Mais actividade física poderia evitar 286 mortes prematuras por ano em Portugal, diz estudo

Se se cumprisse recomendação de 150 minutos semanais de actividade moderada a vigorosa, podia-se “prevenir mais de 10 mil mortes prematuras por ano nos 27 países da UE” até 2050, alertam a OCDE e OMS.

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Mais exercício físico também pode aumentar a esperança de vida e reduzir os novos casos de doenças cardiovasculares e diabetes Nuno Ferreira Santos

“Ser fisicamente activo é uma das coisas mais importantes que as pessoas podem fazer para melhorar a sua saúde mental e física”, alertam a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Se todos cumprissem a recomendação de fazer pelo menos 150 minutos por semana de actividade física moderada a vigorosa, esta medida “podia prevenir mais de 10 mil mortes prematuras por ano nos 27 países da União Europeia” até 2050. No caso de Portugal, seriam 286 mortes prematuras.

As estimativas fazem parte do relatório Step Up! Tackling The Burden of Insufficient Physical Activity in Europe, divulgado esta sexta-feira, que avalia o impacto não só na mortalidade prematura, mas também na esperança média de vida e anos de vida saudável. Assim como em termos económicos nos gastos com cuidados de saúde. Portugal é dos países com mais baixos níveis de actividade física.

O alerta sobre a necessidade de aumentar a actividade física é uma constante em todo o relatório. Mesmo reconhecendo que os países têm desenvolvido medidas para aumentar os níveis de actividade, OCDE e OMS são taxativas a dizer que “é preciso fazer mais”. Especialmente depois do impacto que a covid-19 teve, também em termos da saúde mental. Mas igualmente pela importância que tem na redução de doenças não transmissíveis como diabetes, doenças cardiovasculares e cancro.

E um dos impactos medidos é nas mortes prematuras – mortes que ocorrem em pessoas entre os 30 e os 70 anos. As mais de 10 mil mortes prematuras que podem ser evitadas por ano, com o cumprimento da recomendação de 150 minutos por semana de actividade física moderada a vigorosa, “são semelhantes ao número de mortes relacionadas com a covid-19 no mesmo grupo etário que ocorreram em 2020 na França e Alemanha, em conjunto”, salienta o documento.

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Na tabela que apresentam com o número médio de mortes prematuras estimadas por ano, entre 2022 e 2050, dos 27 países analisados, Portugal surge com 286 mortes prematuras. A Alemanha com 1584 mortes prematuras e França com 1387 mortes prematuras. Já a estimativa para o Luxemburgo é de nove.

“A taxa de mortalidade prematura relacionada com a insuficiente actividade física é mais baixa nos países do Norte da Europa, onde, entre 2022 e 2050, menos de duas pessoas por 100 mil habitantes irão morrer prematuramente todos os anos devido aos efeitos da menor actividade física (menos de 150 minutos por semana”, lê-se no relatório, que aponta a alta taxa da Roménia de mais de 5 mortes prematuras por 100 mil habitantes. A média dos 27 países membros da União Europeia é de 2,6. Portugal está um pouco acima, enquanto a Alemanha, França e Luxemburgo estão abaixo.

Mas, se em vez de 150 minutos, a população destes países cumprisse a recomendação mais alta de realizar 300 minutos por semana de actividade física, o número de mortes prematuras evitáveis nos 27 países seria perto de 30 mil, salientam.

Mais anos de vida

Os impactos de mais actividade também são visíveis no aumento da esperança de vida e na esperança de anos de vida saudável. Em termos gerais, “aumentar os níveis de actividade física para 150 minutos por semana de actividade moderada a intensiva poderia prevenir 11,5 milhões de novos casos de doenças não transmissíveis até 2050, incluindo 3,8 milhões de casos de doença cardiovascular, 3,5 milhões de casos de depressão, perto de um milhão de casos de diabetes tipo 2 e mais de 400 mil casos de cancro.”

Segundo o documento, se as pessoas que fazem menos de 150 minutos de exercício por semana aumentassem a sua actividade para este nível, a sua esperança média de vida aumentaria 7,5 meses – média dos 27 países. Já a esperança média de anos de vida saudável subiria mais 7,9 meses. O acréscimo seria ainda maior se fosse com a meta dos 300 minutos por semana.

Portugal está abaixo da média, mas os ganhos seriam igualmente consideráveis. Se as pessoas menos activas cumprissem a recomendação dos 150 minutos por semana, a sua esperança média de vida aumentaria 5,6 meses. Com os 300 minutos, aumentariam outros sete meses, fazendo um total de 12,6 meses. A Letónia é o país que apresenta maiores ganhos: 10,4 meses com os 150 minutos, que chegariam a 20 meses se fosse cumprida a meta dos 300 minutos de actividade por semana.

