Paulo Raimundo explica salários baixos no PCP: “Não falamos de cor dos problemas, também os sentimos”
Na segunda entrevista como secretário-geral comunista, o novo líder garantiu que os militantes do partido estão “muito confiantes para as batalhas” que têm pela frente.
Paulo Raimundo, novo secretário-geral do PCP, explica os salários baixos com que o partido remunera os seus funcionários com a necessidade de evitar “falar de cor dos problemas” com que a generalidade da população portuguesa se depara.
Em entrevista à CNN Portugal esta segunda-feira – a segunda entrevista televisiva de Raimundo como líder comunista –, o sucessor de Jerónimo de Sousa comentou as declarações da dirigente do PCP, Margarida Botelho, que disse ao PÚBLICO que como funcionária do PCP recebe “750 euros limpos” por mês, o mesmo que o novo líder.
Questionado sobre se confirmava estes valores, Paulo Raimundo respondeu que “sim, sim, à volta disso”. De seguida explicou a razão para salários tão baixos. “Os funcionários do partido estão profundamente ligados à realidade social. Nós também sentimos”, por exemplo, os efeitos da inflação, explicou, já depois de anotar preocupação em especial com a subida de preços no cabaz alimentar e com a escalada nos juros e consequentes efeitos no crédito à habitação.
“Setenta e cinco por cento dos trabalhadores ganham menos de mil euros [por mês] e dois milhões ganham igual ou menos de 800 [euros]. Mal estaria um partido, com as nossas características, onde os seus funcionários falassem de cor dos problemas. Nós não falamos de cor dos problemas, também os sentimos”, justificou Raimundo, salientando a importância que representa para o partido as suas vozes poderem falar das dificuldades sentidas pelos portugueses com conhecimento de causa.
Sobre a dificuldade de suceder a Jerónimo, em particular num contexto de quebra eleitoral do PCP, que faz com que o partido detenha a menor representação parlamentar da sua história em democracia, o secretário-geral garantiu que todos no partido estão “muito confiantes para as batalhas que temos pela frente”.
Paulo Raimundo garante que nunca foi de ilusões quando o PCP estava em alta e que, portanto, também não é de decepções por o partido estar na mó de baixo em termos eleitorais: “Não é sempre a subir”, mas também “não é sempre a descer”. Para Raimundo, a Conferência Nacional do PCP do passado fim-de-semana, durante o qual foi eleito por unanimidade secretário-geral, deu mostras da “capacidade de renovação [do partido], mas também de rejuvenescimento”, atributos relevantes para a recuperação em perspectiva.
Falando novamente sobre a guerra na Ucrânia e a recusa do PCP em condenar a invasão russa iniciada em 24 de Fevereiro último, Paulo Raimundo assumiu que a posição do PCP “sobre a guerra é simultaneamente simples e complexa”.
“Simples porque somos contra a guerra, seja ela qual for. Complexa porque, e talvez sejam perigosos os tempos em que quem defende a paz é prejudicado, defendemos a paz desde o primeiro minuto. Há mais de 3000 dias que andamos a alertar para este problema”, afirmou, reiterando a ideia de que a invasão foi apenas mais um dos factores de escalada de um conflito militar iniciado em 2014.
Seja como for, Raimundo reconhece ser difícil perceber o posicionamento do PCP: “Compreendo a dificuldade de compreensão da nossa posição.”