Essa é uma das maravilhas da caixa DCT e um argumento importante para os condutores citadinos.

Sem ser excitante, o desempenho da NT1100 é despachado. É menos potente do que a concorrência (Kawasaki Versys 1000, Yamaha Tracer 9, BMW F900XR ou Ducati Multistrada 950, por exemplo), mais virada para o turismo (secção onde a marca a apresenta oficialmente) do que para o desportivo e esse é o perfil de utilizadores que a Honda pretende captar. O principal argumento da nova NT é outro e faz-se sentir no corpo todo.

Um “sofá com rodas”

A sensação é imediata: o extraordinário conforto da NT1100 nota-se logo nos primeiros metros e, horas depois, não desvanece. Feita para fazer quilómetros (a autonomia anunciada é de 400 km), a suspensão proporciona conforto em todos os pisos sem que seja preciso recorrer à electrónica — e o banco Confort que testámos ajudou bastante.

Mas um dos aspectos cruciais é a “bolha” proporcionada pelo ecrã: conseguimos rolar em auto-estrada a 120 km/h com a viseira do capacete completamente aberta e sem qualquer sensação de desconforto (prática que não se recomenda, por segurança, mas é ilustrativa).

A NT está talhada para a estrada e por isso inclui, de origem, controlo electrónico de velocidade, punhos aquecidos e malas laterais — a top case é opcional mas recomendada, quanto mais não seja para servir de encosto ao passageiro. As malas laterais são fáceis de tirar, mas o desenho da moto faz com que não seja preciso: são esguias e ultrapassam em muito pouco a largura do guiador, não comprometendo por aí além a circulação em cidade.

O perfil esguio das malas permite a utilização na cidade quase sem limitações Honda
Os sacos para as malas laterais estão incluídos. Não conseguimos colocar em nenhuma delas um capacete de tamanho médio DR
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O perfil esguio das malas permite a utilização na cidade quase sem limitações Honda

O pacote tecnológico que a Honda oferece de origem neste modelo contribui para cativar o público mais jovem. O painel, também herdado da Africa Twin, permite a ligação via bluetooth ao telemóvel e, através de cabo, a utilização dos sistemas Android Auto e CarPlay. Para tal, a NT1100 vem instalada com ficha USB e tomada de “isqueiro” de 12 volts.

No painel de instrumentos táctil de 6,5 polegadas podemos ainda seleccionar um de três modos de condução: Urbano, Chuva e Viagem, bem como configurar a potência de motor e controlos de tracção e anticavalinho nos dois modos manuais disponíveis.

A Honda teve atenção aos detalhes e equipou a nova NT com piscas com cancelamento automático (qualquer condutor, de motos e carros, sabe a diferença que isto faz) e com um sistema de emergência que liga os quatro piscas quando detecta um abrandamento abrupto.

O sistema de travagem da Nissin é poderoso e capaz de fazer parar rapidamente os duzentos e muitos quilos que, na verdade, só se fazem sentir quando a moto está parada. A agilidade é outro dos grandes atributos desta NT1100, a que juntamos a força do motor, o pacote tecnológico e, sobretudo, o conforto.

A Honda entra de novo no patamar das grandes estradistas de inspiração desportiva (e acessíveis), mas para já apenas é possível experimentá-la. O modelo encontra-se esgotado em Portugal e a marca estima que o prazo de entrega possa variar entre quatro e seis meses.

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