Saúde mental dos estudantes universitários “em declínio” — principalmente nas alunas

O inquérito contou com as respostas de 2084 estudantes universitários e mostra que 48% têm sintomas de depressão, ansiedade ou perda de controlo.

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Mais de metade dos estudantes universitários apresenta algum sintoma de ansiedade ou depressão Dmytro Betsenko/Getty Images

A saúde mental dos estudantes universitários portugueses não está bem: quase metade (48%) mostra ter sintomatologia grave do foro psicológico, como depressão, ansiedade ou perda de controlo. Estes são os resultados de um inquérito realizado pela RYSE, associação juvenil que está a desenvolver acções contra o burnout académico, e a Associação Nacional de Estudantes de Psicologia, divulgado esta sexta-feira.

O inquérito procurava fazer um ponto de situação sobre o estado da saúde mental e bem-estar dos estudantes portugueses. Para isso, foram desafiados a responder a perguntas para fazer uma auto-avaliação tendo em conta várias dimensões — ansiedade, depressão, perda de controlo, laços emocionais e afecto positivo. Responderam a este questionário 2084 estudantes, entre 19 de Outubro e 19 de Novembro de 2022.

Este é um "instrumento de rastreio", que não serve para diagnosticar, salientam os autores. O objectivo é averiguar a "existência de sintomas possivelmente alarmantes" para fazer "uma análise e compreensão inicial do estado psicológico dos estudantes universitários portugueses". E o que mostrou foram "valores de saúde mental baixos" entre eles.

Raparigas mais afectadas

As raparigas parecem ser mais afectadas do que os rapazes, mostram os números. "As participantes do género feminino apresentam níveis de bem-estar psicológico geral significativamente mais baixos do que os indivíduos do género masculino", lê-se. E não só o bem-estar é mais baixo, como as condições psicológicas são "mais graves em todas as dimensões", com excepção daquela relacionada com os laços emocionais.

Pelo menos 22,8% dos estudantes que responderam a este inquérito já tinham recebido um diagnóstico prévio de doença mental — e quem já tinha essa informação teve também resultados mais baixos "do que os de sujeitos sem qualquer diagnóstico" nas diversas dimensões em estudo.

Relativamente ao grau de escolaridade, os alunos que frequentam uma licenciatura revelaram valores de bem-estar psicológico significativamente mais baixos do que os estudantes que integram um mestrado. Os resultados não mostram diferenças significativas entre estudantes deslocados ou a viver na área de residência durante o ano lectivo, concluindo, assim, que o bem-estar psicológico dos alunos universitários pode não ser afectado significativamente por estes factores.

Lê-se no relatório que os resultados "vão ao encontro da literatura, uma vez que estudantes universitários em variados países europeus, e pelo mundo, demonstram níveis elevados de ansiedade, angústia psicológica e depressão, comparativamente com a norma de pré-pandemia".

Os autores ensaiam algumas explicações: às consequências da pandemia de covid-19, juntou-se a guerra na Ucrânia e o consequente impacto "no mercado de trabalho". "Assim, torna-se inevitável um declínio significativo no bem-estar psicológico dos estudantes universitários", concluem.

O presidente da RYSE e estudante de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro, José Mesquita, fala em “estatísticas preocupantes” e apela à acção dos "órgãos competentes", que insta a ouvirem os jovens: “A nossa geração atravessa adversidades pelas quais nenhuma outra geração passou e a indiferença para com os jovens de hoje faz diferença nos adultos do amanhã.”

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