TikTok promove automutilação e distúrbios alimentares a adolescentes, diz estudo

Não demorou mais de três minutos depois do registo para que fosse recomendado conteúdo sobre suicídio ou emagrecimento aos participantes do estudo conduzido pela organização britânica.

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A aplicação de vídeo é utilizada por mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo Solen Feyissa/Unsplash

Se o TikTok e os seus desafios virais já preocupavam pais e profissionais de saúde, agora um novo estudo vem provar que o algoritmo da rede social chinesa promove mesmo a automutilação e distúrbios alimentares a adolescentes. De acordo com a publicação da organização britânica dedicada ao “ódio digital” Center for Countering Digital Hate (CCDH), só são mesmo precisos alguns minutos para o sistema recomendar vídeos sobre estas temáticas.

O estudo foi realizado com um grupo de participantes da Austrália, Canadá, EUA e Reino Unido que se registou na rede social como tendo 13 anos, a idade mínima para aderir à plataforma. As contas foram criadas como “normal” ou “vulnerável”, e alguns utilizadores escreveram “perder peso” no nome de registo — a CCDH explica, no relatório disponibilizado ao público, que é comum encontrar estes termos no nome de utilizador dos internautas que procuram conteúdo relacionado com alimentação e emagrecimento.

Depois de criar a conta, cada utilizador “parou brevemente” em vídeos sobre imagem corporal, alimentação e saúde mental, colocando também um gosto nessa mesma publicação. Foi esse o comportamento de cada participante durante os primeiros 30 minutos de usou do TikTok, de forma a perceber a eficácia do algoritmo baseado em recomendar conteúdo.

Nas contas “normais”, avançam os autores do estudo, não demorou mais de três minutos até que fosse recomendado conteúdo sobre suicídio e os distúrbios alimentares seriam tema dos vídeos em oito minutos. “Os resultados são o pesadelo de todos os pais”, lamenta a responsável Imran Ahmed. E acrescenta: “O feed dos jovens é bombardeado com conteúdo prejudicial que tem um impacto erosivo e cumulativo na forma como estes percepcionam o mundo à sua volta, a sua saúde física e mental.”

A maioria dos vídeos sobre saúde mental — um dos tópicos mais comuns no TikTok — consistiam em indivíduos a partilhar a sua experiência com perturbações de ansiedade e inseguranças. Já o conteúdo sobre imagem corporal é ainda mais perigoso, avisa o estudo, com contas de utilizadores de 13 anos a receberem recomendações de vídeos sobre bebidas para emagrecer ou cirurgias plásticas para reduzir a gordura abdominal.

Um dos participantes do estudo contou ter visto um vídeo onde a utilizadora dizia “estar a passar fome pelos outros” — um conteúdo com mais de 100 mil “gostos”. A cada 206 segundos, reforça o estudo, cada uma das contas dos quatro países recebeu conteúdo que mostrava danos contra o próprio ou distúrbios alimentares. A hashtag "eating disorder" conta mais de 13.2 mil milhões de visualizações, diz o relatório.

E ao contrário de o que seria suposto, os resultados são ainda mais dramáticos para as contas “vulneráveis”, a receber três vezes mais conteúdos sobre imagem corporal ou saúde mental do que os utilizadores registados como “normal”. Sobre suicídio e automutilação, os vídeos foram 12 vezes mais frequentes para estes participantes. A pesquisa, contudo, não clarifica o tom destes vídeos: ou seja, se eram histórias de recuperação ou conteúdo negativo.

Em resposta ao estudo, em comunicado citado pelo The Guardian, um porta-voz do TikTok, detido pela empresa chinesa ByteDance, assegurou que os resultados da CCDH não reflectem a experiência ou os hábitos de visualização dos utilizadores da vida real. De lembrar que a aplicação de vídeo é utilizada por mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo.

“Estamos constantemente a consultar especialistas de saúde, removemos os vídeos que violam a nossa política, e damos acesso a apoio para alguém que precise”, argumenta. Mas reconhece: “Sabemos que o conteúdo sensível é único para cada um e continuamos focados em criar um espaço confortável para todos, incluindo para quem escolhe este espaço para partilhar histórias de recuperação e educar os outros para estes assuntos importantes.”

Nas directrizes do TikTok pode ler-se que a rede social promete banir todo o conteúdo que promova o suicídio, a automutilação, bem como qualquer vídeo que mostre comportamentos de alimentação prejudiciais. Pais e profissionais de saúde continuam a pedir à rede social que respeite as suas próprias regras.

Há poucas semanas, o Reino Unido anunciou que irá mesmo tornar crime qualquer incentivo a automutilação na Internet. O novo estudo da Organização Mundial de Saúde dava também conta que 47,6% dos adolescentes portugueses recorrem às redes sociais quando querem fugir de sentimentos negativos.

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