Coração: a prevenção na ordem do dia
Um melhor estilo de vida e o diagnóstico precoce devem ser uma prioridade para que a doença coronária não avance e progrida, muitas vezes de forma silenciosa.
Ao longo do tempo os factores de risco cardiovascular — como a hipertensão arterial, colesterol elevado, excesso de peso ou obesidade, diabetes, tabagismo, entre outros — vão provocando pequenas lesões no endotélio, a camada mais interior das artérias, fazendo com que haja deposição de células inflamatórias, cálcio e colesterol. Assim se desenvolve a aterosclerose.
Falamos de doença coronária porque é o território mais frequentemente afectado por este fenómeno, mas qualquer artéria do nosso corpo pode apresentar esta doença.
Quando se dá uma obstrução importante numa artéria coronária, uma parte do coração não recebe sangue suficiente para o trabalho que tem de realizar. A este fenómeno dá-se o nome de isquemia.
A doença coronária pode levar a eventos isquémicos agudos, tal como o enfarte agudo do miocárdio, ou crónicos como a angina estável (a angina de peito). O elemento comum é a dor no peito e a sensação de peso ou pressão que pode irradiar para o braço esquerdo ou pescoço. O que muda é a duração da mesma, sendo mais prolongada no enfarte, habitualmente mais de 20 minutos, e mais curta na angina, normalmente até dez a 15 minutos.
O enfarte normalmente apresenta uma intensidade de dor mais elevada com outro tipo de sintomas como suores, má disposição, náuseas e vómitos. Mas a apresentação pode ser muito variável, diferente de pessoa para pessoa e nos casos mais graves surgir em forma de desmaio e até de morte súbita. Alguém com estes sintomas deve pedir ajuda e recorrer aos serviços de saúde o mais rapidamente possível.
O diagnóstico é feito através de um electrocardiograma e de análises de sangue. Dependendo da gravidade existe a indicação para fazer um cateterismo de forma mais ou menos precoce. Este procedimento serve para perceber qual a artéria que apresenta a obstrução e permitir a sua abertura de modo a restabelecer o fluxo de sangue proporcionando uma correcta oxigenação do músculo cardíaco.
O diagnóstico da angina estável faz-se com recurso a meios complementares de diagnóstico, como a prova de esforço ou outro tipo de testes de isquemia mais sofisticados como a cintigrafia, o eco de sobrecarga ou a ressonância magnética de perfusão. Estes exames funcionais têm a capacidade de olhar para o coração de forma direta e ver as alterações que ocorrem quando o miocárdio apresenta falta de oxigénio. Existe ainda outro método não invasivo que consegue desenhar as artérias coronárias com contraste que é o angioTAC coronário e perceber com grande precisão as várias lesões e obstruções que possam já existir.
De modo a prevenir esta doença há que ter um estilo de vida saudável, com uma dieta adequada que privilegie alimentos vegetais não processados como legumes, leguminosas, cereais integrais e fruta. Não esquecer de ingerir todos os dias um punhado de frutos secos e algumas sementes.
Para dar mais sabor à comida temperar com ervas aromáticas e especiarias, pondo de lado o sal. Para manter o colesterol baixo, para além da ingestão de uma boa quantidade de fibra acima descrita, há que ingerir doses modestas de produtos animais como ovos e lacticínios, dando preferência ao peixe em detrimento da carne. Modere ainda o consumo de álcool.
Por outro lado, também o exercício físico é fundamental para um estilo de vida saudável. Ele permite uma melhor regulação do peso, previne diabetes ou tende a controlar melhor a glicemia em pessoas diabéticas. Actua também como anti-inflamatório melhorando a saúde das nossas artérias reforçando ossos e músculos. Desempenha também um papel fundamental na prevenção de demência e mesmo de doenças mentais como a depressão. Não é preciso ser atleta, mas um mínimo de 30 minutos por dia, cinco dias por semana, de caminhadas com intensidade moderada. Se fizer uma hora nos mesmos cinco dias faz ainda melhor.
Tenha uma avaliação regular com o seu médico assistente, monitorize a sua tensão arterial, verifique os seus níveis sanguíneos de açúcar e de colesterol. Não fume ou pare rapidamente de fumar e não seja sedentário.
Se tem vários destes factores de risco ou se tem uma história familiar de doença cardiovascular, peça ao seu médico uma avaliação de risco cardiovascular. Hoje existem ferramentas mais sensíveis para detectar a doença coronária de forma mais precisa e precoce. Para além dos exames já mencionados podemos medir a quantidade de cálcio existente nas artérias coronárias através de uma simples TAC. É o chamado score de cálcio e dá-nos uma estimativa do envelhecimento destas artérias.
A avaliação médica, bem como a realização de todos estes exames cardíacos, deve ser feita por equipas de cardiologistas experientes no diagnóstico desta doença.
Um melhor estilo de vida e o diagnóstico precoce devem ser uma prioridade para que a doença coronária não avance e progrida, muitas vezes de forma silenciosa. A sua detecção atempada permite um melhor planeamento do seu tratamento de modo a reduzir o impacto negativo na qualidade de vida bem como reduzir o risco de enfarte e de morte. Não se esqueça, fale como o seu médico e mantenha a saúde do seu coração.
O autor escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990