Conjugar o verbo empatizar na infância

Conjugar o verbo empatizar na primeira pessoa do singular, dizer “empatizo contigo”, pode associar-se a atitudes mais pró-sociais da criança.

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"Emoções gentis como a empatia, preocupação com o outro em situações de stress surgem desde muito cedo na vida da criança" Nuno Ferreira Santos/Arquivo

Após dois anos de pandemia, e com a atual guerra na Europa, ser-se consciente das consequências das nossas próprias ações, e ganhar-se consciência do sofrimento e das necessidades do outro, nunca foi tão falado e nunca foi tão importante. Mais do que nos colocarmos nos “sapatos do outro” e sentirmos empatia, sentirmos preocupação leva-nos mais facilmente a sermos indulgentes e a tomar atitudes pró-sociais e protetoras do bem-estar não só mental, mas também físico e social do outro.

Sabemos que estas são vertentes emocionais e relacionais sobre as quais podemos trabalhar, promover e intervir não só ao nível psicoterapêutico, mas também nos contextos das famílias e das escolas. Por todos estes pretextos, e para construir uma verdadeira oposição aos comportamentos antissociais, como a agressão, preconceito, bullying escolar, guiarmos as nossas crianças para um mundo interno mais seguro e empático, para um melhor entendimento de si mesmas e dos outros resultará num desfecho que vale de certeza a pena para todos — no próprio bem-estar das crianças. Como? Criando relações consistentemente seguras, abordando estas emoções e oferecendo uma compreensão sobre os seus próprios receios e inseguranças. E, assim, permitir que se construam ferramentas não só para o futuro, mas também para a entreajuda e para uma rede de suporte emocional mais rica.

Emoções gentis como a empatia, preocupação com o outro em situações de stress surgem desde muito cedo na vida da criança. Sabemos que desde os 18 meses as crianças são capazes de expressar de forma clara sentimentos como pena, compaixão e empatia por outras pessoas, quando as circunstâncias assim o exigem. Também revelam sentimentos de culpa, quando cometem uma transgressão ou magoam o outro de alguma forma, construindo assim a noção moral de certo e errado – construção essa com os alicerces oferecidos pelos pais, enquanto figuras cuidadoras, mas também figuras de autoridade.

Investigações atuais sobre o desenvolvimento socio-emocional na infância têm apontado para o papel das primeiras e principais relações na vida da criança na expressão destas emoções, sobretudo, para a qualidade das relações com os pais, quando estas relações são marcadas por reciprocidade, sensibilidade e limites. A criança, ao sentir-se segura com, e na sua própria família, adquire estratégias para regular e cuidar das suas próprias emoções mais angustiantes e, assim, ganhar espaço para conseguir pensar o outro, para estar atenta ao outro, para ser mais flexível, tornando-se hábil para compreender e responder ao porquê do mal-estar e das emoções da outra pessoa.

Assim, conjugar o verbo empatizar na primeira pessoa do singular, dizer “empatizo contigo”, pode associar-se a atitudes mais pró-sociais da criança. Esta é uma capacidade que começa por ser construída em família, manifestando-se em interações mais positivas, colaborativas e empáticas das crianças com os seus pares, amigos e não só.

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