Autoeuropa parou com primeira greve parcial por aumentos extraordinários

Adesão à greve que a Comissão de Trabalhadores quis desmarcar foi suficiente para impedir a laboração. Há mais três momentos de paralisação agendados até ao final da tarde desta sexta-feira.

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Autoeuropa: a adesão parou a montagem final, a pintura, as prensas e outras áreas da fábrica Miguel Manso (Arquivo)

A Volkswagen Autoeuropa, em Palmela, parou esta tarde, durante duas horas, na sequência da greve parcial que os sindicatos mantiveram, contrariando a vontade da Comissão de Trabalhadores (CT), que queria a sua anulação. A adesão foi suficientemente forte para travar diversas áreas da fábrica, mostrando que muitos trabalhadores mantêm o descontentamento apesar da disponibilidade manifestada pela administração para voltar às negociações para um aumento extraordinário de salários.

Até hoje, só tinha havido uma paragem por greve naquela fábrica do grupo alemão de automóveis com sede em Wolfsburgo. Foi em pleno Verão de 2017, num protesto contra o trabalho obrigatório aos sábados. Nessa altura, a empresa acabou por impor essa regra, num horário transitório que vigorou até ao final de 2018, altura em que os trabalhadores e a gerência chegaram finalmente a um acordo de empresa.

Desta vez, a administração, que responde por 5100 trabalhadores, só fará um balanço da greve no final dos quatro períodos de paragem marcados pelos sindicatos e que terminam na sexta-feira.

No primeiro deles, entre as 15h20 e as 17h20 desta tarde, a adesão parou a montagem final, a pintura, as prensas e outras áreas da fábrica, segundo disse ao PÚBLICO um responsável do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul (Site-Sul).

Ainda esta quinta-feira, começará um novo período de greve de duas horas às 23h40, para o turno da noite, e na sexta-feira há mais dois momentos de greve, a começarem às 7h e às 15h20.

Num comunicado enviado às redacções, o mesmo sindicato considera que “esta forte adesão” no primeiro momento “é uma resposta” à administração VW Autoeuropa e a “quem tudo fez para desmobilizar a justa luta dos trabalhadores”.

Nas entrelinhas, está um “recado” à CT que, na segunda-feira, pediu a retirada do pré-aviso de greve, depois de a administração ter comunicado, a 72 horas do protesto, que estava disposta a negociar. Nem mesmo a mensagem de apoio da CT de Wolfsburgo, que enviou uma mensagem aos colegas de Palmela aplaudindo o cancelamento, travou, no entanto, um protesto que só se realiza por decisão sindical.

Em causa está a luta por uma melhoria salarial extraordinária, que os trabalhadores exigem para serem compensados por um dos melhores anos de sempre da produção em Palmela. Quando em Março aprovaram o acordo de empresa em vigor até 31/12/2023, os trabalhadores aceitaram um aumento de 2% este ano e de 2% no ano seguinte.

Porém, os pressupostos desse acordo alteraram-se significativamente, como tem vindo a defender a CT. Em primeiro lugar, porque o nível de produção ficará afinal 15% acima do previsto, devendo chegar às 230 mil unidades. Em segundo lugar, porque em Março não havia uma inflação galopante como agora.

Num primeiro momento, a gerência respondeu com uma proposta de prémio único e igual para todos, no valor de 400 euros, a pagar até ao final deste ano. Mas os trabalhadores rejeitaram essa saída e apoiaram a solução que estava a ser defendida pela CT. Esta pretendia um aumento de 5% com retroactivos a Julho, a pagar agora em Novembro e um aumento adicional aos 2% já esperados em 2023, de modo a cobrir toda a taxa de inflação que vier a verificar-se no final de 2022.

Administração e CT retomarão negociações no dia 25/11, sexta-feira. Até lá, vai ser preciso levar em conta o desfecho desta segunda greve na história da fábrica de Palmela. O PÚBLICO tentou falar com a CT, mas até ao momento da publicação desta notícia não teve sucesso nos contactos telefónicos.

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