Parlamento Europeu quer que UE designe Guardas da Revolução iranianos como terroristas
Europeus ficariam “à mercê do Daesh”, avisa Teerão. Bruxelas prepara-se para acrescentar nomes à lista de sanções. Para já, não haverá outras respostas às “execuções” e “assassínio de manifestantes”.
Teerão tinha acabado de avisar o Alto Representante da União Europeia para a Política Externa que declarar os Guardas da Revolução como uma organização terrorista terá “consequências graves” quando viu uma esmagadora maioria do Parlamento Europeu aprovar um texto que pede que sejam “incluídos na lista de organizações terroristas” e que todos os líderes iranianos, incluindo o guia supremo, o ayatollah Ali Khamenei, sejam adicionados à lista de sanções europeias.
Para os eurodeputados, estes responsáveis, assim como o Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, ou os 227 membros do Parlamento iraniano que em Novembro defenderam a pena de morte para todos os detidos na actual vaga de contestação, são igualmente responsáveis pelas “execuções de manifestantes pacíficos” e pelo “assassínio de centenas de manifestantes”. A tomada de posição desta quinta-feira é apenas simbólica, cabendo ao Conselho Europeu qualquer decisão formal, mas chegou para irritar, e muito o regime.
O Exército dos Guardas da Revolução Islâmica (os Pasdaran), verdadeiro pilar da República Islâmica, "é uma instituição oficial e soberana que desempenha um papel vital para garantir a segurança nacional do Irão e da região, em particular da luta contra o terrorismo”, afirmou, ao telefone com Borrell, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir Abdollahian. Considerar os Guardas uma organização terrorista, como os Estados Unidos fizeram em 2019, deixaria “os governos europeus à mercê do Daesh”, avisou ainda o Estado-maior do Exército iraniano, defendendo que o combate aos jihadistas depende dos Pasdaran.
Os activistas iranianos na Europa, que fizeram desta a prioridade da sua luta contra o regime, e na segunda-feira se manifestaram em Estrasburgo para pressionar a UE, festejaram, mas sabem que uma decisão final nem acontecerá em breve nem é certa. Isto apesar do apoio público de governos de vários Estados-membros, como a Alemanha ou a Suécia, ou da própria presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, à entrada dos Guardas numa lista onde estão grupos como o Hezbollah libanês ou o PKK curdo.
“A reacção do regime do Irão [aos protestos] é atroz e horrível”, afirmou Von der Leyen aos jornalistas, à margem do Fórum Económico e Social de Davos, na Suíça, na terça-feira. “Estamos, de facto, a considerar mais sanções e eu apoiaria também a inclusão dos Guardas da Revolução na lista [de organizações terroristas da UE]. Ouvi vários ministros pedir isso e penso que estão certos”, disse.
Programa nuclear
Para que uma decisão seja tomada, um Estado-membro terá de avançar, classificando internamente os Guardas da Revolução como grupo terrorista e propondo aos 27 fazerem o mesmo. O tema poderá ser debatido já na segunda-feira, na reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros, em Bruxelas, mas só haverá avanços na inclusão de novos responsáveis na lista de sanções – o que implica congelamento de contas e proibição de viajar para a UE, nada que afecte verdadeiramente as autoridades de Teerão.
Os activistas pró-democracia que há quatro meses combatem o regime dentro e fora do país querem mais, defendendo, por exemplo, que os países europeus expulsem os embaixadores iranianos das suas capitais e chamem os seus representantes em Teerão. Para a oposição, a par de classificar os Guardas da Revolução como terroristas, esta seria a medida que mais pressionaria a República Islâmica.
Nas últimas semanas, com o regime a executar os primeiros manifestantes detidos na revolta que começou em Setembro – quatro já foram executados, entre os mais de 100 que arriscam a pena capital, num total de 18 mil detidos – e a prender cada vez mais cidadãos com dupla nacionalidade (franco-iranianos ou iranianos que também são alemães, por exemplo) alguns países chamaram os embaixadores para expressar os seus protestos. O mesmo aconteceu depois da execução, no sábado, do antigo vice-ministro da Defesa, Alireza Akbari, que também tinha nacionalidade britânica, e estava detido há três anos, acusado de espiar para os serviços secretos do Reino Unido.
Mas nem os governos mais assertivos na condenação à repressão, como Berlim, dão sinais de poderem vir a expulsar embaixadores ou retirar de Teerão diplomatas. Provavelmente pelo mesmo motivo que não propõem formalmente considerar os Pasdaran um grupo terrorista: mesmo se todos afirmam que um regresso às negociações para relançar o acordo sobre o programa nuclear iraniano não esteja em cima da mesa, ninguém quer tornar esse objectivo inalcançável nem oferecer ao Irão um pretexto para avanços na sua capacidade para chegar à bomba atómica.