Quanto aos anos de vida saudável, se os portugueses com menor actividade cumprissem os 150 minutos por semana, ganhariam 6,7 meses. Com os 300 minutos, esse ganho chegaria a 14,7 meses. A Eslováquia ocupa o topo da lista: 9,8 meses com 150 minutos, a que acrescem outros 9,6 meses com os 300 minutos.

Mas as contas são feitas também ao impacto que teria na população total, pois, segundo o relatório, “a actividade física insuficiente reduz a esperança média de vida nos 27 Estados-membros da UE em 1,9 meses”. E que pode chegar aos 5,1 meses se se tiver em conta a referência maior. “Por outras palavras, se todos nos 27 países fizessem pelo menos menos 300 minutos de actividade física de intensidade moderada por semana, a expectativa de vida média do total da população aumentaria em quase meio ano.”

Para contextualizar, OCDE e OMS lembram que os Estados-membros da UE “registaram um aumento médio da esperança de vida de 2,4 meses por ano, entre 2005 e 2018, devido aos avanços nos cuidados de saúde, melhorias nas condições de trabalho e de vida, estilos de vida mais saudáveis e outros factores”.

O impacto estimado para o total da população portuguesa é de um acréscimo de 2,3 meses no aumento da esperança de vida com os 150 minutos de actividade física por semana. A que aumentariam outros 3,7 meses se fosse pelo nível superior, colocando Portugal como o sexto país que mais ganha. Já na esperança de vida saudável, Portugal ascende ao quarto lugar, ao conquistar mais 2,7 meses com os 150 minutos de actividade semanal. Que passariam a sete meses com os 300 minutos semanais. A média dos 27 é de 2 meses e 5,4 meses, respectivamente.

Menor actividade física

Mesmo antes da pandemia, que limitou a circulação em espaços públicos e encerrou ginásios durante a fase mais aguda, as recomendações da OMS estavam longe de serem cumpridas. Dando o exemplo dos adolescentes, lembra que em 2018, nos 26 países da UE, “apenas 17,6% dos rapazes e 9,6% das raparigas relataram atender à recomendação da OMS de pelo menos uma hora de actividade física moderada a vigorosa diariamente”. Sendo que “Itália, França e Portugal reportaram alguns dos níveis mais baixos de actividade física entre os adolescentes”, recordam ainda.

O relatório cita dados do inquérito do Eurobarómetro de 2022 para fazer um retrato mais actual. Nesse ano, lê-se, “quatro em cada dez (38%) adultos na UE praticavam desporto pelo menos uma vez por semana”. Mas 45% dos entrevistados afirmaram que nunca exerceram ou praticaram desporto. Já 50% relataram fazer outras actividades físicas, como andar de bicicleta, dança ou jardinagem, pelo menos uma vez por semana, enquanto 31% nunca fazem esse tipo de actividade.

Os dados do Eurobarómetro relativos a Portugal mostram que apenas 26% dos inquiridos disseram praticar um desporto regularmente ou com alguma regularidade e 73% disseram nunca o fazer. Já quanto a outras actividades, 17% afirmaram que o faziam com regularidade, enquanto 72% nunca o fazem.

Numa comparação com 2017, o relatório salienta que a média da UE pouco mudou em relação à participação no desporto. Mas a participação semanal noutras formas de actividade física aumentou, passando a média da UE de 44% para 53%. E se alguns países registaram “aumentos consideráveis” na actividade física praticada por adultos, em Portugal “a participação em ambas as formas de actividade física diminuiu”.

O relatório apresenta ainda os potenciais benefícios económicos que podem resultar do aumento da actividade física, ajustado por paridade de poder de compra (PPP). “Se as directrizes de 150 minutos de actividade física de intensidade moderada por semana fossem cumpridas, os países economizariam 0,6%, em média, das despesas com cuidados de saúde – um total de 8 mil milhões de euros por ano.” No caso português, a poupança poderia ser de 1%, a segunda maior a seguir a Malta.

Quanto ao impacto da insuficiente actividade física no total das despesas em cuidados de saúde anuais, em termos absolutos, o cumprimento das directrizes poderia resultar numa poupança de 7,7 mil milhões nos 27 países – “mais do que as despesas totais anuais com cuidados de saúde da Lituânia e do Luxemburgo combinadas”, salienta o documento. O impacto anual estimado para Portugal, até 2050, é de 229 milhões de euros PPP. A Alemanha está no topo com 2 mil milhões.

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