Carlos Costa fala sobre chamada do primeiro-ministro: “Foi muito agreste”

Ex-governador do Banco de Portugal foi entrevistado esta sexta-feira pela CNN Portugal.

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Carlos Costa na apresentação do livro LUSA/MIGUEL A. LOPES

O ex-governador Carlos Costa reafirmou esta sexta-feira as acusações ao primeiro-ministro sobre alegadas pressões por parte de António Costa para não retirar Isabel dos Santos do BIC, garantindo que irá responder pelo que afirmou “onde quer que seja”.

A posição de Carlos Costa foi transmitida, esta sexta-feira, em entrevista à CNN, na qual o antigo governador do Banco de Portugal (BdP) confirma o telefonema que terá recebido do primeiro-ministro, António Costa, depois de uma reunião do supervisor com Isabel dos Santos.

“Mantenho o que disse e responderei onde quer que seja por aquilo que disse”, garantiu.

Carlos Costa reiterou que António Costa o contactou através de um telefonema, após uma reunião que o antigo governador teve com Isabel dos Santos, com o sócio da empresária angolana Fernando Teles e com o director do departamento de supervisão Carlos Albuquerque.

“O telefonema foi muito curto, muito agreste, mas ficou muito marcado porque raramente na minha vida recebi um telefonema tão agreste”, afirmou o ex-governador.

“É importante realçar que o telefonema podia ter tido lugar. O que não era necessário era disparar sobre o ex-governador por ele relatar que o telefonema teve lugar”, defendeu.

Questionado sobre a carta de António Costa enviada para Jean-Claude Juncker, na altura presidente da Comissão Europeia, e para Mario Draghi, então presidente do Banco Central Europeu (BCE), em Dezembro de 2015, Carlos Costa afirmou: “Seria bom que tivéssemos falado, que tivéssemos ponderado os termos da carta, sei que a carta fazia parte de uma outra luta política sobre a saída ‘limpa’ ou não [do programa de ajuda externa]”.

“O relacionamento entre as autoridades de supervisão europeias e o sistema bancário naturalmente ficou condicionado por esta ideia”, disse, acrescentando que a missiva “causou surpresa [entre as autoridades europeias] e surpresa é um termo diplomático para algo de mais importante”.

Quando questionado sobre as declarações de alguns dos responsáveis dos bancos portugueses esta semana de que não tencionam ler o livro “O Governador, que resulta de um conjunto de entrevistas do jornalista do Observador Luís Rosa a Carlos Costa, e que tem provocado polémica, o antigo governador foi peremptório: “Eu julgo que seria muito interessante que os banqueiros lessem o capítulo relativo à entrada da ‘troika’ e ao programa de estabilização do sistema financeiro. O Banco de Portugal evitou uma nacionalização do sistema bancário se tivéssemos seguido o modelo que estava a ser preconizado”, afirmou.

“Tenho a certeza de que os banqueiros deviam ler pelo menos esse capítulo para perceberem que estiveram à beira do precipício”, acrescentou.

Carlos Costa disse ainda “ter pena” pela ausência de figuras socialistas com as quais contava na apresentação do livro “O Governador” – no qual estiveram nomes da direita como Cavaco Silva e Ramalho Eanes, o antigo primeiro-ministro Passos Coelho e vários seus ex-ministros, assim como o presidente do PSD, Luís Montenegro, entre outros –, considerando que “desequilibrou” a audiência.

António Costa anunciou que irá processar o antigo governador, a quem acusou de ter escrito um livro com mentiras e deturpações a seu respeito e de ter montado uma operação política de ataque ao seu carácter, depois de este ter reafirmado que houve “tentativa de intromissão do poder político junto do Banco de Portugal”.