Forças de segurança disparam contra manifestantes desarmados no metro de Teerão

Imagens do ataque no metro da capital surgem no segundo dia de um protesto para recordar as 1500 vítimas das manifestações de 2019, pretexto para centenas de manifestações e dezenas de greves.

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Imagem de um dos vídeo divulgados dos disparos no metro de Teerão

O enterro de Mahsa Amini aconteceu há 60 dias e desde então os iranianos nunca mais pararam de protestar contra o regime. Os protestos do metro de Teerão tornaram-se diários, com os passageiros a gritarem palavras de ordem nas plataformas e escadas rolantes – “Se não nos mantivermos juntos, seremos mortos um a um”, é o grito ouvido em alguns dos últimos vídeos partilhados nas redes socais. Esta quarta-feira, as forças de segurança do regime dispararam contra manifestantes desarmados no interior do metro: há imagens que mostram as pessoas a correr e a gritar ao som dos disparos numa plataforma e outras onde se vêem homens entrar nas carruagens e espancar alguns passageiros, incluindo mulheres sem hijab.

“Forças de segurança abrem fogo contra manifestantes desarmados no metro de Teerão, que tem sido palco de protestos durante os últimos 60 dias”, escreve no Twitter Roham Alvandi, historiador especialista em Irão e professor de História Internacional na London School of Economics and Political Science. “Apesar da brutalidade da República Islâmica os protestos e as greves continuam”, acrescenta, ao publicar um dos vídeos dos disparos, especialmente impressionante pelo desespero dos gritos de quem foge. “Mais imagens horríveis de forças de segurança à paisana a espancarem pessoas no metro de Teerão”, escreve o mesmo analista, na legenda a um outro vídeo, este mostrando imagens do interior de uma carruagem.

Um outro vídeo, gravado a partir de uma carruagem, mostra o terror das pessoas que ali estão encerradas, com os olhos a arder pelo gás lacrimogéneo que antes foi lançado, muitas a bater nas portas, outras a chorar, ao mesmo tempo que se vão vendo imagens do exterior, numa plataforma, incluindo pelo menos um membro das forças de segurança que passa armado. Dentro e fora da carruagem, ouvem-se em diferentes momentos gritos de “Azadi” – Liberdade.

Estas imagens surgem no segundo de três dias de protestos em que os manifestantes querem lembrar os mortos do massacre de 2019, quando as autoridades reprimiram tão violentamente manifestações contra o aumento do preço de combustíveis que mataram 1500 pessoas em poucos dias. Embora nunca tenha deixado de haver protestos e gestos de desafio ao regime desde o enterro de Mahsa Amini, a jovem que tinha sido detida pela “polícia da moralidade” por alegado uso incorrecto do hijab (o obrigatório lenço islâmico), o apelo a recordar os mortos de 2019 deu à contestação actual um novo ímpeto.

Entre as centenas de protestos e dezenas de greves que assinalaram o início desta homenagem, pelo menos três manifestantes e dois membros das forças de segurança iranianas terão morrido na terça-feira: os manifestantes terão sido mortos pela polícia antimotim nas cidades curdas de Sanandaj e Kamyaran (onde um quarto homem ficou gravemente ferido e está internado num hospital), descreve o jornal online IranWire (fundado pelo jornalista iraniano-canadiano Maziar Bahari).

O mesmo site explica que os manifestantes atacaram uma base da temível milícia paramilitar Basij em Kamyaran e que um edifício municipal foi incendiado em Bokan, na província do Azerbaijão Ocidental.

Apesar de muitos analistas e activistas de direitos humanos iranianos argumentarem que a contestação ao regime iraniano sempre existiu, com maior ou menor intensidade, todos concordaram que a actual vaga é diferente de todas e constitui a mais séria ameaça à República Islâmica desde a sua fundação, em 1979. Para muitos, só a palavra revolução serve para descrever o movimento desencadeado pela morte de Amini e os próprios manifestantes reivindicam isso através do slogan “isto não são protestos, é uma revolução”.

Esta semana, o Presidente francês, defendeu exactamente o mesmo, sublinhando que “está a acontecer algo sem precedentes”. “Os netos da revolução estão a devorá-la e a fazer a sua revolução”, disse Emmanuel Macron, numa entrevista à radio France Inter depois de ter recebido três activistas de direitos humanos iranianas e a filha de Minou Majidi, uma mulher morta numa manifestação logo no início dos protestos, a 20 de Setembro.

A coligação de organizações não-governamentais Human Rights Activists in Iran contabilizava até terça-feira pelo menos 341 mortos vítimas da repressão do regime, incluindo 51 menores.

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