Na Champions, o PSG vai ter de trocar um “pianista” por um “operário”

Nenhuma equipa fica melhor sem o talento de Neymar? A pergunta é complexa, mas o futuro do PSG depende de como se resolva essa equação.

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Neymar, lesionado, não vai jogar mais nesta temporada Reuters/CHRISTIAN HARTMANN

O PSG vai ter, nesta quarta-feira, contra o Bayern Munique, um jogo algo filosófico pela frente na Liga dos Campeões. Sobre o jargão do “carregador de piano”, a filosofia futebolística diz que não basta ter “pianistas” para ganhar. É preciso quem leve o piano até ao palco. No fundo, quem colabore no “concerto” sem ter aplausos. É disto que se fala quando “cai no colo” do treinador do PSG a possibilidade de montar uma equipa sem Neymar, mas sem que isso lhe crie um espinhoso problema de balneário.

Para seguir para os quartos-de-final da Champions, o PSG tem de reverter, frente ao Bayern o 1-0 sofrido na primeira mão — e fazê-lo sem um dos três “pianistas”: Neymar.

O jogador brasileiro vai ser operado ao tornozelo e não jogará mais nesta temporada. Para muitos treinadores, ficarem sem um craque desta dimensão seria um suplício. Para Christophe Galtier, poderá ser uma bênção — a tese é do ex-internacional francês Dugarry.

“Estou feliz pelo PSG que Neymar se tenha lesionado. Acredito que é um golpe de sorte incrível para Galtier, que já deveria ter tido a coragem de tirar Neymar, era a única solução. Já não aguento mais ver o futebol dele. Não consigo. É um sofrimento vê-lo a fintar, ver o seu comportamento. Não quero vê-lo em campo novamente”, atirou, à Radio Monte Carlo.

Três centrais e os artistas na frente

A formulação “dugarrynesca” está revestida de desdém pelo talento de Neymar, que, para uns, é o jogador mais entusiasmante do futebol mundial, mas, para outros, é um empecilho para uma equipa que tenha Mbappé e Messi. E, por estranho que pareça, as duas teses até são conciliáveis.

No fundo, aquilo que se pede ao PSG é que mostre que é possível jogar mais com talento a menos. E o futebol está recheado de casos em que isso foi cabalmente demonstrado.

Sem Neymar, os espectadores e a equipa perderão magia e invenção – e isso não deveria ser de desdenhar facilmente, como se houvesse clones de Neymar ao virar da esquina. Mas, sem Neymar, Galtier até poderá desenhar, como desenhou nos últimos dois jogos, uma equipa mais equilibrada, sem que isso signifique deixar de fora uma das três estrelas. E também isso não é de se desdenhar, fazendo entrar mais um “operário”.

Um sistema de três centrais, como já testado mais do que uma vez, poderá libertar “comboios” como Hakimi e Mendes, havendo Messi e Mbappé na frente. E, sem Neymar, a reacção à perda da bola não estará refém de três jogadores, mas apenas dois. E controlar um jogo, seja com mais um médio tecnicamente capaz ou mais um central, será uma missão teoricamente mais acessível.

Quem desconfie da tese de que talento a menos dê futebol a mais poderá argumentar que caberia a um treinador competente saber como conjugar o trio MNM. Nessa medida, Galtier, que nem sempre foi capaz de resolver essa equação, poderá ter recebido uma bênção com a lesão de Neymar. Ou então acabará o jogo a queixar-se de que a capacidade técnica do brasileiro nos desequilíbrios fez falta – e provavelmente vai fazer.

Milan em vantagem

No outro jogo da noite, também a partir das 20h, vão jogar Tottenham e AC Milan, num cenário semelhante ao do duelo franco-germânico. Também há um resultado de 1-0 na primeira mão, mas com uma diferença: quem tem de ganhar o jogo vai poder fazê-lo em casa.

O Tottenham sofreu um golo de Brahim Díaz logo aos 7’, em San Siro, mas não pode queixar-se do que quer que seja, depois de um desempenho pálido.

É certo que o Milan não foi muito melhor – o jogo foi globalmente aborrecido –, mas fez mais por vencer. E esse golo poderá ter muito peso, até pela perda de qualidade recente dos ingleses, que vêm de duas derrotas na Premier League.

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