Louçã acusa Costa de usar o Parlamento para “promover Ventura”

Ex-líder do Bloco vaticina que PSD fará acordo com o Chega “sem um minuto de hesitação.”

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Francisco Louçã liderou o BE entre 2005 e 2012 daniel rocha

O ex-líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, acusa António Costa de usar de forma “deliberada e sistematicamente o Parlamento para promover André Ventura, como o seu contraponto.”

Em entrevista neste domingo ao Jornal de Notícias e à TSF, o ideólogo do Bloco afirma que a “degradação da organização política favorece o crescimento da extrema-direita” sublinhando que cabe à Esquerda “combater o extremismo, ocupando o campo social e dando respostas aos problemas diários das pessoas.”

Questionado sobre se os partidos e o presidente da Assembleia da República têm lidado de forma adequada com o Chega, Louçã responde: “A minha resposta é que não. Há estratégias diferenciadas. Para o PS, o Chega é o euromilhões, porque entende que, na falta de uma resposta social, a possibilidade de convocar o medo como argumento político é um seguro de vida. O PS utiliza o Chega de uma outra forma, não para se aliar, mas para se opor. Para usar o Chega junto dos eleitores de esquerda que detestem a política social do PS e dele desconfiem, mas que possam ser puxados pelo medo de que haja uma maioria de direita junto com o Chega."

Já em relação a um futuro entendimento político entre o partido de André Ventura e o PSD, o ex-coordenador do Bloco de Esquerda afirma que o “PSD está dividido e paralisado sobre o risco de ter de fazer um acordo com o Chega”, mas que o “fará sem um minuto de hesitação, se as circunstâncias assim o empurrarem ou lhe permitirem.”

Para Francisco Louçã, André Ventura é o rosto da direita e o rosto da esquerda foi Catarina Martins que, na terça-feira anunciou que vai deixar a liderança do BE, depois de uma década à frente do partido. Mariana Mortágua é apontada para suceder a Catarina Martins, mas o ex-líder do partido não se quer envolver na sucessão. "Há outras pessoas que têm grande relevância e têm provado extraordinariamente. Maria Matias não oferece qualquer dúvida, e outras pessoas, não são só mulheres."

Em relação à pergunta como é que se trava um fenómeno que ainda não deu sinais de desaceleração, Louçã explica que “há uma teoria do campo fechado, da fronteira, fechar a porta. Na verdade, ela não funciona. Porque todos os que a sugerem acabam por ser os primeiros a violá-la, vide Augusto Santos Silva e o Partido Socialista. Começaram por dizer "ignoremos" e agora usam o "sublinhemos". Porque, na verdade, esse espaço não vai desaparecer”. A este propósito, acrescenta ainda :" São os fantasmas que estão escondidos na política da direita portuguesa e que saíram de dentro do armário. O racismo, o ódio como uma forma de constituição de discurso, a organização de uma identidade agressiva, a desigualdade profunda, a promoção de negócios, isso já cá estava. Estava escondido, aparece e, portanto, pode crescer.”

O ex-líder do Bloco considera que os sucessivos casos e casinhos que assolaram o Governo alimentam o discurso populista. “Toda a degradação da organização política, da democracia e da estrutura de decisão favorece esse discurso populista", sustenta na entrevista.

Questionado sobre se a saída de Catarina Martins era inevitável, após um apoio ao poder que acabou por produzir um único vencedor, o PS, Louçã diz que “essa análise não tem nenhum sentido." E explica: “Não tinha nenhuma responsabilidade na direcção do Bloco quando as eleições de 2015 determinaram aquela situação de desequilíbrio em que o Partido Socialista não tinha ganho, não era maioritário, mas poderia formar uma maioria com os dois partidos à sua esquerda, mas apoiei com muito entusiasmo, porque achei que era uma mudança de que o país precisava, precisava de respirar. Foi um governo estável com negociações muito difíceis. Talvez falemos sobre isso, porque nos ensina alguma coisa sobre relações políticas num contexto de uma política de governação. E disso ganhou o país. Pensar que pode haver ganhos políticos imediatos, contraditórios com o facto de haver uma resposta fundamental ao país, acho mesquinho e falso. As eleições seguintes foram em 2019. O PS quis ver-se livre dos partidos à esquerda e não ganhou a maioria absoluta.”

Sobre o pacote de medidas para responder à crise da habitação que o Governo apresentou quinta-feira, Louçã não se entusiasma. "As medidas estão pouco explicadas e era preciso mais do que uma operação de propaganda do Governo para perceber realmente o que quer. Em 2019, António Costa prometeu 26 mil casas, para as exigências mínimas de quem não tem nada, não tem nenhuma habitação condigna, repetiu em 2022, e era para 2024, ou seja, para amanhã, não vai cumprir essa promessa", disse.

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