Um livro que nos leva para cima e para baixo
Como funciona um elevador?, quer saber a criança. As imaginativas respostas vão dos pós de perlimpimpim ao ar de um balão.
Uma frase vulgar dita por alguém num elevador ficou a ecoar na mente de Isabel Peixeiro, “vai subir ou vai descer?”, a que se juntou a prática de ter de responder a um dos filhos sobre o funcionamento de tudo, “desde o elevador ao multibanco”, descreve ao PÚBLICO via email.
“Há sempre quem pergunte ‘Vai subir ou vai descer?’/ Mas como é que funciona/ é o que quero saber. // Assim que entra, a Olívia diz-me logo confiante:/ ‘O que puxa e empurra é a mão de um gigante’.” Outras respostas hão-de ser dadas pelos vizinhos, em rimas bem-humoradas.
Diz a autora: “Uma pessoa muito importante para mim costuma dizer que escrever deve ser divertido. Lembro-me sempre disso quando brinco com ideias, com a imaginação, com o absurdo, com palavras, com o ritmo e divirto-me muito a escrever assim. Espero que se divirtam tanto a ler este livro quanto eu me diverti a escrevê-lo.”
Colaboradora do projecto Re-Word-It, que ali se ocupa no desenvolvimento de materiais didácticos para estimular a motivação e o envolvimento dos alunos na aprendizagem, Isabel Peixeiro diz-se “muito satisfeita” com este livro, que mereceu o Prémio Literário Matilde Rosa Araújo, atribuído pela Câmara Municipal da Trofa com o apoio de Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, IP.
“Acredito que quem escreve um texto tem sempre curiosidade em saber como será a ilustração, se corresponderá à imagem que tem da história. Quando vi o trabalho final, fiquei surpreendida e feliz”, conta. E continua: “As ilustrações da Soraia acrescentam movimento, a geometria enfatiza a mecânica e as cores trazem vida e alegria a um texto que pretende ter ritmo, ser divertido e espicaçar a curiosidade. Texto e ilustrações complementam-se como acredito que devem fazer num bom livro ilustrado.”
Também lhe agradou esta primeira experiência de trabalhar com a editora Tcharan e o simbolismo de ser um livro que resultou do Prémio Literário que homenageia Matilde Rosa Araújo: “Uma grande escritora que tanto me tem inspirado.”
Jogo de palavras e de imagens
A editora da Tcharan, Adélia Carvalho, que fez parte do júri, descreve: “Este conto destacou-se dos outros pela sua escrita ritmada e pela curiosidade que o tema desperta. O que faz subir ou descer um elevador? Parece uma pergunta inocente, que poderia ser feita por qualquer criança e que nos leva para o campo da imaginação e jogo de perguntas e respostas para aquilo que muitas vezes não se vê, para depois sermos surpreendidos pelo final e descobrirmos que, afinal, o elevador não sobe nem desce, nós é que não paramos de saltar.”
Elogia também o trabalho da ilustradora Soraia Oliveira: “Com um registo muito gráfico, conseguiu imprimir um bom ritmo através das suas personagens, cor e movimento, necessário ao texto, quase como se fosse um jogo. Aqui ninguém pára quieto. Estamos sempre a subir e a descer.”
Soraia Oliveira também nos deu o seu testemunho: “Com o desenvolver do projecto, tornou-se fácil ilustrar este livro. O texto da Isabel é muito rico e muito dinâmico, é um texto com muitas coisas para explorar. Tive muita liberdade durante o processo — o que é sempre óptimo! — e por isso consegui explorar diferentes camadas, criando vários níveis de leitura na ilustração. Tenho um carinho muito especial por este livro.”
Subir e descer, subir e descer
Quisemos saber quais os maiores constrangimentos, ao que nos respondeu: “No início do projecto, senti-me um pouco bloqueada e penso que isto partiu do facto de gostar tanto do texto da Isabel. Queria fazer algo ritmado, com movimento, e não estava a conseguir perceber como poderia fazê-lo. Depois de entrar na dinâmica de subir e descer, todo o processo se tornou bastante fluido.”
A ilustradora descreve também como chegou a esta linguagem visual para o livro: “Para acompanhar o ritmo do texto da Isabel, decidi criar ilustrações com cores fortes e vários elementos visuais que acompanham e reforçam a ideia de subir e descer, tão presente no texto. As formas geométricas surgiram porque o tema principal do livro é uma máquina. Estas permitiram enfatizar a mecânica do elevador — que acaba por ser uma personagem principal.”
Sobre a técnica, revela que “as ilustrações são desenvolvidas em técnica mista: desenho digital e desenho manual”, onde introduz “diferentes materiais, como grafites, lápis de cor, acrílicos, aguarelas e marcadores”.
Para terminar, a vencedora do Prémio Matilde Rosa Araújo na vertente de ilustração relata ainda: “As ilustrações retratam a descida da personagem pelos diferentes pisos do prédio. À medida que vai passando pelos andares, encontra os vizinhos que lhe dão uma possível explicação para o funcionamento do elevador. Em cada imagem, é ilustrada a imaginação do menino até à sua chegada ao piso 0 [zero].”
O livro será apresentado neste sábado na Livraria Papa-Livros, no Porto, às 16h, com a presença das autoras e onde estarão expostas as ilustrações. Que bom.