Biden e Trump atentos a eleição na Georgia, com 2024 no pensamento
Segunda volta da eleição na Georgia para o Senado dos EUA é entre um antigo atleta apoiado por Donald Trump e um reverendo cuja vitória reforçará a maioria do Partido Democrata.
O último lugar em aberto no Senado dos Estados Unidos da América vai ser preenchido nesta terça-feira, na Georgia, na segunda volta de uma eleição em que os candidatos do Partido Democrata e do Partido Republicano são ambos afro-americanos — uma novidade no estado do Sul do país, marcado por um passado de escravatura e segregação racial.
Com a questão da maioria no Senado já decidida para os próximos dois anos — depois de o Partido Democrata ter assegurado, nas eleições de 8 de Novembro, a conquista de 50 lugares contra 49 do Partido Republicano —, a corrida eleitoral na Georgia é vista como um teste importante à crescente influência dos eleitores moderados e progressistas na política do estado e à viabilidade de Donald Trump como candidato à eleição presidencial de 2024.
Outro ponto de interesse é saber, exactamente, que maioria vai ter o Partido Democrata no Senado até ao fim do mandato de Joe Biden.
Nos últimos dois anos, algumas propostas do Presidente dos EUA foram rejeitadas ou reformuladas por pressão de dois senadores democratas de uma ala conservadora moderada, Joe Manchin e Kyrsten Sinema. Isto aconteceu apesar de o partido ter contado, no mesmo período, com uma maioria de 50-50, assente no voto de desempate da vice-presidente dos EUA e presidente do Senado por inerência, Kamala Harris.
Com Manchin e Sinema prestes a enfrentar duras eleições para tentarem ser reeleitos, em 2024, é quase certo que Biden e o Partido Democrata vão ter ainda mais dificuldade para convencerem os dois senadores a aprovar propostas progressistas. Nesse cenário, a eleição de Warnock deixará os democratas com uma maioria de 51-49 e um pouco menos dependentes da sua ala conservadora moderada.
Warnock favorito
O candidato republicano, Herschel Walker, é um antigo jogador de futebol americano da década de 1980, cuja popularidade no estado rivaliza apenas com a de Jimmy Carter — o Presidente dos EUA entre 1977 e 1981 e o único nascido e criado na Georgia.
Apoiado por Trump, Walker apresentou-se aos eleitores republicanos, nas eleições primárias do seu partido, como um acérrimo opositor do direito ao aborto, defendendo a proibição da prática sem excepções para os casos de violação e de incesto. A sua campanha para a eleição geral, em Novembro, ficou marcada por gaffes e escândalos pessoais, tendo sido acusado, por duas mulheres, de as ter pressionado a abortar.
O favorito é o candidato do Partido Democrata e senador em exercício, Raphael Warnock — o pastor da Igreja Baptista de Ebenezer, a mesma que Martin Luther King Jr. liderou entre 1960 e 1968, quando foi assassinado.
Na eleição de 8 de Novembro, Warnock recebeu mais 37.675 votos do que Walker, mas foi necessário realizar uma segunda volta porque nenhum dos candidatos chegou aos 50%, numa repetição do que aconteceu em 2020.
Nas eleições desse ano, que ficaram marcadas pelas queixas infundadas de fraude eleitoral lançadas por Trump, Warnock também teve de disputar uma segunda volta com a sua adversária republicana da altura, Kelly Loeffler, numa eleição especial para determinar quem iria cumprir os últimos dois anos de mandato do republicano Johnny Isakson, que resignara por motivos de saúde.
Desta vez, o senador democrata e o seu opositor republicano concorrem a um mandato completo, de seis anos.
Menos Trump
Ao contrário do que se verifica em estados como o Wyoming ou a Virgínia Ocidental, onde o “trumpismo” é muito popular no eleitorado republicano, a Georgia tem feito um caminho oposto. Em 2020, na eleição presidencial, Biden foi o primeiro candidato do Partido Democrata a vencer na Georgia desde 1992; e tanto Warnock como o outro candidato do Partido Democrata ao Senado, Jon Ossoff, derrotaram os seus opositores republicanos.
Nas eleições do mês passado, a aversão a Trump numa fatia importante do eleitorado republicano na Georgia ficou patente na reeleição do governador, Brian Kemp, e do secretário de estado, Brad Raffensperger. Os dois republicanos venceram de forma clara, nas primárias do seu partido e nas eleições gerais, depois de terem resistido a fortes pressões de Trump, em 2020, para não certificarem a vitória de Biden.
A Georgia continua a ser “culturalmente republicana”, mas os seus eleitores “não são meras máquinas partidárias”, disse ao Washington Post o republicano Steve Williams, no domingo. Williams, de 33 anos, um conservador e crítico assumido das guerras culturais, das questões relacionadas com a identidade de género e com o discurso politicamente correcto, votou em Kemp para governador e vai votar em Warnock para senador.
O Partido Republicano “não pode esperar que os eleitores votem em candidatos que não prestam”, disse Williams, numa referência a Walker, o candidato apoiado por Trump.