Chefes de equipa da urgência geral do Hospital de Loures demitem-se

Onze chefes de equipa da urgência dizem que fizeram vários alertas para a falta de médicos. Pedido de demissão é conhecido um dia depois de o hospital anunciar fecho da urgência pediátrica à noite.

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A urgência pediátrica do Hospital de Loures vai fechar durante a noite Rui Gaudencio

Onze chefes de equipa da urgência geral do Hospital Beatriz Ângelo (Loures) apresentaram esta quarta-feira a demissão em bloco. Os médicos explicam, em carta, que por várias vezes alertaram para a “escassez de recursos humanos” que faz com que o hospital esteja a viver “os piores momentos da sua história”.

“Os médicos desta casa (os que vão ficando) têm feito diversos apelos às suas chefias denunciando a situação grave, perigosa e desumana que vivemos hoje em dia”, sublinham na carta citada pela agência Lusa e em que referem que, ao longo dos últimos meses, têm saído especialistas do serviço de medicina interna do internamento e da equipa dedicada do serviço de urgência geral.

“Apesar dos múltiplos pedidos de resolução desta situação, das inúmeras escusas de responsabilidade dos elementos das equipas, da saída de tantos profissionais, nada foi feito, a não ser pedir a estes profissionais, já cansados, que façam mais e mais horas”, lamentam.

​O pedido de demissão do cargo apresentado pelos chefes de equipa foi confirmado pela assessoria do hospital ao PÚBLICO, frisando que os médicos continuam a trabalhar no serviço.

A carta foi divulgada um dia depois de o Hospital de Loures ter anunciado que vai deixar de ter a urgência pediátrica aberta ao exterior ao fim-de-semana e à noite (entre as 21h e as 9h) a partir desta quarta-feira, por falta de pediatras para completar as escalas, na sequência da saída de seis especialistas para outros hospitais.

É uma “decisão transitória” que “decorre da dificuldade de preenchimento das escalas que, até ao momento, não foi possível ultrapassar”, assegurou a administração do hospital.

Reorganização das urgências pediátricas

Para dar resposta à falta de pediatras, está, entretanto, a ser preparado pela Direcção Executiva do Serviço Nacional de Saúde um plano de reorganização dos serviços de urgência pediátrica dos hospitais da área metropolitana de Lisboa, que deverá ser apresentado na próxima semana.

A Direcção Executiva especificou, na segunda-feira, que estão a ser discutidos “diferentes cenários de reorganização” da rede composta pelos 12 hospitais com serviços de pediatria na Área Metropolitana de Lisboa e que será avaliada em reunião geral, na próxima semana, "o modelo que melhor defende os utentes”.

Além dos representantes dos 12 serviços de pediatria, na reunião vão participar a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), a linha SNS24, a unidade técnica operacional e a comissão executiva nomeadas para estudar a reorganização da rede de urgências pediátricas, especificou.

Esta quarta-feira, em resposta escrita ao PÚBLICO, a Direcção Executiva do SNS esclareceu que o processo do Hospital de Loures tem “características muito próprias e específicas, não tendo sido possível, de acordo com a administração da instituição, aguardar pelo plano regional, em função da limitação de recursos humanos existente”.

Esta situação será, porém, incluída na discussão da próxima semana, “de forma a salvaguardar uma estratégia robusta que garanta segurança, previsibilidade e, acima de tudo, acesso para as crianças e adolescentes dos concelhos de Loures, Odivelas e Sobral de Monte Agraço”, acrescenta. O Hospital Beatriz Ângelo, que fez mais de 54 mil atendimentos na urgência de pediatria em 2022, serve ainda a população de Mafra.

As crianças e adolescentes que necessitarem de atendimento urgente à noite passam a ter que dirigir-se aos hospitais de Santa Maria ou ao pediátrico Dona Estefânia, em Lisboa. Ao fim-de-semana, além destes dois hospitais, podem recorrer ao São Francisco Xavier, também em Lisboa, informou a Direcção Executiva do SNS. Se tiverem que ser internados, serão reencaminhados para o Hospital de Loures.

Depois de ser gerido em regime de parceria público-privada (PPP) durante dez anos, o Hospital Beatriz Ângelo passou para a esfera pública em 2022.

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