Nomeação de Hugo Pires para o Governo pode prejudicar candidatura à Câmara de Braga

A escolha do vice-presidente da bancada do PS para secretário de Estado do Ambiente não surpreendeu socialistas do distrito por onde foi eleito.

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A escolha de Hugo Pires para secretário de Estado do Ambiente foi recebida sem surpresa pelos socialistas de Braga, distrito onde vive, onde é vereador sem pelouros e pelo qual eleito deputado à Assembleia da República.

Natural de Coimbra, Hugo Alexandre Polido Pires, de 43 anos, é licenciado em Arquitectura pela Universidade Lusíada do Porto e foi na Juventude Socialista que deu os seus primeiros passos na política, tendo sido presidente da distrital de Braga da JS.

Deputado desde 2015, Hugo Pires tem exercido as funções de vice-presidente da bancada desde 2019, onde tutelou o ambiente e energia, tendo sido co-autor da Lei de Bases do Clima. Foi também coordenador do grupo de trabalho que preparou a Lei de Bases da Habitação. Para além destas funções, Hugo Pires foi também secretário nacional do PS com o pelouro da Organização.

O ex-ministro do Ambiente e das Alterações Climáticas, João Pedro Matos Fernandes, elogia o perfil do novo secretário de Estado e aproveita para destacar a importância de haver a partir de agora uma secretaria de Estado da Energia e uma secretaria de Estado do Ambiente.

“Enquanto deputado, Hugo Pires foi o coordenador da área do ambiente e sabia muito bem das coisas de que falava. Dentro do Partido Socialista, Hugo Pires é, de facto, um dos melhores quadros políticos na área do ambiente. Acompanha de perto os temas do ambiente - todos eles -, desde a Lei do Clima, até às questões dos resíduos/embalagens. É uma pessoa com saber e com opinião nas matérias para as quais vai ser secretário de Estado”, declarou ao PÚBLICO Matos Fernandes, afirmando que o Ministério do Ambiente fica “mais equilibrado” com as duas secretarias de Estado, “o que é claramente uma vitória política por parte do ministro Duarte Cordeiro.”

No consulado do socialista Mesquita Machado, Hugo Pires ganhou notoriedade, sendo vereador responsável pela pasta do Urbanismo, da Reabilitação Urbana, da Protecção Civil e da Juventude. Nas eleições autárquicas de 2021 liderou a lista do PS à Câmara de Braga, mas a vitória escapou-lhe, arrecadando 30, 69% dos votos. Não ganhou, mas assumiu o seu lugar no executivo, sendo vereador sem pelouros.

Em Setembro de 2021, num debate na RTP3, o candidato do PS afirmou que as suas boas relações com o Governo permitiriam, no caso de ser eleito, um tratamento privilegiado do município no acesso aos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). “A partir de Outubro, como espero ser o presidente da Câmara de Braga e como tenho uma relação muito estreita com o Governo e sou candidato pelo PS, não tenho dúvidas de que esses fundos – o PRR -, será uma das ferramentas para que possamos colocar Braga na sendo do desenvolvimento”, declarou.

A sua passagem pela Câmara de Braga também lhe trouxe dissabores, tendo sido arguido no “caso das Convertidas”, processo em que esteve também envolvida a deputado socialista, Palmira Maciel.

Em Fevereiro e Março de 2016, respectivamente, os dois socialistas foram constituídos arguidos no caso da expropriação dos terrenos anexos ao convento das Convertidas, em Braga, um negócio que – alegam os investigadores – terá favorecido a filha e o genro do ex-autarca Mesquita Machado. Os deputados eram ambos vereadores na Câmara de Braga e terão participado numa votação, a 23 de Maio de 2013, relacionada com o negócio.

Nessa altura, o Parlamento levantou a imunidade parlamentar a Hugo Pires, para que pudesse ser ouvido como arguido no "caso das Convertidas". Todos os vereadores do PS envolvidos viriam a ser ilibados. Já o ex-presidente da Câmara de Braga, Mesquita Machado foi condenado.

Mesquita Machado considera que o seu ex-vereador tem perfil para o cargo de secretário de Estado e elogia a sua competência. “Já merecia ter feito parte de governos anteriores. Hugo Pires tem uma grande componente técnica, é extremamente competente e, a meu ver, a nomeação dele só perca por tardia”, diz.

“Trabalhei com ele oito anos, por isso, conheço-o muito bem e teve um desempenho notável quando organizou a Capital Europeia da Juventude, em Braga em, 2012”, acrescentou o ex-autarca do PS.

Mesquita Machado realça a ligação do deputado a Braga, mas não se quer pronunciar sobre se a ida de Hugo Pires para o Governo pode comprometer uma candidatura à autarquia bracarense em 2025, quando se abre uma janela de oportunidade para o PS com a saída de Ricardo Rio, actual presidente da câmara por limitação de mandatos.

“É muito cedo para pensarmos nisso. Hugo Pires tem excelentes qualidades para desempenhar o cargo para o qual foi nomeado e só peca por tardia. É um excelente quadro do PS e nutro por ele uma admiração muito especial porque, enquanto vereador, desempenhou o cargo com grande eficiência e acredito que vai ser um excelente secretário de Estado”, afirma em declarações ao PÚBLICO, acrescentando que o cargo de secretário de Estado do Ambiente lhe assenta que nem uma luva”.

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