Parlamento rejeita inquérito do Chega à pressão de Costa sobre ex-governador

Só Iniciativa Liberal alinhou com proposta de comissão parlamentar de inquérito sobre alegada interferência do primeiro-ministro junto do Banco de Portugal.

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André Ventura assumiu esperar mais apoio por parte do PSD Nuno Ferreira Santos

Da esquerda à direita, as bancadas parlamentares rejeitaram a proposta do Chega sobre a criação de uma comissão de inquérito à “eventual ingerência” do primeiro-ministro na autonomia do Banco de Portugal para “proteger” Isabel dos Santos, filha do antigo Presidente de Angola. Só a Iniciativa Liberal prometeu não inviabilizar a proposta.

Na apresentação da iniciativa, o líder do Chega referiu-se ao telefonema que António Costa terá feito ao ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, a pedir para “não tratar mal” Isabel dos Santos nas decisões que tinha de tomar sobre a banca. O outro motivo é o da suposta tentativa de o primeiro-ministro “interferir” junto de Bruxelas no processo de resolução do Banif.

António Costa “pode ter cometido não só interferência num regulador, mas outros ilícitos de natureza criminal”, advogou André Ventura. À esquerda, a bloquista Mariana Mortágua lembrou que já existiu uma comissão de inquérito sobre a venda do Banif – o que também foi lembrado pelo PCP – e que a versão do telefonema, relatada num livro do ex-governador, já foi desmentida.

O mesmo argumento foi dado pelo socialista Carlos Pereira. “A proposta é baseada num livro de pequenas vinganças do ex-governador, não se baseia em factos, mas sim em suposições”, disse, rejeitando a ideia de que o Governo tenha protegido a empresária Isabel dos Santos. “É um molhe de brócolos sem nenhuma consistência”, sustentou.

Só a Iniciativa Liberal e o PSD (em parte) discordaram. O deputado liberal Carlos Guimarães Pinto salientou a importância do tema das interferências políticas dos governos de Costa nos reguladores e enumerou uma série de exemplos.

O PSD, pela voz de Hugo Carneiro, admitiu que as declarações do primeiro-ministro sobre o telefonema ao antigo governador, em 2017, expuseram “o que pode ter sido interferências inaceitáveis sobre um regulador”. Mas o deputado escudou-se no conjunto de 12 perguntas dirigidas a António Costa sobre o caso, e ainda não respondidas, para não alinhar na intenção do Chega.

Perante as posições assumidas, Ventura quis sublinhar o seu isolamento: “Parece que toda a gente se quer unir para proteger António Costa e diabolizar Carlos Costa.” Quanto ao PSD, assumiu: "Esperava mais."

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