Neymar evoca Pelé, mas Brasil cai ante a Croácia nos penáltis
Maldição europeia confirma-se frente aos reis dos castigos máximos.
O Brasil está fora do Mundial, tendo caído, esta sexta-feira, nos penáltis (4-2, após 1-1 no prolongamento), aos pés da especialista Croácia, primeira selecção a atingir as meias-finais do Qatar 2022. Neymar ainda deu, na viragem do prolongamento, esperança aos brasileiros. Mas a resistência croata confirmou a maldição brasileira frente a selecções europeias. Rodrygo e Marquinhos falharam dos 11 metros e a Croácia fica à espera de Países Baixos ou Argentina.
Mas antes do prolongamento e dos penáltis, a Croácia tentou condicionar o jogo associativo do Brasil, obrigando o adversário a jogar no fio da navalha, começando a dar corpo à ideia de Tite junto à área de influência de Alisson.
O Brasil experimentava inesperadas dificuldades, que procurou suprimir com a integração do lateral esquerdo adaptado Danilo (Alex Sandro começou no banco) em zonas mais interiores para depois explorar o espaço criado por Vinícius na extrema-esquerda.
E foi desse modo que o Brasil rompeu as amarras para chegar com perigo ao ataque, momento de jogo que vivia muito da relação entre Vinícius Júnior e Neymar, que procurava o 77.º golo para igualar a marca de Pelé oficialmente reconhecida pela FIFA.
Enquanto tentava entorpecer os brasileiros, a Croácia espreitava algumas variações da direita para as investidas aéreas de Perisic, conseguindo, no processo, lembrar aos pentacampeões mundiais que as selecções europeias têm sido uma barreira intransponível em fases a eliminar desde o Mundial de 2002, na Coreia/Japão, em que o Brasil bateu a Alemanha na final.
Desde então, o desfecho dos duelos com os europeus tem sido fatal para as aspirações da selecção "canarinha". Para adensar as dúvidas que a Croácia ia levantando, Danilo e Militão davam indicações de poderem forçar uma substituição prematura, ambos por problemas físicos.
Entretanto, o cronómetro avançava sem que qualquer das equipas se destacasse, apesar da ligeira vantagem brasileira no capítulo dos remates enquadrados com a baliza, mas não necessariamente perigosos.
Brasil a apertar o cerco
O intervalo chegava sob o signo do equilíbrio, anunciando uma segunda parte mais objectiva. Sem qualquer derrota no Qatar (em Mundiais, soma 11 encontros e apenas a derrota na final do Rússia 2018), à medida que o Brasil apertava o cerco, a Croácia começava a depositar grandes esperanças na "tradição" dos penáltis.
Livakovic ia aquecendo com uma mão-cheia de defesas, adiando sine die o golo dos sul-americanos, que encostavam Modric e companhia às cordas, onde a Croácia continuava a resistir depois da entrada em cena de Rodrygo e Antony, o principal dinamizador dos brasileiros.
Com uma equipa mais desgastada fisicamente, Zlatko Dalic pagava para ver e mexia no ataque, num bluff descarado, já que os croatas estavam mais empenhados em garantir um prolongamento do que propriamente em desafiar as probabilidades de decidir a passagem às meias-finais num assomo de génio.
Por sua vez, o Brasil ia esgotando os recursos, mantendo Neymar como baluarte de um ataque que não engrenava e que nada pôde fazer para evitar mais 30 minutos de futebol para resolver a eliminatória.
No prolongamento, depois de 15 minutos em que o Brasil parecia impotente para dobrar os croatas - que até estiveram na iminência de marcar por Brozovic (103') -, Neymar usou o minuto de compensação da primeira metade do tempo extra para fazer magia e colocar o Brasil a um passo das meias-finais.
O avançado do PSG entrou na área em sucessivas em triangulações, com Rodrygo e Paquetá, para receber na cara de Livakovic e, com classe, evocar Pelé com o 77.º golo ao serviço do "escrete".
Um serviço quase completo, a deixar a Croácia à beirinha do precipício, que desafiou durante grande parte dos últimos jogos a eliminar em Mundiais, numa atracção aparentemente fatal, com direito a mergulho sem rede. Destino que parecia incapaz de evitar até à aparição de Petkovic (117'), a repor a igualdade e a forçar os penáltis, num lance em que o desvio de Marquinhos foi providencial.
Na roleta, o Brasil quebrou e Neymar nem sequer teve ocasião de bater Livakovic, que parou o remate de Rodrygo e viu o poste devolver o tiro de Marquinhos, colocando a Croácia na meia-final.