Camila defende “liberdade de expressão” após polémica com obras de Dahl

“Por favor, mantenham-se verdadeiros ao vosso chamamento, independentemente daquelas que possam querer restringir ou impor limites à vossa imaginação”, exortou a rainha consorte aos escritores.

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Carlos III e Camila no segundo aniversário do clube de leitura da rainha consorte Reuters/POOL
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A rainha consorte fala com os autores Michael Morpurgo e Carol Hughes Reuters/POOL

Os monarcas britânicos são conhecidos por pouco opinar sobre a actualidade. Mas, desta vez, a rainha consorte Camila decidiu abrir uma excepção à regra e, de um modo subtil, comentou a polémica actual com as alterações a termos considerados ofensivos nos livros do autor Roald Dahl, conhecido por clássicos como Charlie e a Fábrica de Chocolate ou James e o Pêssego Gigante. Num discurso, a mulher de Carlos III apelou a que a todos os autores resistam aos limites que se tentam impor à “liberdade de expressão”.

Camila falava na Clarence House, esta quinta-feira, a propósito do segundo aniversário do seu clube de leitura online, dirigindo-se aos autores britânicos presentes na plateia: “Por favor, mantenham-se verdadeiros ao vosso chamamento, independentemente daqueles que possam querer restringir ou impor limites à vossa imaginação.”

Apesar de não ter mencionado directamente a situação de Roald Dahl, essa foi a interpretação dos presentes, que a aplaudiram. “Chega desta conversa”, terminou, antes de prosseguir com a cerimónia, cita o jornal britânico The Telegraph. Entre os autores reunidos para celebrar a ocasião estavam William Boyd, Philippa Gregory, Charlie Mackesy, Simon Sebag-Montefiore, Victoria Hislop, Sebastian Faulks e Peter James.

A rainha destacou o papel que os escritores desempenham ao conseguirem “abrir os olhos” aos leitores para outras experiências e pediu-lhes que nunca percam o "enorme orgulho” na sua profissão. O clube de leitura de Camila criado quando ainda era a duquesa de Cornualha, tem como principal objectivo tornar mais acessível a leitura, aproximando leitores e autores. A Queen’s Reading Room (numa tradução livre, a Sala de Leitura da Rainha) foi a primeira associação criada em nome da rainha consorte.

Em Junho deste ano, Camila vai organizar o seu primeiro festival literário, dedicado aos mais pequenos e a cimentar o gosto pela leitura, anunciou ainda a monarca durante o evento na Clarence House, onde esteve acompanhada pelo rei Carlos III. O casal será coroado a 6 de Maio na Abadia de Westminster, em Londres.

No início desta semana, foi dado a conhecer que a editora de Roald Dahl (1916-1990) está a reescrever passagens dos seus livros para remover termos que considera ofensivos — como “gordo” ou “doido” — e acrescentar frases que não foram redigidas pelo autor, para que as obras “possam continuar a ser apreciadas por todos hoje em dia”.

A medida já foi criticada por autores como Salman Rushdie, que equiparou a operação a um acto de “censura”, e pelo primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak. A editora dos livros de Dahl em Portugal, a Oficina do Livro, avançou ao PÚBLICO que actualmente não tem instruções para mudar as traduções.

Um dos administradores da Queen’s Reading Room, Gyles Brandreth, contou ter uma primeira edição dos livros de Roald Dahl que leu aos filhos e netos. “Não estou a planear destruí-los”, declarou, ao The Telegraph. E acrescentou: “Os escritores gostam de se sentir livres para escrever.”

Gyles Brandreth recorda ter conhecido Dahl há 40 anos quando ambos eram publicados pela editora Puffin Books e partilharam uma viagem de comboio. “Tivemos uma discussão sobre alguma coisa e lembro-me de ele me dizer ‘É possível discordar de uma pessoa e ainda assim achá-la interessante”, relata.

Há vários anos que a mulher do rei britânico tem dado a conhecer o seu interesse e paixão pelos livros, pela leitura e sua promoção. Além do seu próprio clube de leitura, a rainha consorte também apadrinha instituições de caridade que promovem a alfabetização.

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