Sismo
Alepo, a cidade síria (duplamente) destruída pela guerra e pelo terramoto
Antes do sismo que afectou o Noroeste da Síria, Alepo já era uma cidade dilapidada pela guerra. Fome, frio e epidemias de cólera já faziam parte do quotidiano dos muitos refugiados internos que ali se estabeleceram. O violento terramoto de 6 de Fevereiro provocou uma segunda vaga de destruição. E agora?
O som de edifícios em colapso não é novo para os residentes da cidade de Alepo, na Síria, país em guerra civil desde 2011. No dia 6 de Fevereiro, no entanto, o estrondo foi acompanhado de um chão que fugia debaixo dos pés, de tectos que desmoronavam sobre as cabeças. Uma vez mais, milhares escavam por entre destroços numa aflitiva busca por sobreviventes do violento sismo que atingiu o Sudeste da Turquia e o Noroeste da Síria.
Ao longo dos mais de dez anos de guerra civil, o país mergulhou numa profunda crise económica que transformou 13 milhões de sírios em refugiados, internos e externos. A ONU confirma a morte de mais 306 mil civis em consequência directa da guerra; quem sobrevive fá-lo sob o manto de pobreza que cobre o território.
Em Maio de 2022, a Al Jazeera dava conta de que Síria atravessava o período económico mais crítico desde o início da guerra. A escassez de combustíveis no país tornou o fornecimento eléctrico reduzido e esparso. Sem água quente para tomar banho e sem energia para preparar refeições, os sírios recorreram a todo o tipo de materiais para provocar combustão, desde óleo industrial até roupas ou lixo. Os transportes públicos foram suspensos devido à falta de combustível, deixando milhares sem forma de se deslocar para os seus empregos.
Em Setembro do ano passado, um surto de cólera que teve origem no rio Eufrates assolou o país, afectando sobretudo a região Norte, agravando as condições de vida da população. Em Novembro, os Médicos Sem Fronteiras davam conta da existência de mais de 12 mil casos activos, as Nações Unidas suspeitam da existência de mais de 60 mil casos. Em comparação com o período pré-guerra, segundo dados da Unicef, mantêm-se em funcionamento menos de metade das infra-estruturas de saúde; os danos nos equipamentos e as perdas de pessoal médico, no entanto, condicionam a resposta das que ainda resistem. A pressão causada pela pandemia de covid-19 sobre o sistema de saúde deteriorou o acesso e a qualidade do serviço prestado à população.
Assim, agora vive-se na Síria uma situação de emergência num cenário de emergência. Até ao momento, já foram declarados 1700 óbitos em consequência do sismo. As equipas de salvamento lidam com condições climáticas adversas nas buscas por sobreviventes.