A proprietária de uma funerária, no Colorado, EUA, foi condenada a 20 anos de prisão, na terça-feira, por enganar os familiares dos mortos e comercializar partes dos corpos. Megan Hess dissecou mais de 560 cadáveres e vendeu partes dos corpos sem autorização. Os crimes ocorreram entre 2010 e 2018.
A mulher, de 46 anos, confessou-se culpada de fraude em Julho. Megan Hess tinha uma funerária, chamada Sunset Mesa, e no mesmo edifício da cidade de Montrose, tinha um outro negócio, Donor Services. Também a sua mãe, Shirley Koch, 69 anos, declarou-se culpada. O papel da mãe era cortar os corpos.
Meghan Hess foi condenada a 20 anos de prisão, o prazo máximo permitido por lei, mas a mãe foi condenada a 15 anos. “Hess e Koch usaram a sua funerária para roubar corpos e partes de corpo utilizando formulários de doação fraudulentos e forjados”, afirmou o procurador Tim Neff em tribunal. “A sua conduta causou imensa dor emocional às famílias e parentes mais próximos dos mortos”, acrescentou.
O caso federal foi desencadeado após uma série de investigação da Reuters de 2016 a 2018 sobre a venda de partes de corpo nos Estados Unidos, uma indústria praticamente não regulamentada. Antigos trabalhadores disseram à Reuters que Hess e Koch levaram a cabo desmembramentos não autorizados de corpos, e algumas semanas após a publicação de uma história de 2018, o FBI investigou as mulheres.
As mulheres foram presas em 2020. À época, um processo indicou que algumas famílias concordaram em doar pequenas amostras, como fragmentos de pele, para fins científicos, mas que a comercialização de “partes do corpo ou de corpos inteiros” não foi autorizada.
No seu processo, os procuradores sublinharam a “natureza macabra” do esquema de Hess e descreveram-no como um dos casos mais significativos na história recente dos Estados Unidos. “Este é o caso mais desgastante que alguma vez vivi em tribunal”, declarou a juíza distrital norte-americana Christine M. Arguello, durante a audiência de sentença, na terça-feira, em Grand Junction, Colorado.
Acrescentando que a arguida se recusou a assumir qualquer responsabilidade pela sua conduta, a juíza ordenou que as duas mulheres fossem enviadas para a prisão de imediato.
A advogada de Meghan Hess disse que a mulher foi injustamente chamada de bruxa e monstro, quando se trata de um “ser humano destruído”, cuja conduta pode ser atribuída a um traumatismo craniano quando tinha 18 anos. Em tribunal, a ex-empresária recusou-se a falar com a juiza. Já a sua mãe disse declarou que lamentava e assumiu a responsabilidade pelos seus actos.
Vinte e seis vítimas descreveram o seu horror ao descobrirem o que tinha acontecido aos seus entes queridos. "A nossa doce mãe, elas desmembraram-na", denunciou Erin Smith, acrescentando que venderam os ombros, joelhos e pés. “Nem sequer existe um nome para um crime tão hediondo.”
Tina Shanon, cuja mãe também foi desmembrada, disse ao tribunal: “Usei muitas máscaras para cobrir a minha dor, mas sei que nunca vou ficar bem.”
Nos EUA, é ilegal vender órgãos como corações, rins e tendões para transplante, estes devem ser doados. Contudo, não há regulamentação para outras partes do corpo, como cabeças, braços ou a coluna vertebral. Meghan Hess aproveitou esta brecha na lei para o fazer. Às famílias entregava cinzas falsas.
A mulher cometeu vários crimes, disseram os procuradores, quando defraudou familiares dos mortos ao mentir sobre cremações, ao dissecar corpos e a vendê-los sem autorização.
Já as empresas que compraram os braços, pernas, cabeças e torsos à mulher não sabiam que tinham sido obtidos de maneira fraudulenta, avançaram os procuradores.
Na sua funerária, Meghan Hess cobrou às famílias até mil dólares por cremações que nunca aconteceram, e ofereceu a outras famílias cremações gratuitas em troca de uma doação do corpo.
Os promotores disseram que a mulher mentiu a mais de 200 famílias, que receberam cinzas cremadas misturadas com os restos de diferentes cadáveres.