100 vezes Ava Gardner, o tigre de Hollywood

Era uma mulher inteligente que procurou cultivar-se academicamente e que não tinha ambições nenhumas de ser actriz.

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The killers DR

Ava Gardner, que segundo François Truffaut (e tanta outra gente... certamente) era a mulher mais bonita do cinema, faria este sábado 100 anos. Costumo pensar na Rita Hayworth, na Lana Turner e na Ava Gardner como o triângulo absoluto da beleza da velha Hollywood. Ao invés da Rita e da Lana, que, para mim, são as duas belezas supremas, não sei se a Ava seria a terceira no pódio. Afinal, existem as Hedy Lamarrs e as Grace Kellys. Sucede que a Ava é um símbolo sexual da mesma época que as outras duas (anos 40 e 50), além de ser amiga de Lana. Acabo, assim, por correlacionar as três. E é engraçado que a Lana era loira (mas era naturalmente arruivada), a Rita era ruiva (mas nasceu morena) e a Ava morena (mas, quando muito pequena, era loira).

A Ava é a que tem a beleza mais espectacular das três, no contest. Tem um rosto exótico, singular e, diria mesmo, masculino de tão vincado e duro que é (o seu queixo com covinha é lendário). Ela não deé uma beleza propriamente delicada. Das três, eu diria também que é a melhor actriz. Todas elas são de talento modesto, mas Ava tem uma actuação notável em Mogambo (1953), um dos seus filmes mais conhecidos: não é um dos melhores do John Ford, mas Ava rouba o filme a um envelhecido e apático Clark Gable e a uma pudica e elegante Grace Kelly, sua grande amiga na vida real (ver estas duas belezas juntas - uma desalinhada, felina, outra, uma bonequinha frígida de porcelana - é demasiado para os meus olhos e obviamente uma indecisão para o pobre do Clark).

A Lana e a Ava eram duas actrizes do mais glamoroso dos estúdios, a MGM. Não obstante, eu observo que o estúdio nunca aproveitou tão bem a Ava como a Lana. Tirando Mogambo, os filmes mais importantes da morena foram feitos fora dos portões da casa do leão: o primeiro é o noir Os Assassinos (1946), o melhor filme da sua carreira, que catapulta Ava para o estrelato definitivo juntamente com um robusto Burt Lancaster. Ela não aparece muito mas está magnética como femme fatale com voz de criança (Ava não tem uma voz muito melhor que a da Elizabeth Taylor...). E, mais uma vez, a sua comparação com Lana e Rita é inevitável: também no ano de 1946, estas duas fizeram de femme fatales em noirs, Rita em Gilda e Lana em O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes.

Outro filme importante é A Condessa Descalça (1954), onde a personagem de Ava é inspirada (segundo rumores) na vida de... adivinhem? Rita Hayworth. Por fim, vale destacar A Noite de Iguana (1964), onde Ava está efectivamente muito competente. O engraçado é que, ao contrário da artificialidade glamorosa de Lana, Ava, conhecida, provavelmente devido ao seu olhar de felina, como “o animal mais bonito do mundo”, tem na sua filmografia algo de “natural”, “solero” e “selvagem”. Iguana e Mogambo passam-se em África; Pandora (1951) passa-se em Tossa de Mar, Catalunha, com cenários reais (Ava adorava Espanha); em A Condessa Descalça, a actriz é uma bailarina de flamenco.

Ava não é tão conhecida pelos seus filmes como pela sua vida vivida ao limite, repleta de noitadas, álcool, touradas e, sobretudo, pelo seu lendário e tumultuoso casamento com Frank Sinatra. Era uma mulher inteligente que procurou cultivar-se academicamente e que não tinha ambições nenhumas de ser actriz. Considerava-se uma actriz medíocre. O seu objectivo inicial era ser secretária mas era inevitável que a sua beleza a lançasse para a boca do leão da MGM e este a catapultasse para a tela, imortalizando aquele olhar verde fatal.

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