Liberais perdem em Berlim e as consequências podem ser nacionais
Partido do ministro das Finanças, Christian Lindner, quer “seguir mais os seus interesses” na coligação “semáforo”.
As eleições em Berlim, que tiveram de ser repetidas por ordem judicial, terão resultados a nível nacional: o Partido Liberal Democrata (FDP), terceiro na coligação com o Partido Social-Democrata do chanceler, Olaf Scholz, e os Verdes, não conseguiu chegar aos 5% necessários para eleger deputados para o parlamento da capital que é também um estado federado.
É a quinta eleição seguida em que os liberais têm um mau resultado depois das legislativas de 2021: não conseguiram eleger deputados no Sarre, em Schleswig-Holstein mantiveram-se no parlamento mas com 6,4% e saíram da coligação no poder no estado, o mesmo na Renânia do Norte-Vestefália (5,9% e deixarem de estar no governo) e ainda na Baixa Saxónia 4,7%, falhando assim a representação parlamentar, enumera a agência alemã DPA.
Os liberais são o partido da coligação que mais desceu nas sondagens: os sociais-democratas também caíram mas não tanto, e descidas de 4 ou 5 pontos percentuais têm mais efeito num partido mais pequeno.
O resultado em Berlim terá “obviamente” consequências no plano nacional, disse o secretário-geral do partido, Bijan Djir-Sarai, ainda na noite eleitoral, à televisão pública ZDF. “O FPD deve ter mais voz do que antes.”
Djir-Sarai apontou mesmo o dedo aos Verdes, que são um “grande desafio”. Os dois partidos, Verdes e FDP tiveram um desentendimento muito público na questão da extensão do funcionamento das centrais na Alemanha, que levou o chanceler a usar um poder de decisão que raramente é utilizado para sair do impasse.
O professor de política da Universidade Livre de Berlim Thorsten Faas apontou, em declarações à ZDF, os liberais como os principais perdedores das eleições, e notou que a sua presença na coligação no Governo nacional é parte do problema. "No fundo, os liberais não sabem responder à pergunta 'porque é bom o FDP estar nesta coligação semáforo?'" (a coligação chama-se assim pelas cores dos partidos, vermelho, amarelo e verde).
Quem governa a cidade?
A CDU conseguiu uma vitória na repetição das eleições devido ao caos eleitoral que aconteceu na capital onde as legislativas coincidiram com as eleições para a cidade e ainda com um referendo. O partido obteve 28,2%, mais dez pontos percentuais do que na eleição agora declarada inválida de 2021, e a mesma diferença em relação aos segundos partidos – SPD e Verdes, ambos com 18,4%.
O candidato do partido conservador, Kai Wegner, a agradecer “o mandato claro para um governo” liderado pela CDU – algo que terá factor local, com descontentamento com o governo da cidade, mas também nacional, com a CDU a ganhar nas sondagens e o SPD a perder.
O problema de formar uma coligação é que em Berlim os partidos são mais distantes, no espectro político, do que a nível nacional, e nenhum parece muito disposto a coligar-se com a CDU, embora o SPD não o tivesse excluído.
A coligação actual, liderada por Franziska Giffey, junto com os Verdes e Die Linke (A Esquerda) poderia repetir-se (A Esquerda teve 12%, menos dois pontos percentuais).
A primeira reacção da candidata dos Verdes, Bettina Jarasch, foi a de continuar a coligação, “sob liderança dos Verdes”, mas entretanto o resultado que parecia igual para os dois partidos foi decidido por apenas 105 votos: 278.978 para o SPD e 278.873 para os Verdes.
Numa análise aos resultados na RBB, estação de televisão pública de Berlim e Brandeburgo, o jornalista Sebastian Schöbel traça um panorama de desalento, notando que os três principais candidatos (CDU, SPD e Verdes) “perderam nos seus respectivos círculos eleitorais”.
Uma sondagem do instituto Infratest Dimap mostra que nem um terço dos eleitores quer uma coligação da CDU com o SPD, e menos ainda uma coligação CDU-Verdes.
Em Berlim, conclui Sebastian Schöbel, as pessoas “parecem não querer nenhum governo”: “uma cidade escolhe o impasse” é o título da análise.