De jogar no Mundial a dormir nas ruas de Londres: a dura realidade de Paul James
Paul James foi internacional pela selecção do Canadá 47 vezes. Caiu na pobreza, culpa do vício das drogas, e, agora, dorme nas ruas de Londres.
Paul James é um ex-jogador de futebol, de 59 anos, que nasceu no País de Gales e, mais tarde, se naturalizou canadiano. Participou no Mundial de 1986 no México, jogando pela selecção do Canadá. Caiu no vício das drogas e, por consequência, na pobreza. Passou 13 anos desempregado, e seis sem uma casa permanente. Agora, dorme nas ruas de Londres.
De acordo com o jornal argentino Olé, Paul James foi internacional 47 vezes pelo Canadá e representou cinco clubes diferentes, entre os quais o Toronto Blizzard e o London Lasers. Treinou a equipa masculina da Universidade de York, em Toronto, conseguindo bons resultados, mas acredita que perdeu este emprego devido à discriminação contra o consumo de drogas.
Em 2009, contou aos colegas que precisava de se afastar e fazer tratamento de reabilitação, já que a condição mental e o uso de estupefacientes se tinham agravado. Esperou o apoio da equipa que treinava, mas diz que apenas lhe pediram para oficializar o despedimento, acusações que a York nega.
Tentou levar a universidade ao Tribunal de Direitos Humanos de Ontário, Canadá, sem sucesso. Não desistiu e, em 2016, levou a luta ao Supremo Tribunal do Canadá, mas, mais uma vez, as suas intenções saíram goradas. Desde então, fez pelo menos uma dúzia de greves de fome numa tentativa de conseguir que a justiça pelo uso de drogas fosse consagrada na lei.
“Nunca houve uma guerra contra as drogas”, diz o antigo central ao tablóide britânico Daily Mail, que o acompanhou ao longo dos últimos meses, nas ruas de Londres. “Como se pode ter uma guerra contra coisas inanimadas? Só tem havido uma guerra contra as pessoas. E são os mais vulneráveis que mais sofrem com a devastação do estigma: exclusão social, marginalização, pobreza.”
A sua jornada na equipa nacional do Canadá também não foi fácil. Meses após o Mundial do México, de 1986, viu-se envolvido num escândalo durante um torneio em Singapura, onde quatro jogadores do Canadá aceitaram dinheiro para influenciar os resultados. Perto da meia-final, James foi contactado para que fizesse o mesmo, algo com que concordou e recebeu dez mil dólares, o que, na época, era uma pequena fortuna. No entanto, mais tarde devolveu o dinheiro e testemunhou contra os envolvidos em tribunal.
O consumo de cocaína começou em 1998 e, nos anos que se seguiram, desenvolveu um problema com uso de substâncias ilícitas. Não era um uso diário, recorda. Por vezes, fazia intervalos de semanas ou meses, mas era o suficiente para que não conseguisse conectar-se com ninguém. Conta que substituiu as relações humanas por “mais consumo e trabalho”.
As relações pessoais que tinha não se mantiveram. Teve uma relação de seis anos com Ashley Kelly, que descreve como sendo uma “pessoa extraordinária”. Admite que a “amava, mas não tinha nada para lhe oferecer”. Não vê a família há quatro anos e apenas soube da morte da mãe, que ocorreu em Junho, dois meses depois. Mas espera poder voltar a encontrar o pai.
Refugiou-se em Londres, nos arredores de Embankment, Piccadilly e Strand. Com ele, carrega sempre os (poucos) pertences que tem: cobertores, roupas e um pequeno iPad partido. Tudo dentro de um saco de desporto preto.
Ao jornal Daily Mail, Paul James afirmou que a carreira no futebol era tudo e que nunca deveria ter faltado a um dia que fosse. Concluiu dizendo que pede dinheiro para ser independente, “para recuperar uma aparência normal; para poder usar roupa e sapatos próprios”.
Texto editado por Carla B. Ribeiro