A empresária brasileira Giovanna Tavares tinha 14 anos quando se assumiu como mulher transgénero. Oito anos depois chegou a Portugal à procura de melhores condições de vida e de se lançar no empreendedorismo, com o objectivo de melhorar a vida de pessoas como ela. É por isso que apresenta as primeiras cuecas portuguesas pensadas na anatomia transgénero. A TLoveT esteve na ModaLisboa, no passado fim-de-semana, mas sem ser vista.
Tudo começou por uma necessidade da própria empresária, que não encontrava roupa interior adequada à sua fisionomia. Essa procura constante tinha impacto na sua própria saúde mental e autoconfiança, confessa. Tentou de tudo, incluindo algumas soluções que deixavam mazelas, até que uma amiga lhe lançou um desafio: “Por que não lanças uma marca de lingerie para transgénero?”
Giovanna Tavares aceitou o desafio a pensar em si e em todas as mulheres transgénero que não fizeram a transição completa. “Ainda não fiz a transição e nem me sinto com vontade para isso. Aliás se tivesse feito, não estava aqui a desenvolver um produto para este corpo”, explica ao PÚBLICO.
O resultado são dois modelos de cuecas, umas mais reduzidas (27€) e outras modeladoras (37€), fabricadas em neoprene, um material isotérmico, “mais elástico” e com uma “maior compreensão”, que protege a genitália e traz conforto. Outro elemento diferenciador é a largura da base das cuecas, visivelmente maior do que as que se encontram em lojas tradicionais. Além disso, esteticamente “são modelos mais sensuais”, que trazem “um bocadinho dessa sensualidade que a mulher transgénero já tem”.
TLoveT é baptizada a partir de “trans é amor”. E declara: “Quero desconstruir aquele estereótipo de que trans só traz coisas ruins e trazer visibilidade para estes corpos.” Como parte dessa missão, apresentou o produto na semana da moda lisboeta, ainda que de forma oculta. “A ModaLisboa está a tirar-nos de um submundo e a trazer-nos para algo grandioso”, agradece.
Todas as modelos transgénero utilizaram a roupa interior da marca na passerelle, em desfiles como o de Nuno Baltazar, Valentim Quaresma ou no concurso Sangue Novo. “Toda a gente aplaudiu, mas ninguém viu”, diz, com humor.
Lançar o projecto é um marco fundamental e uma conquista no percurso de Giovanna Tavares. “Quando me assumi transexual, fui apedrejada à porta da minha escola. Foi um período bem difícil. E agora olhe para mim: a lançar a primeira marca portuguesa de lingerie para pessoas trans”, celebra. E acrescenta: “Sei que tenho uma missão aqui. Ajudar todas a sentirem-se bonitas e femininas.”
A adesão à TLoveT, à venda desde 18 de Fevereiro, tem sido “fantástica”, continua. A ideia é expandir a linha para outros modelos e cores. É tudo “orgulhosamente” produzido em Portugal, numa fábrica de roupa interior na zona da Marinha Grande.
Além da venda directa no site da marca epónima de cosméticos de Giovanna Tavares, a empresária quer promover o sistema de revenda, para que outras mulheres transgénero possam vender as cuecas e “ganhar” com essa troca. “Quero criar um movimento”, termina.