Secretário de Estado admite existir “usurpação de poder” na Federação de judo

João Paulo Correia, ouvido em sede de audição parlamentar, lamenta falta de bom senso na gestão do organismo.

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João Paulo Correia, secretário de Estado do Desporto LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, admitiu existir um cenário de "abuso de confiança e usurpação de poderes" na Federação Portuguesa de Judo, da parte do ex-presidente. Em audição requerida pelos grupos parlamentares do PSD e do PS, o governante deixou claro que as denúncias efectuadas e as declarações prestadas na terça-feira podem configurar essa situação e dar lugar a um novo inquérito ao antigo dirigente.

"Aquilo que ouvimos ontem [terça-feira] foi um conjunto de denúncias que podem configurar usurpação de poderes e abuso de confiança por parte do ex-presidente da Federação de judo, com a conivência da actual direcção da FPJ. E ouvimos também denúncias acerca da ausência de um departamento técnico no seio da federação, revelando que o ex-presidente exercia funções para além das funções da presidência, funções técnicas. Inevitavelmente, darão lugar a um novo inquérito, que terá de ser célere e conclusivo", sublinhou o SEDJ.

João Paulo Correia lembrou que o papel fiscalizador pertence ao Instituto Português da Juventude e do Desporto (IPDJ), que o tem feito, e que da parte do Governo existe o garante de que o IPDJ tem as condições necessárias para exercer essa função.

"A entidade que fiscaliza é o IPDJ, o Governo tem de assegurar que o IPDJ tem condições para essa actividade fiscalizadora, mas, no caso concreto, após a carta aberta [as denúncias de um grupo de sete judocas em Agosto do último ano], entendi que devia exercer uma função de diplomacia, com a federação e atletas", lembrou.

Na audição, o governante procurou não só historiar o processo, desde a tentativa de diálogo, aos inquéritos e auditoria à Federação Portuguesa de Judo, que ainda decorre, por parte do IPDJ, como vincar a "limitação" da secretaria de Estado, não avançando, em prol da preparação olímpica, com uma retirada de estatuto de utilidade pública à FPJ.

"A faculdade de retirar a utilidade pública será sempre de última instância, que impedirá o Estado de financiar a modalidade [...]. O nosso principal objectivo foi garantir o apoio à modalidade a um ano e três meses dos Jogos de Paris2024. Apesar desta crise, grave, desde a primeira hora procurámos garantir o financiamento, para que os atletas, estes que exerceram o direito de denúncia, não tivessem em causa a preparação para Jogos Olímpicos e Paralímpicos", justificou.

Para o governante, a crise no judo, que "desprestigia a modalidade", passa também pela falta de bom senso, extensível aos órgãos em funções da Federação Portuguesa de Judo, a quem teceu duras críticas de conivência com Jorge Fernandes, o ex-presidente, destituído em Dezembro.

"O que faltou sempre foi bom senso, isto não acontecia se a Assembleia Geral tivesse recusado a lista de Jorge Fernandes [a uma recandidatura, que o tribunal desconvocou]", disse o secretário de Estado. "Se houver bom senso por parte dos órgãos sociais, o assunto fica resolvido no minuto seguinte. Porque é manifestamente público que o ex-presidente Jorge Fernandes está, com o seu comportamento e atitudes, e com algumas conivências, a implodir o prestígio de uma modalidade que ajudou a afirmar o desporto nacional na cena internacional", concluiu.