Quase metade das portuguesas não faz actividade física suficiente

Nos países de melhores rendimentos, a prática de exercício físico está a diminuir, avisa a OMS, o que aumenta o risco de várias doenças. Por semana é preciso fazer mais de 150 minutos de exercício moderado.

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Os peritos sugerem a criação de estruturas para motivar as pessoas a caminhar: uma via pedonal e ciclovia liga o centro de Aveiro a localidades rurais ADRIANO MIRANDA

Mais de um quarto da população mundial tem níveis de exercício abaixo do recomendado, conclui um estudo Organização Mundial da Saúde (OMS) que cruza dados de diferentes inquéritos para acompanhar a evolução da actividade física entre 2001 e 2016.

De acordo com os resultados publicados na revista Lancet, e tendo em conta os benefícios para a saúde física e mental do exercício, mais de 1,4 mil milhões de adultos “estão em risco de desenvolver ou exacerbar doenças ligadas à inactividade”.

As pessoas classificadas como inactivas fazem menos de 150 minutos de exercício moderado por semana, ou menos de 75 minutos de actividade física com “uma intensidade vigorosa”.

A análise inclui dados de 1,9 milhões de pessoas em 168 países, o que corresponde a 96% da população global. Em geral, o nível de exercício diminuiu ligeiramente entre 2001 e 2016 – a alteração explica-se com a subida de pessoas inactivas em países de altos rendimentos, como os Estados Unidos e o Reino Unido, onde a proporção passou de 32% para uma média de 37%. Já nos países de rendimentos mais baixos os níveis de actividade física insuficiente mantêm-se estáveis, nos 16%.

Portugal está ainda pior do que a média dos países considerados de alto rendimento, com mais de 40% dos adultos aquém dos valores de actividade recomendados para a saúde. Segundo os dados da OMS, 43,4% dos portugueses pratica insuficiente exercício (a média mundial é de 27,5%): as mulheres neste grupo são 48,5%; 37,5% é o valor de inactividade entre os homens.

Desigualdade entre homens e mulheres

A diferença encontrada em Portugal é uma tendência mundial: em 159 dos 168 países incluídos no estudo a prevalência de actividade física insuficiente é mais baixa nos homens do que nas mulheres. Em 65 países a diferença é de pelo menos 10 pontos percentuais, noutros nove chega aos 20 pontos.

As maiores diferenças estão no mundo árabe e muçulmano (Iraque, Arábia Saudita ou Irão), na América Latina e Caraíbas (Barbados ou Bahamas), Ásia Central e do Sul (Bangladesh é um dos exemplos) ou Norte de África, o que sugere uma combinação de questões culturais que limitam a prática de desporto às mulheres com mais tempo passado a cuidar dos filhos. A tendência é geral a quase todos os países, com excepção do Leste e Sudeste da Ásia.

Uma das formas de explicar as diferenças de actividade entre homens e mulheres, dizem os investigadores, “é avaliar a participação em diferentes domínios de actividade (no trabalho, casa, transportes ou tempo de lazer) e as diferentes intensidades dessa prática (moderada e vigorosa)”. Ora “anteriores estudos já indicam que as mulheres tendem a realizar menos actividades de lazer e mais actividades de baixa intensidade”.

Transição nos países de alto rendimento

Os peritos dizem que a diminuição de actividade física nos países de mais altos rendimentos se prende com a evolução para empregos e passatempos mais sedentários, ao mesmo tempo que foi crescendo o uso de transportes pessoas motorizados. Em países mais pobres as pessoas têm tendência a andar mais, tanto nas idas e vindas de casa para o emprego como no exercício que o próprio trabalho pode envolver (na agricultura, por exemplo).

Para combater esta tendência, os especialistas sugerem aos governos que criem e mantenham infra-estruturas que promovam a prática de desporto e aumentem o tempo que as pessoas passam a caminhar ou a andar de bicicleta.

Moçambique e Uganda são dois países onde as pessoas são mais activas, com apenas 6% de inactividade física.

Objectivos por cumprir

Os benefícios da actividade física estão há muito comprovados e “incluem menores riscos de doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes e cancro da mama e do cólon”. Ao mesmo tempo, conhecem-se bem os “efeitos positivos na saúde mental, como o adiar dos sinais de demência e a contribuição para manter um peso saudável”.

Actualmente, mais de um quarto da população (27,5%) não faz actividade física suficiente – estimativas anteriores (baseada em menos inquéritos do que os cruzados pelo estudo agora divulgado) mostram que em 2010 eram 23,3% as pessoas aquém do exercício recomendado.

Os Estados-membros da OMS comprometeram-se a reduzir a prevalência de actividade física insuficiente em 10% até 2025 – é um dos nove objectivos para melhorar a prevenção e o tratamento de doenças não transmissíveis e os autores do estudo avisam desde sem alterações drásticas não será cumprido.

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