Ainda sem fundos europeus, Portugal Fashion procura ajuda para desenhar o futuro
A Associação Nacional de Jovens Empresários, que organiza o PF, assinou um memorando de entendimento com a Universidade Católica Portuguesa e a consultora Deloitte para planear os próximos anos.
O Portugal Fashion (PF) assinou, nesta terça-feira, um memorando de entendimento entre a Associação Nacional de Jovens Empresários, ANJE, a Universidade Católica Portuguesa e a consultora Deloitte, com vista a desenvolver um plano estratégico para os próximos três anos. A ideia é que se encontrem estratégias para tornar financeiramente mais estável o evento de moda do Porto, explica ao PÚBLICO a directora do certame, Mónica Neto.
O encontro desta terça-feira marca o arranque da 52.ª edição do PF e dos trabalhos, que se espera darem frutos “nos próximos meses”. A decisão estratégica surge depois de a ANJE ter ameaçado, em Outubro passado, não ter capacidade financeira para continuar a organizar a semana da moda. O ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, acabaria por garantir a continuidade dos fundos europeus para manter o PF.
Contudo, as candidaturas ao Portugal 2030 ainda não se iniciaram e a ANJE procurou alternativas. “A Católica e a Deloitte vão conduzir uma metodologia de reflexão e diagnóstico para desenvolver um plano estratégico para 2023-2026”, informa Mónica Neto. O objectivo é perceber como o evento se pode tornar mais estável, aproximando-se crescentemente da indústria e dos parceiros institucionais e afastando-se “da instabilidade financeira e burocrática que os fundos ditam”.
O trabalho começa a ser desenvolvido já este mês e durante Abril, com um diagnóstico ao evento, depois serão constituídos grupos de trabalho, diz a agência Lusa: o "grupo indústria", composto por empresários, gestores, associações sectoriais e investidores, e o "grupo moda", composto por criadores, compradores, influenciadores e jornalistas.
Em Maio serão apresentadas as primeiras conclusões e uma parte da estratégia desenhada para que o evento contribua para o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal. A ideia é que em Outubro já sejam aplicados alguns dos "conselhos", revela Mónica Neto ao PÚBLICO.
Caso a candidatura do Portugal 2030 seja aprovada, tem efeitos retroactivos — ou seja, a ANJE consegue ser reembolsada pelo que investiu. Ainda assim, Mónica Neto lembra que o objectivo é que dependam menos dos fundos comunitários e mais do investimento privado — o dinheiro público é especialmente importante para a internacionalização da moda de autor, como a participação em semanas de moda estrangeiras.
“É publicamente conhecido que os fundos comunitários são uma alavanca para um projecto. Estamos numa fase de maturidade e ganhamos consciência que tem de haver uma estratégia complementar”, assevera. De lembrar que o PF tem tentado ganhar independência dos fundos. Antes desta crise, apenas 50% do custo de cada edição — cerca de 900 mil euros no total — estava a ser suportado por dinheiro europeu.
Mais uma edição de compromisso
Esta edição, a decorrer até sábado, 18 de Março, volta a ser o que a organização chama de “compromisso”, realizada apenas com 450 mil euros de orçamento. “A expectativa é que possamos retroagir quando abrirem candidaturas, ainda assim há algum grau de risco e quisemos dimensionar o evento a isso, mas mantendo as marcas”, sublinha.
Esses compromissos espelham-se na diminuição do número de modelos, por exemplo, mas também na localização do evento. Em vez de acontecer na tradicional Alfândega do Porto, os desfiles terão lugar na Rua Latino Coelho, num espaço conhecido pelos portuenses como Garagem Fiat. O PF volta a espalhar a moda pela cidade, através de dez eventos com parceiros comerciais e de retalho, como o El Corte Inglès ou o NorteShopping.
A ligação à indústria e ao lado de negócio da moda é o que distingue o PF do seu evento irmão — a ModaLisboa. Em 2018, os dois eventos de moda nacionais assinaram um acordo de cooperação, que se mantém, mas sem acções programadas por falta de fundos, já que era focado na internacionalização conjunta da moda de autor portuguesa. “Não tendo novidades sobre o financiamento comunitário faz com que esse plano de acção tenha um interregno. Esperamos dar uma resposta a esse plano de acção com o novo financiamento”, promete Mónica Neto.
Ligar os criadores de moda à indústria, defende, é uma forma de cimentar “a criação de marca”, que Portugal “ainda precisa de melhorar”. E insiste: “São sinergias que podem dar estabilidade à moda de autor.”
Durante os próximos quatro dias, no Porto, não vão faltar nomes conhecidos como Alexandra Moura, Diogo Miranda, Maria Gambina, Marques’Almeida, Pedro Pedro e Susana Bettencourt. Do calendário de 34 desfiles estão ausentes os consagrados Alves Gonçalves, que estão a desenvolver um projecto em paralelo, ligado ao fardamento.
Esta quarta-feira, o dia é dedicado aos novos talentos com a plataforma Bloom, “Precisamos da energia dos jovens para começar”, destaca a directora do PF.
Dos dez eventos previstos pela cidade, Mónica Neto destaca a apresentação do trabalho dos artesãos da seda de Freixo de Espada à Cinta, agendado para sábado, no complexo de museus WOW, em Vila Nova de Gaia. “Queremos mostrar como a moda do Portugal moderno também pode promover a inovação e a criatividade daquilo que são as tradições”, termina.