Gomes Cravinho nega ter autorizado aumento de despesa nas obras do hospital militar
O ministro João Gomes Cravinho foi questionado sobre temas relacionados com Defesa na comissão de Negócios Estrangeiros.
O chefe da diplomacia portuguesa, João Gomes Cravinho, foi questionado na tarde desta terça-feira na comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros sobre o seu anterior cargo no Ministério da Defesa Nacional. Em causa, os custos das obras, em 2020, da transformação do Hospital Militar de Belém em centro do Exército contra a covid-19. O ministro dos Negócios Estrangeiros rejeita ter autorizado o aumento de custos nas obras.
Numa peculiar marcação ao ministro, PSD, Chega, IL e BE colocaram sobre a mesa os motivos que levaram uma empreitada orçada em 750 mil euros a custar 3,2 milhões. Na primeira audição regimental de Gomes Cravinho sobre as prioridades da política externa portuguesa, foi a nomeação para a Empordef do ex director-geral de Recursos da Defesa, acusado no âmbito da Operação Tempestade Perfeita, que tomou mais tempo, até mesmo do que a guerra na Ucrânia. O PCP reservou o tema para a comissão parlamentar de Defesa Nacional.
“Não tem condições para permanecer no cargo, o clima de suspeição está em cima de si”, referiu o deputado do PSD que abriu as hostilidades. André Ventura, do Chega, e Rodrigo Saraiva, da IL, puseram a mesma questão de outras formas. “Apesar de estar aqui como ministro dos Negócios Estrangeiros, não devia cá estar, acho que mentiu ao Parlamento. O Chega subscreve a posição do PSD”, assinalou Ventura. “Tem autoridade política para continuar em funções no Ministério dos Negócios Estrangeiros?”, interrogou o deputado e líder da bancada liberal.
“O tempo político impõe que eu peça esclarecimentos sobre o Hospital Militar de Belém”, justificou a bloquista Joana Mortágua. Momentos antes, o presidente da comissão esclarecera. “Não limito nem condiciono as intervenções dos deputados”, disse Sérgio Sousa Pinto, para depois, num desabafo, afirmar: “Estamos a anos-luz das nossas competências.”
Das declarações de João Gomes Cravinho, há a reter alguns pontos. Quem autorizou as obras adicionais que levaram à derrapagem, à revelia das suas competências, foi Alberto Coelho, segundo o relatório da Inspecção-Geral de Defesa Nacional. A nomeação deste para a Empordef surge depois de o relatório desta entidade não apontar para dolo, e a questão das empresas que trabalharam no hospital surge já com ele naquelas funções. E que, se considerasse que não tinha condições para continuar, já se tinha demitido de chefe da diplomacia.
Sobre o ofício revelado na última edição do Expresso que dá conta dos pedidos adicionais de obras feitos pelo Exército, Gomes Cravinho reiterou que foi informado, mas que não autorizou, e que foi prudente em não aceitar a proposta da inspecção de autorizar retroactivamente aquelas despesas. "Em nenhuma circunstância se pode imaginar que, não dizendo nada, tacitamente está aprovado", afirmou Gomes Cravinho.
À mesma hora desta terça-feira, na sala da comissão parlamentar de Defesa Nacional, decorria, à porta fechada, a última audição do almirante Silva Ribeiro como Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, que tem sucessor em Março. A reunião foi antecedida de um almoço com os coordenadores das bancadas. A audição de João Gomes Cravinho, a pedido do PSD, apoiada por toda a oposição e viabilizada pelo PS, deve decorrer já em Fevereiro. Depois das jornadas parlamentares do BE e do PCP, e do congresso do Chega.