Serão os professores a decidir se a greve também afecta as avaliações
Decisão será tomada em plenário marcado para sábado durante manifestação em Lisboa, mas impacto prático nas escolas será diminuto contido por uma alteração recente na lei.
Os professores que participem na manifestação convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (Stop) para o próximo sábado, em Lisboa, vão ser chamados a decidir se a greve iniciada na semana passada vai ser prolongada e se esta terá também impacto sobre as reuniões de avaliações dos alunos que, na maioria das escolas, acontecem na próxima semana.
“Os colegas é que vão decidir democraticamente”, garante o dirigente do Stop André Pestana, reservando a discussão para um plenário que acontecerá durante a manifestação de professores que tem a praça do Marquês de Pombal como ponto de encontro. O sindicato já tinha anunciado que esse seria o momento para decidir se a greve, iniciada no dia 9, iria prosseguir. Da discussão fará parte também o impacto do protesto sobre as avaliações dos alunos.
Os conselhos de turma para decidir as notas dos estudantes no 1.º período estão marcados, na maioria das escolas, para a próxima semana, após o final das aulas. Em algumas escolas, as reuniões já começaram esta semana e “para já, sem grandes impactos”, segundo o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira. O pré-aviso de greve do Stop cobre as horas lectivas e “tem havido cuidado a escolher os horários” para evitar faltas dos docentes que se juntaram ao protesto convocado pelo mais jovem sindicato de professores.
Qualquer que seja a decisão, o impacto prático da greve convocada pelo Stop sobre as avaliações deverá ser diminuto. Uma alteração recente à lei permite que, quando um professor falte a uma reunião de avaliação, devido a greve ou a outro motivo, o conselho de turma possa ser convocado para data posterior, funcionando nessa altura independentemente do número de docentes presentes.
Alteração legal de 2018
Essa mudança seguiu-se a uma greve, às reuniões de avaliação dos anos de escolaridade não sujeitos a exame, convocada pela Fenprof em 2018. Na altura, o Ministério da Educação avançava que a taxa de adesão ao protesto era “inferior a 10%”, mas que, apesar desta reduzida percentagem, “cerca de 90% dos alunos" estavam por avaliar. Isto porque a lei estabelecia que bastava a falta de um dos professores para que o conselho de turma tivesse que ser adiado.
A greve iniciada a 9 de Dezembro foi convocada pelo Stop após o Ministério da Educação ter apresentado às estruturas sindicais propostas no sentido de se criarem procedimentos municipais de colocação de professores, que passariam por a sua distribuição por escolas ser feita por conselhos locais de directores, em função dos perfis dos docentes.
As duas maiores estruturas sindicais de professores, Fenprof e FNE, e outros oito sindicatos independentes não aderiram a esta greve. “Não tem sentido, neste momento, entrarmos em determinado tipo de acções absolutamente radicalizadas num momento em que está suspensa a negociação”, justificou o líder da Federação Nacional de Professores, Mário Nogueira. Esta plataforma sindical optou por convocar uma manifestação nacional para 4 de Março.
O Stop formalizou, entretanto, a extensão dos pré-avisos de greve para as próximas semanas, entre 17 e 23 de Dezembro, 26 e 31 de Dezembro e também de 2 a 6 de Janeiro, admitindo que o protesto possa ser estendido “por todo o mês de Janeiro”. O sindicato anunciou que esta greve seria mantida “por tempo indeterminado”. “Apenas estamos a formalizar os requisitos legais” para estender os pré-avisos até ao próximo mês, explica o dirigente André Pestana.
Nas escolas, o protesto “está a criar muitas dificuldades”, admite Manuel Pereira, da ANDE: “Como é uma greve por tempos lectivos, há sempre um professor a faltar e uma turma sem aulas”.
"Isso está a afectar as crianças"
Os “maiores constrangimentos”, diz, por seu turno, Filinto Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, estão a ser sentidos no pré-escolar e no 1.º ciclo. “Acontece que um professor titular falta à primeira hora da manhã. Ele só perde uma hora de salário, mas sem docente nós não podemos permitir que as crianças entrem na escola e as famílias acabas por levá-las embora. Quando o professor chega, não tem alunos”, conta. “Isso está a afectar as crianças e causa insegurança aos pais”.
Ainda assim, Filinto Lima considera “prematuro um balanço” do impacto desta greve, porque há “situações muito diversas”: escolas “bastante afectadas” e outras onde “não se passa nada”.
Esta terça-feira, o dirigente do Stop André Pestana deu conta de que “a greve está em crescendo” e que assim continuará até sábado, sendo a mobilização particularmente forte nas regiões do Grande Porto, Grande Lisboa e Algarve.