Agricultores saem à rua em Mirandela com assobios ao Governo
A cidade transmontana juntou-se ao protesto com algumas lojas a exibirem nas montras frases de apoio aos agricultores. Durante a marcha, os agricultores pediram “respeito pela agricultura”.
Uma marcha com alguns milhares de agricultores e tractores percorreu esta quinta-feira o centro da cidade de Mirandela num protesto com assobios ao Governo contra o que consideram ser o desmantelamento do Ministério da Agricultura.
A extinção das Direcções Regionais de Agricultura e a concentração das competências das mesmas nas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) foi o motivo do primeiro, em Mirandela, no distrito de Bragança, de uma série de protestos convocada pela Confederação dos Agricultores e Portugal (CAP).
Durante a marcha, que começou no recinto da feira e terminou em frente às instalações da direcção regional, os agricultores pediram "respeito pela agricultura" e, mesmo com chuva, não desmobilizaram durante os discursos de representantes de vários sectores agrícolas. "Mais de 70 organizações de agricultores" de várias zonas do país estiveram presentes nesta manifestação em Mirandela, segundo disse o secretário-geral da CAP, Luís Mira.
A cidade transmontana juntou-se ao protesto com algumas lojas a exibirem nas montras frases de apoio aos agricultores, que quiseram mostrar "determinação" e que não se vergam "perante o poder político", prometendo que vão fazer-se ouvir "contra a incompetência de quem governa".
O secretário-geral da CAP referiu outros motivos de descontentamento como os "1.300 milhões de euros" do PDR (Plano de Desenvolvimento Rural) que ficaram "por aplicar, por transferir para os agricultores". "Não estamos aqui a manifestar-nos para pedir mais dinheiro, só queremos o dinheiro que a Europa nos disponibiliza e que temos direito a ele. O Governo funciona ao contrário, o dinheiro que nos tira dos bolsos e põe na TAP, aos agricultores não nos entrega", afirmou.
Segundo disse, "a grande maioria dos agricultores vai receber menos indemnizações da PAC (Política Agrícola Comum) que no ano passado, porque há incompetência". Criticou ainda o que classificou como "a incompetência da ministra" da Agricultura que "aceita perder funções para outros ministérios". "Estamos hoje reféns do Ministério do Ambiente e travados por ele", declarou.
Para o secretário-geral da CAP, a recente decisão de transferir as competências das direcções regionais de agricultura para as CCDR "é um sinal claro que o governo se prepara para desmembrar o Ministério da Agricultura, para acabar com ele". "E, isso, nós não vamos permitir", acrescentou.
O presidente CAP, Eduardo Oliveira e Sousa, apontou que a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte "foi a primeira a ser decapitada", pois está sem director, depois de a anterior, Carla Alves, ter sido nomeada secretária de Estado e se ter demitido no dia seguinte, devido à polémica com o marido, antigo presidente da Câmara de Vinhais.
O presidente perguntou aos agricultores presentes se já receberam ajudas para o gasóleo, para a electricidade, adubos, obtendo como resposta "não". "Mas os espanhóis estão a receber", acrescentou. Da mesma forma, continuou, acontece com os apoios prometidos para a seca, os fogos, para alimentar os animais.
Para os agricultores transmontanos, como Aristides Cadavez, o que está a acontecer "é sempre mais do mesmo", com a retirada de valências do interior para o litoral. "Em vez de tirar do interior, que tragam do litoral para o interior. Agricultura é aqui, no interior. O que é que nós temos de agricultura no litoral? Porquê complicar a vida a quem trabalha, aos agricultores neste caso, porquê tirar-lhe o centro de decisão de onde tem que estar, aqui em Trás-os-Montes, e levá-lo para a beira do mar, porquê", questionou.