Metalpoint fecha portas no final do ano após 15 anos ao serviço do metal
Com o encerramento da sala situada no Centro Comercial Stop, deixa de haver na cidade um espaço 100% dedicado ao metal. O concerto de despedida está marcado para 23 de Dezembro.
Foram 15 anos de dedicação e ao serviço do metal e seus subgéneros, mas chegou a hora de encerrar um ciclo de longevidade rara. Até ao final do ano, o Metalpoint vai fechar as suas portas definitivamente. E isso vai deixar marcas no Porto e em toda a comunidade metaleira nacional. Deixará de existir uma sala de concertos 100% dedicado ao género com todas as condições para as bandas poderem concentrar-se apenas na performance de palco sem se preocuparem com a logística. Até ao encerramento, ainda há mais duas oportunidades para fazer a despedida.
“Ponderei todos os factores. Isto não foi uma decisão tomada de um dia para o outro e não foi uma decisão fácil de tomar. Mas, uma vez na vida, tive de optar pela vida pessoal e prescindir do motivo que me levou a criar o Metalpoint”, explica ao PÚBLICO o mentor do projecto, Hugo Louro de Almeida.
É fácil de comprovar pelo tom pesaroso da voz do fundador da sala que a decisão não foi fácil. Mas a lista de prós e contras já estava a ser elaborada há “algum tempo”. No topo dos tópicos desfavoráveis estava o factor incompatibilidade com a sua agenda pessoal e profissional. O Metalpoint sempre foi “um segundo emprego”, mas que muitas vezes exigia mais horas de trabalho do que qualquer outra actividade. Em noites de concertos poucas vezes conseguia ter um minuto de descanso – acumulava o papel de técnico de som, barman (sempre que necessário), assistente de palco, programador e mestre de cerimónias.
A decisão foi tomada por ter atingido o ponto de “saturação”, por força do “excesso de cansaço”. Mais recentemente, também contribuiu saber que o futuro do Centro Comercial Stop, onde ensaiam centenas de músicos da cidade e onde está a sala de concertos, pode estar comprometido por existirem problemas estruturais que põem em causa a segurança do edificado. “Veio reforçar a minha decisão, que já era anterior”, sublinha. Ao mesmo tempo, ainda acumula funções como baterista em mais uma mão-cheia de bandas.
Resta-lhe a esperança de que alguém agora tente preencher a lacuna que fica em aberto: “Oxalá isso aconteça, que eu também preciso de sítios para tocar”, atira.
Um caso único no metal
Durante 15 anos ininterruptos de actividade – um fenómeno para uma sala do género – passaram pelo espaço cerca de duas mil bandas nacionais e internacionais, todas com raiz no vasto universo do metal – composto por um número infindável de subgéneros – e de outras sonoridades próximas.
Há mais espaços no Porto, como são exemplo o Hard Club, o Barracuda ou o Woodstock69, com porta aberta para o metal. O mesmo acontece noutras cidades. Mas, exclusivamente dedicado à música ao vivo e ao género em causa, com as condições de logística de que dispõe, é caso único no país.
“Atrevo-me a dizer que [é caso único] quase no mundo inteiro”, arrisca Zé Pedro, baixista dos portuenses Holocausto Canibal, e de outras bandas como Grunt ou The Ominous Circle, que já lá tocou umas duas dezenas de vezes. O músico, que com os seus projectos musicais já fez tournées pela Europa, Estados Unidos ou Rússia, tem termo de comparação enquanto músico, mas também enquanto promotor de concertos. O Metalpoint sempre foi o seu destino de eleição para levar bandas de “uma segunda linha” próprias para uma sala com capacidade para 200 pessoas. Deixa de existir um espaço com estas características. “Pode ser uma afirmação um pouco radical, mas, se calhar, a longo prazo, pelo menos no meio do metal, o término do Metalpoint trará muito mais danos e repercussões do que o término do próprio Stop. Porque para salas de ensaio creio que serão encontradas soluções para viabilizar os ensaios na cidade. Agora, ter uma sala de metal e com um obreiro como o Hugo foi acho que será utópico”, antevê.
“O que paira no ar em todos os habitués é uma tristeza profunda. Não me lembro de assistir a isto, uma tristeza quase global e transversal à malta toda. E estou certo de que agora os concertos que faltam em agenda serão experiências um bocado libertadoras, por um lado, mas bastante emocionais. Será complicado”, afirma.
Victor Matos, guitarrista que em 1986 fundou os Web, é um dos que se enquadram no grupo de pessoas que já sentem saudades do Metalpoint. Passou pelo palco da sala mais de uma dezena de vezes, “metade delas com casa cheia”. “Fecha uma das salas mais míticas do heavy metal nacional onde se lançaram muitas bandas”, afirma, sublinhando o trabalho levado a cabo por Hugo Louro de Almeida, sobre quem diz ter-se dedicado à causa “por amor à camisola” e não atrás “do lucro”. Até ao encerramento, tentará marcar presença pelo menos em um dos dois últimos eventos agendados para o Metalpoint: o Invicta Metal Mass, de 1 a 3 de Dezembro, e a habitual celebração pré-Natal do Not a X Mas Fest, onde tocam também os Holocausto Canibal, com novo álbum e a celebrar 25 anos de actividade.