Poemas breves sobre a beleza dos pormenores

Um haiku é um poema de versos curtos, com origem no Japão. Aqui, viaja-se pelas quatro estações do ano.

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“O mar, tão liso, parece, em cada onda, dar um suspiro” Luciano Lozano
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“Antes da queda, as folhas têm já a cor da terra” Luciano Lozano
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“Esvaziado, encheu-se de murmúrios o velho búzio” Luciano Lozano
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Capa do livro Tempo de Haikus, editado pela Akiara Books Luciano Lozano

Começa-se pelo Outono: “Antes da queda, as folhas têm já a cor da terra./ Vento de Outono. Os caminhos repletos de folhas mortas./ Lavrando o campo, o tractor desenterra a luz de Outubro.”

Quem assim escreve um “poema muito breve com apenas três versos curtos” é J.N. Santaeulàlia, que se apresenta deste modo aos leitores: “Sou de Banyolas, na Catalunha, e vivi nesta cidade do lago a maior parte da minha vida. Fui professor de catalão num par de escolas secundárias e escrevi romances, livros de viagens e poesia. Gosto de muitas coisas da cultura japonesa, como por exemplo do haiku, que é uma poesia muito breve: cada haiku tem apenas três versos. Gosto de escrever, viajar, passear de bicicleta, cozinhar, brincar com a minha neta…”

Sobre o Inverno: “Boneco de neve: não ficaram pegadas atrás de ti?/ Vento e pinheiro saciam-se um ao outro junto ao caminho./ Sol de Fevereiro. Não consigo alcançar a minha sombra.”

A acompanhá-lo nestes textos curtos, que incidem sobre instantes de descoberta da beleza dos pormenores, está o ilustrador Luciano Lozano. É assim que se dá a conhecer: “Nasci no ano em que o homem pisou a Lua pela primeira vez. Talvez seja por isso que, desde pequeno, viajo muito. Vivo entre Barcelona e Benalmádena, na Andaluzia. Há 15 anos que trabalho como ilustrador. Antes, estudei Turismo e trabalhei em agências de viagens, comboios e aeroportos. Estive no Japão duas vezes. A primeira foi uma aventura de cinco dias em Tóquio, sem reserva de hotel e sem saber muito bem o que fazer. Regressava do meu primeiro ano de ilustração em Londres e passei os cinco dias a desenhar. Surpreendeu-me imenso a estética japonesa e tenho a sensação de que essa viagem e essa estética se fundem, de alguma maneira, no meu trabalho de ilustração.”

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“Vento de Outono. Os caminhos repletos de folhas mortas” Luciano Lozano

As imagens que cria são aprazíveis e envolventes, conseguem levar o leitor para paisagens que nunca frequentou, mas que lhe parecem próximas. E há uma certa candura nesta estética por vezes minimal.

Uma fotografia feita de palavras

Primavera: “Passam e passam, rasantes sobre o charco, as andorinhas./ Tarde de Abril. As mãos do vento afagam searas verdes./ A água leva rio abaixo o vermelho das papoilas.”

O haiku, como aqui se mostra, é uma descrição breve “de um elemento fugaz do mundo à nossa volta”. Tal como uma fotografia, a captar um instante poético. Só que com palavras. Leitores de todas as idades podem dele desfrutar.

Prossegue o ilustrador: “Gosto das palavras, mas também dos silêncios; da música contemporânea e da clássica; da intensidade e da subtileza; das letras e dos espaços em branco; da lírica e do humor; da imagem e do texto; da mente, mas também do corpo; das viagens e de estar em casa; dos amigos e também da solidão; de dormir acompanhado e sozinho; da independência, mas também do compromisso; de ponderar todas as opções para depois me deixar levar pela música do acaso, porque há um momento para cada coisa e tudo tem o seu momento. A minha maior certeza é tentar não dar nada como certo.” Bela forma de pensar.

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“Branca de pólen, uma aragem do mar sai do choupal” Luciano Lozano

Verão: “Esvaziado, encheu-se de murmúrios o velho búzio./ Recua a onda tão-só para tomar um novo impulso./ Grande monólogo sobre a areia. O mar enrouqueceu.”

No final do livro, há um capítulo, chamemos-lhe assim, intitulado O jogo do haiku. Aí, sugere-se: “Se quiseres caçar um haiku, passeia pelo mundo com os sentidos bem despertos e a mente livre, sem distracções nem preocupações.” Vamos a isso?

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