Alcochete e Santarém (sem Portela) fora das opções de Moedas e Moreira para o novo aeroporto
Entre as opções em cima da mesa, Montijo é a preferida do presidente da Câmara do Porto. Carlos Moedas não fecha posição, mas quer uma opção dual, afastando Alcochete e Santarém.
Os presidentes das câmaras de Lisboa e Porto, Carlos Moedas e Rui Moreira, mostraram-se esta terça-feira pouco convencidos das vantagens de duas das cinco soluções que a comissão técnica independente vai estudar para a localização do novo aeroporto de Lisboa, e que passariam pela escolha de Alcochete ou Santarém para locais para aquela infra-estrutura. Estas duas localizações também não agradam ao antigo ministro do Planeamento, João Cravinho, um defensor da Ota – uma solução que por agora não está em cima da mesa da comissão.
Moedas, Moreira e Cravinho falavam na conferência organizada pelo PÚBLICO e pelo Conselho Económico e Social (CES) “Novo aeroporto. Tempo de decidir”, que decorre ao longo desta terça-feira, em Lisboa.
No painel “A Norte ou a Sul do Tejo?”, Carlos Moedas não quis escolher uma localização em concreto entre as cinco que estão em estudo, mas na sua intervenção ficou claro o que prefere e o que não prefere. “Para Lisboa é importante a rapidez e a proximidade”, disse o presidente da maior autarquia do país.
Moedas acrescentou que a solução melhor do ponto de vista da capital é “manter o aeroporto em Lisboa mas com tráfego muito mais diminuído do que tem hoje”. Isto porque, “ter um aeroporto em Lisboa é um activo”, disse, explicando que deve continuar a existir um aeroporto na cidade “mas não a poluir como agora”. O autarca fez questão de não escolher uma das soluções, mas as suas declarações excluem à partida a solução só Alcochete e a solução só Santarém.
O presidente da Câmara Municipal do Porto defendeu que “Montijo parece ser a melhor solução” até porque, defendeu: “se temos um concessionário que diz que, se for no Montijo, não precisamos de gastar dinheiro, acho que não devemos desprezar essa solução”.
Referindo-se à localização Alcochete, o autarca da segunda maior cidade do país acrescentou não lhe parecer que haja “procura que justifique um investimento dessa natureza”. Além disso, Rui Moreira deixou a dúvida: “será que Lisboa quer um aeroporto a 85 quilómetros?” e um aviso: “Se quiserem fazer um aeroporto em Santarém façam, mas não contem com a malta do Norte”.
Ou seja, nem a hipótese Santarém sozinho (a quinta opção em estudo) nem a opção Alcochete (a terceira em estudo), contam com o apoio do líder da câmara do Porto.
No mesmo painel interveio o ex-ministro do Planeamento João Cravinho, que se mostrou claramente a favor de uma solução a Norte do Tejo, mas excluindo Santarém. Alcochete é uma “solução infeliz” e Santarém “tem alguma bizarria”. “Montijo é diferente. São os interesses financeiros da Vinci”, disse o ex-ministro que é um defensor da solução Ota. O Estado, diz, “vendeu a soberania aeroportuária”.
Ainda noutro debate na mesma conferência, centrado na análise às vantagens (ou desvantagens) de uma solução dual, a presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal defendeu que, do ponto de vista do turismo, o aeroporto que serve Lisboa deve estar “no máximo a 30 minutos de distância”. Uma garantia que não é oferecida por nenhuma das soluções em cima da mesa, explicou Cristina Siza Vieira, lembrando que só a Portela fornece esse tempo de percurso importante para o turismo.
Perante as preocupações manifestadas por Acácio Paiva, da associação Zero, quanto ao ruído provocado pela manutenção do aeroporto na Portela, a responsável do turismo argumentou que nenhuma solução será isenta de consequências e ironizou que a única que garantiria essa ausência de ruído era se o aeroporto fosse na lua. O responsável da Zero tinha antes apresentado números que indicavam que mesmo durante o pico da pandemia e com a redução de voos, os níveis de ruído à volta da Portela eram superiores ao que a lei permite.
Rosário Macário, que será uma das coordenadoras da comissão técnica independente para o estudo da localização do novo aeroporto, admitiu que ainda não existem aviões para voos comerciais sem ruído, acrescentado que qualquer que seja a solução irá sempre afectar alguém.
António Pais Antunes, professor catedrático da Universidade de Coimbra, que falou sobre o futuro da aviação apresentou um cenário de baixo crescimento do número de voos na Europa e também para Portugal. “No cenário base, o crescimento médio anual no número de voos é só de 0,8% (sem considerar qualquer alteração na TAP e sem reforço da capacidade aeroportuária)”, disse o professor.
Ou seja, o futuro é de “crescimento mas em taxas mais moderadas que no passado”. Ainda haverá crescimentos mais intensos até que esteja concluída a recuperação do covid, mas “depois da recuperação do covid” as taxas corrigem para valores mais modestos.
Perante esta evolução do mercado da aviação, Pais Antunes defendeu que “o problema da capacidade aeroportuária em Portugal tem sobretudo a ver com a baixa qualidade do serviço de aeroporto de Lisboa”, acrescendo que “duas pistas independentes (em um ou dois aeroportos) são certamente suficientes para servir a procura” esperada. Com Luís Villalobos
Notícia actualizada às 15h42 com informação sobre o futuro da aviação